Entenda o déficit de atenção, como o relatado por Marilia Mendonça
Transtorno pode agravar a discalculia, dificuldade com números, que a cantora contou que enfrenta; problema tem tratamento
Saúde|Carla Canteras, do R7
A cantora Marília Mendonça contou para os fãs que tem TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e, por isso, não é boa com números. Ela, inclusive elogiou as pessoas que têm o dom de trabalhar com dados e matemática.
“Vocês que trabalham com números… eu pago um pauuuuuuu pra vocês… Sem condições nenhuma… Para quem tem déficit de atenção como eu, piora tudo… os números começam a embaralhar e parece que estão dançando na minha frente”, escreveu no Twitter.
Mas o que é o TDAH? É um transtorno neurobiológico, que normalmente aparece na idade escolar e acompanha o indivíduo por toda a vida. As características mais comuns são desatenção, inquietude e impulsividade.
O psiquiatra Wimer Bottura Junior, presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática e professor FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), explica que existem três tipos definidos de pacientes com o transtorno.
“Tem a pessoa que é agitada, não consegue ficar sentada, não fica bem em sala de aula, interrompe a fala dos outros, aquelas que não param. Tem o tipo da pessoa que distraí com facilidade, pergunta o que alguém acabou de falar, porque ela não consegue prestar atenção, viaja no mundo da lua. E tem o tipo impulsivo: a pessoa faz e depois pensa no que fez”, conta Bottura.
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O diagnóstico é feito por meio de exames neuropsicológicos, que analisam mais a fundo a vida da pessoa para verificar quantas características ela tem de hiperatividade e, assim, confirmar a doença. Normalmente são feitos por neuropsicólogos, mas é comum a necessidade do envolvimento de outros profissionais, como fonoaudiólogos e psicopedagogos.
O psiquiatra alerta que o diagnóstico deve ser feito e comprovado, porque muitas pessoas confundem o TDAH com outros problemas. “Se a pessoa entra na internet ou lê livros sobre o transtorno todo mundo vai achar que tem o problema, sendo que a maioria das pessoas não tem hiperatividade. O TDAH pode se confundir com outras doenças, inclusive com a absoluta normalidade. Se a pessoa convive num ambiente com muita cobrança ou não há escuta, ela tem de ser hiperativa para sobreviver nesse ambiente”, exemplifica ele.
O tratamento é feito com medicamentos à base da substância metilfenidato, mas só podem ser usados caso tenha o diagnóstico confirmado da doença. Ele alerta sobre o uso sem ter a doença.
“Existe gente que não tem o problema e quer usar. Muita gente vai aos consultórios e descreve sintomas da doença, mas elas só querem usar o medicamento para conseguir se concentrar mais ou aumentar o rendimento. Mas o remédio não vai funcionar se quimicamente ele não tiver a doença. Será um placebo [remédio sem efeito]”, ressalta.
Muitas vezes o transtorno está associado a comorbidades, sendo as mais comuns transtorno de oposição à autoridade, dislexia, às vezes depressões e bipolaridades em crianças, transtorno de conduta. Nesses casos, é indicado medicamento e apoio de psicoterapia., segundo o médico.
“A solução não é só remédio. A psicoterapia é fundamental e, eventualmente, tomar antidepressivo, porque quando se passa a ter várias adversidades na vida e fica contrariado, frustrado, pode deprimir. As pessoas procuram o médico como uma depressão, mas, na verdade, é TDAH”, diz o especialista.
O TDAH normalmente é diagnosticado na infância, mas, como é uma doença relativamente nova, muitos pacientes chegam à idade adulta sem um tratamento adequado. Vale ressaltar que em qualquer idade a doença tem tratamento.
“O tratamento é possível em qualquer idade. A pessoa vai melhorar a partir do tratamento, mas, muitas vezes, o paciente vive as consequências das perdas que teve ao longo de sua história. Melhora daqui para frente, mas os bumerangues que ela jogou lá atrás estão voltando. É difícil recuperar, mas é possível”, afirma o professor da USP.
A dificuldade relatada por Marília Mendonça e que recebeu o apoio de muitos seguidores, pode ser explicada com um transtorno chamado discalculia. “A pessoa tem dificuldades com matemática, mas é genial em outras áreas. O TDAH pode agravar essa dificuldade com números”, alerta Bottura.
As consequências do TDAH em adultos são dificuldade em manter o emprego e relacionamentos e levar resultados de vida muito inferior à capacidade da pessoa. Já na infância, gera abondono escolar, dificuldade de aprendizado, e, eventualmente, comportamento inadequado.
Se tem cura em todas as idades, o diagnóstico e o tratamento são fundamentais.