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Especialistas criticam método de emagrecer que trava a boca

Dispositivo que usa ímã para manter a boca fechada é considerado arcaico e pode prejudicar mastigação e saúde bucal

Saúde|Lucas Pimentel*, do R7, com AFP

Os ímãs são aplicados nos dentes molares e impedem que mandíbulas abram mais do que 2mm
Os ímãs são aplicados nos dentes molares e impedem que mandíbulas abram mais do que 2mm Os ímãs são aplicados nos dentes molares e impedem que mandíbulas abram mais do que 2mm

Especialistas definem como "arcaico" um dispositivo desenvolvido por pesquisadores da Nova Zelândia que utiliza ímãs para manter a boca fechada e, consequentemente, levar à perda de peso. A invenção recebeu uma série de críticas na internet, sendo definida como instrumento de tortura, repulsiva e desumana por internautas, de acordo com a AFP.

A nutricionista Gabriela Cilla alerta que o método não resolve o problema de quem precisa emagrecer e ainda pode resultar em compulsão alimentar. “O problema de uma pessoa que, eventualmente, ganhar peso, são os hábitos inadequados, que são trabalhados dentro da reeducação alimentar. O dispositivo é prejudicial porque não está trabalhando o foco principal, a perda de peso pela reeducação e mudança dos hábitos, mas sim por forçar um hábito, eventualmente, levando a uma restrição alimentar abrupta e podendo resultar em uma compulsão alimentar”, afirma.

Os ímãs são aplicados por um dentista nos dentes molares. Uma vez instalado, impedem que as mandíbulas abram mais do que dois milímetros. O aparelho permite que a pessoa consuma apenas alimentos líquidos, mas sua capacidade de respirar, ou falar, não é afetada.

Segundo os pesquisadores, trata-se de uma alternativa não invasiva, reversível, econômica e sem risco de reações adversas. A invenção ainda "ajudaria a combater a epidemia global de obesidade".

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O dentista Gustavo Issas, especialista em disfunção temporomandibular e implantes dentários, explica que o dispositivo pode trazer prejuízos à saúde bucal. “Realmente a invenção é simples, barata e eficiente, só que vejo uma série de contraindicações. A primeira delas é a importância da escovação. Se a pessoa ficar a maior parte do tempo com a boca fechada, vai chegar um determinado momento que ela não vai conseguir mais abrir, e, com isso, não vai fazer toda a escovação correta durante o dia. Se você não escovar corretamente os dentes, rapidamente terá problemas na gengiva, inflamações, irritações, acúmulo de placa, tártaro e perda óssea” afirma.

Ele ainda ressalta que a falta de articulação causada pelo aparelho pode ocasionar o atrofiamento dos ligamentos, levando à perda do músculo usado para a mastigação.

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“Caso a articulação temporomandibular fique muito tempo sem ser utilizada, vai atrofiar, e os ligamentos endurecerão, perdendo a capacidade do músculo da mastigação. Existe um disco que é lubrificado nessa articulação e ele vai perder sua lubrificação", explica.

"Vai sacrificar seus dentes ou a sua saúde bucal de uma maneira que pode ser irreversível. Como dentista, eu acho que não vale a pena", acrescenta.

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Em um artigo publicado no British Dental Journal de junho, os inventores do aparelho afirmam que sete mulheres que testaram este dispositivo - chamado DentalSlim Diet Control - por duas semanas perderam em média 6,36 kg.

Eles explicaram que as pacientes inicialmente acharam o dispositivo um pouco desconfortável, antes de considerá-lo "tolerável".

A invenção, que lembra os procedimentos de ligadura da mandíbula praticados na década de 1980, tem uma trava de segurança que permite a liberação da boca em uma emergência, em caso de vômito ou ataque de pânico.

Nenhuma das participantes teria necessitado usar esse recurso, apenas uma mulher admitiu ter burlado o sistema ao consumir chocolate derretido.

Existem formas mais seguras e confiáveis para emagrecer. A nutricionista destaca que, entre as mais recomendadas, está a reeducação alimentar. "Realizada com o acompanhamento de um nutricionista, é possível elaborar um plano alimentar que seja viável para cada paciente, levando em consideração rotina de trabalho e a prática de atividades físicas", finaliza.

*Estagiário do R7 sob supervisão de Deborah Giannini

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