Entenda o que é 'kit intubação' e o impacto se faltar nos hospitais
Conjunto de anestésicos, sedativos e relaxantes musculares, kit é necessário para realizar procedimento em casos graves de covid
Saúde|Hysa Conrado, do R7
O país passa pelo risco de desabastecimento do chamado "kit intubação", essencial para realizar o procedimento médico utilizado em casos de covid-19 grave, quando a capacidade de respiração é afetadada, conforme ressaltou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por meio de nota, nesta sexta-feira (19). Segundo a agência, faltam kits em hospitais, no estoque do Ministério da Saúde e em secretarias de saúde.
Com o sistema de saúde em colapso no país, em que há pessoas morrendo à espera de um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para tratar a covid-19, a escassez do “kit intubação” relatada por hospitais é um agravante que pode aumentar ainda mais o risco de óbito. Isso porque o pulmão é um dos principais órgãos acometidos pela doença que compromete a capacidade de respiração em casos graves.
“Se não é possível oferecer oxigênio de forma não invasiva, por meio de máscaras, por exemplo, é preciso intubar. O intuito da intubação é ofertar oxigênio para o pulmão que não está funcionando. Se faltar o kit, o que acontece é que, em casos graves, as pessoas não vão receber o mais importante da terapia intensiva que é a ventilação. Então a chance de morrer é muito maior”, explica Jefferson Santana, enfermeiro cardiopneumo-intensivista.
Santana explica que o kit é um conjunto de remédios, que inclui anestésicos, relaxantes musculares e sedativos, utilizados para sedar o paciente e evitar que sinta dor enquanto é feita a intubação, procedimento que auxilia na respiração por meio de um tubo colocado na garganta; ventilador mecânico e oxigênio também fazem parte do kit.
Quando o paciente enfrenta dificuldades para que a intubação seja feita, é utilizado um bloqueador muscular que paralisa o corpo e impede que o tubo seja colocado para fora. “O ato de intubar é desconfortável pela dor e pelo ar entrando o tempo inteiro, então, às vezes, por instinto, o paciente acaba tentando expelir esse tubo. Mas, como faz parte do processo de terapia, damos o paralisante para que isso não aconteça”, explica o enfermeiro.
Com experiência em UTIs, Santana diz que já presenciou falta de um ou outro medicamento do kit intubação, mas não de todos de uma vez, como pode acontecer agora. Ele acredita que isso ocorre por um conjunto de fatores. “A indústria não consegue produzir o suficiente e os profissionais da saúde não conseguem prever o quanto vão usar, porque perdemos a evolução natural da doença, após um ano da pandemia não sabemos como a covid vai se comportar e agora conseguimos perceber que mais pessoas jovens estão adoecendo, às vezes sem ter outras comorbidades”, afirma.
O enfermeiro chama a atenção para o que significa um sistema de saúde colapsado. “No começo de tudo pensamos que a compra de mais respiradores fosse resolver. Mas quem vai cuidar desse respirador? Onde vai instalar? Tem leito? Tem equipe? Tem equipamento? A mesma coisa do kit, não adianta se não tiver leito, e se tiver o kit, mas não tiver um leito de terapia intensiva com equipe preparada e treinada para cuidar e tratar do paciente, também não adianta”, explica.