Entenda o que pode ter motivado demissão do médico que receitou sorvete e 'Free Fire' para criança
Menino de 9 anos chegou ao UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Osasco com febre, vômitos, dor de garganta e tontura
Saúde|Do R7
Priscila Ramos da Silva, mãe do Gabriel, de nove anos, denunciou o médico Wesley Silva, funcionário de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Osasco, após o profissional receitar sorvete de chocolate e "Free Fire diário" para tratar a febre, a dor de garganta, a tontura, a dor de cabeça e as náuseas (ele já havia vomitado várias vezes) que o filho estava sentindo.
O caso ocorreu na madrugada do dia 18 de maio, na UPA do bairro Jardim Conceição. A receita também incluía remédios comuns usados para tratar sintomas gripais, como amoxicilina, ibuprofeno e dipirona.
Em entrevista ao R7, Priscila esclareceu que, na consulta, "respondi todas as perguntas [que ele fez], mas ele nem tocou no meu filho. O Gabriel estava reclamando de dor, não conseguia engolir nem a própria saliva, e mesmo assim ele não olhou a garganta do meu filho".
Mesmo que o sorvete possa ser usado para aliviar a dor de garganta, a mãe do menino alega não ter recebido orientações devidas do especialista. "Eu não sabia disso. Ele não chegou a falar que o sorvete era bom e que poderia amenizar a dor".
Priscila entendeu a situação como um deboche aos sintomas do filho, e resolveu fazer uma denúncia por e-mail ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) para reforçar a necessidade de melhorar o atendimento à saúde em Osasco.
"O médico que atendeu meu filho nem pediatra era. Ele carimbou a receita como neurocirurgião", conta Priscila.
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Seguindo o Código de Ética Médica, organizado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), o que pode ter motivado a demissão do médico depois da repercussão do caso é a falta de respaldo que o profissional deu à família.
Nos Art. 13 e Art. 34, o órgão deixa claro que é vedado ao especialista "deixar de esclarecer ao paciente sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença" e "deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento", respectivamente.
Segundo Priscila, o médico não especificou qual era o quadro de Gabriel e o que poderia ter motivado a receita, por exemplo, do sorvete – ele também não explicou sobre a necessidade dos remédios.
Por essa razão, Wesley infringe os artigos 13 e 34, assim como o artigo 22 do código, que proíbe o profissional de deixar de obter consentimento do paciente "ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte".
Além do mais, o documento garante que "a medicina será exercida com a utilização dos meios técnicos e científicos disponíveis que visem aos melhores resultados", mas a recomendação de "Free Fire diário" não dispõe de embasamento científico.
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O único contato que o médico teve com Gabriel foi quando perguntou qual sabor de sorvete a criança gostava, o que também vai contra a determinação do documento que veta a prescrição de "tratamento e outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo".
Marcos Wesley está, atualmente, com o CRM (número de registro) ativo no Cremesp, porém sem especialidade registrada. A situação também pode ter sido um agravante, já que o médico, como conta Priscila, "carimbou a receita como neurocirurgião".
É proibido pelo Código de Ética Médica "anunciar títulos científicos que não possa comprovar e especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de Medicina".
Em nota ao R7, o Cremesp esclarece que "diante das inúmeras informações divulgadas pela imprensa, o Cremesp informa que vai investigar o caso em questão para apuração dos fatos".
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