Endometriose afeta 6,5 milhões de mulheres no Brasil. Entenda
A doença causa dores para menstruar, durante relações sexuais e infertilidade; apesar de não ter cura possui tratamento e controle
Saúde|Aline Chalet, do R7*
A endometriose afeta 6,5 milhões de mulheres no Brasil e 176 milhões no mundo, segundo um levantamento da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
A doença varia de incidência dependendo da região e estilo de vida das mulheres, mas 15% delas podem apresentar o quadro, afirma o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli.
O médico explica que a doença é caracterizada pela presença de células do endométrio, tecido de revestimento do útero, em outros órgãos da região abdominal, como bexiga, ovários, trompas e parte externa do útero.
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“Acreditava-se que a causa era a menstruação retrógrada, ao invés de ela descer, ela sobe para outros órgãos, mas foi observada a endometriose em fetos. Então, hoje temos teorias de que a mulher já nasce com a predisposição para a doença.”
Segundo ele, os hábitos de vida podem contribuir ou não para o desenvolvimento da doença. Falta de atividade física, obesidade, alimentação inflamatória e uso de contraceptivos que combinados, com progesterona e estrógeno.
A endometriose é inflamatória e proliferativa, ou seja, tende a se expandir com o passar do tempo se não for tratada. Ela causa dor para menstruar, dor durante relações sexuais e infertilidade.
As mulheres com a doença têm dificuldade para engravidar, pois o ambiente fica inflamado, um óbstáculo para a fixação do zigoto no endométrio. Além disso, o risco de abortamento é alto.
A dor durante a menstruação ocorre porque neste período o endométrio aumenta de tamanho. Já durante a relação sexual, o pênis empurra o colo do útero, repuxando o ligamento uterossacro, local de foco da endometriose.
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Apesar de não existir cura, existe tratamento cirúrgico e clínico, que consiste na interrupção da menstruação com anticoncepcionais apenas com progesterona e medicações anti-inflamatórias.
“Mesmo nos casos que tiramos o útero, às vezes se ficar apenas uma célula em algum outro lugar a endometriose pode voltar. Existe controle, mas a mulher vai ter que ficar sempre em vigilância.”
A doença costuma aparecer entre os 25 e 40 anos, mas pode acometer qualquer mulher em idade fértil. “Já cheguei a operar uma paciente com 14 anos", lembra o médico.
Após a menopausa, é raro que a doença se desenvolva e mulheres que já possuem costumam ter uma melhora no quadro.
“Mulheres que pensam em engravidar precisam primeiro tratar a doença, não adianta pensar em gravidez, pois você pode fazer o tratamento de fertilização, conseguir engravidar e acabar sofrendo um aborto.”
Segundo o médico, em alguns casos mais delicados, a fertilização in vitro é recomendada. “Às vezes, a mulher fica seis meses sem a menstruação estar interrompida e a doença já pode se desenvolver.”
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Mantelli explica que nem sempre o grau de profundidade da doença está relacionado com sintomas mais intensos, existem casos, inclusive, assintomáticos. “Às vezes nós descobrimos nos exames de rotina.”
O diagnóstico é feito com exame de sangue com dosagem de CA-125, indicador da doença, ressonância magnética da pelve e ultrassom transvaginal com preparo intestinal. Nenhum desses exames é pedido sem presença de sintomas.
“Às vezes, identificamos no transvaginal sem o preparo e aí pedimos mais exames.”
O médico explica que existe um estigma em torno da doença. “Muita gente tem medo, ninguém morre de endometriose, mas requer tratamento e diagnóstico precoce. Quanto antes descobrir, melhor.”
*Estagiária do R7 sob supervisão de Fernando Mellis