Epidemia de ebola é pouco provável no Brasil, diz especialista
O infectologista Eduardo Alexandrino, professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), explica como vírus é transmitido
Saúde|Hysa Conrado, do R7
É pouco provável que aconteça uma epidemia de ebola em países que possuem um sistema de saúde razoavelmente eficaz, como o Brasil, explica o infectologista Eduardo Alexandrino, professor de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Isso porque, segundo o especialista, o ebola é um vírus que age de forma rápida nos infectados, com uma evolução muito grave, o que possibilita que medidas adequadas, como o isolamento do paciente, sejam adotadas rapidamente.
O ebola, também conhecido como febre hemorrágica, se manifesta após um período de incubação de cerca de cinco dias em média, com febre repentina, fraqueza, dores musculares e articulares, dor de cabeça e dor de garganta e, em alguns casos, hemorragia. Quem sobrevive costuma ter sequelas como artrite, problemas de visão e audição e inflamação dos olhos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou, na terça-feira (16), seis países africanos, como Serra Leoa e Libéria, a tomarem cuidado com novos casos de ebola. A recomendação veio após a Guiné anunciar oficialmente que passa por uma nova epidemia da doença, com o surgimento dos primeiros infectados desde o último surto que durou de 2013 até 2016 na África Ocidental. Casos de infecção também foram identificados na República Democrática do Congo.
Ao contrário do coronavírus, o ebola não circula de forma assintomática e não há nenhum estudo que comprove que seja um vírus que permaneça no ar, conforme afirma Alexandrino. “A transmissão do ebola é fundamentalmente pelo sangue e pode ser também por fluidos corporais, como suor, lágrima, urina e até o sêmen durante uma relação sexual”, explica o infectologista.
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A infecção causada pelo ebola possui uma taxa de 50% a 90% de letalidade. Uma pessoa pode transmitir o vírus até 2 meses após a doença, ou mesmo depois de morta - nestes casos, é recomendada a cremação do corpo logo após o óbito.
O contato com pessoas infectadas exige o uso de equipamentos de segurança, como máscara, luvas, avental e protetor facial, já que o ebola é transmitido através do contato. “O vírus só é transmitido quando a pessoa fica doente de fato e pode ser transmitido, por exemplo, através de uma lesão de pele, um corte, coisa que não acontece com o coronavírus”, esclarece Alexandrino.
A alimentação também exige cuidados, já que o vírus circula entre morcegos frugívoros (que se alimentam de frutas), e pode ser transmitido para outros animais silvestres. “A ingestão de carne mal cozida pode ser uma forma de transmissão se o animal estiver infectado pelo ebola”, explica o infectologista.
Tratamento
De acordo com o especialista, até o momento não existe uma medicação efetiva para tratar o ebola. O recomendado é o tratamento de suporte, como a disponibilidade de uma unidade de terapia intensiva (UTI) no local em que o infectado recebe os cuidados. “A cura vai depender muito da evolução clínica do paciente, a taxa de letalidade é altíssima. Algumas vacinas experimentais também têm sido usadas, mas não há nenhum imunizante aprovado”, explica Alexandrino.
Além disso, durante a epidemia de 2013, outro tratamento utilizado foi o uso de plasma de convalescente, quando os anticorpos de pessoas que se curaram do ebola são usados para tratar os infectados. “Existe uma forma um pouco mais sofisticada, que são os anticorpos monoclonais, quando algumas células são colocadas em contato com o vírus, a produção desses anticorpos é estimulada, depois eles são separados e administrados no paciente. Pode ser feito em laboratório, mas é muito caro”, diz o especialista.