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Falta de doadores de sangue faz médicos adiarem cirurgias e aumenta custo e lotação em hospitais  

No Dia Mundial do Doador de Sangue, especialistas alertam que só 1,9% dos brasileiros doam

Saúde|Marta Santos, do R7

Apenas 1,9% da população brasileira doa sangue, segundo dados do Ministério da Saúde
Apenas 1,9% da população brasileira doa sangue, segundo dados do Ministério da Saúde Apenas 1,9% da população brasileira doa sangue, segundo dados do Ministério da Saúde

No Brasil, apenas 1,9% da população doa sangue com regularidade. O índice está bem abaixo da média considerada ideal pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que varia entre 3% a 5%. Em 2014, foram realizadas 3,7 milhões de doações. No Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado neste domingo (14), especialistas ouvidos pelo R7 afirmam que esse cenário é consequência da falta de cultura do brasileiro em doar aliada à carência de campanhas de incentivo.

Nesse contexto, muitas vezes, médicos são obrigados a fazer uma escolha difícil: qual paciente deve receber a transfusão primeiro e qual ficará internado esperando que o estoque seja reposto, explica a hematologista do Hemocentro da Unifesp (Universidade de São Paulo) Maria Angélica de Camargo Soares.

— Quando os bancos ficam em estado crítico, a gente trabalha priorizando os casos. É muito difícil, mas temos que decidir, por exemplo, quais cirurgias podem esperar para serem realizadas, já que precisamos guardar o sangue para atender os casos de emergência.

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Segundo Maria Angélica, esse adiamento de cirurgias ou de tratamentos médicos acaba comprometendo todo o sistema de saúde.

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— Você tem o custo da pessoa permanecer internada por um período estendido e este paciente acaba ocupando uma vaga no hospital que já poderia estar sendo usada por outra pessoa. Além disso, a gente acaba priorizando pacientes mais graves, mas tem gente que precisa de transfusões a vida toda, toda semana, como pacientes com anemia falciforme e talassemia [dois tipos mais frequentes de anemias hereditárias], que precisam de transfusão para se manterem vivos.

Segundo Maria Angélica, o número de doações no Brasil teria que dobrar para trabalharem com mais tranquilidade.

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— Deveríamos chegar a 6 milhões de doações por ano para que os hemocentros trabalhassem com estoques aceitáveis. Hoje, os estoques não chegam a ficar zerados, mas os hemocentros trabalham sempre no limite.

Férias e feriados prejudicam estoques de sangue

Em alguns momentos do ano, como feriados prolongados e férias escolares, a situação pode ficar ainda mais complicada, pois é comum acontecer uma redução no estoque de sangue dos hemocentros de todo o País, explica a hematologista.

— No inverno, por exemplo, o número de doações chega a cair mais de 20%, porque aumentam os casos de gripes e resfriados, que são impedimentos temporários para doar. Isso pode ser ainda pior em regiões onde há menos doadores, como no Norte do País, onde há grande incidência de malária e hepatite, que são doenças transmissíveis pelo sangue e que impedem a pessoa de doar.

Por que o brasileiro doa pouco?

Em momentos de crise, os hemocentros trabalham rapidamente para conseguir mais doações e evitar que os estoques fiquem em níveis críticos. Porém, essas campanhas servem apenas para situações emergenciais e não têm um resultado significante a longo prazo, afirma a hematologista e hemoterapeuta da Fundação Pró-Sangue de São Paulo, Renata Paula Panzani de Moraes Barros.

— Não adianta apenas fazer campanhas em momentos de desespero, quando os estoques estão baixos. As políticas públicas têm que começar na escola, para que a doação se torne algo inserido na cultura da sociedade.

Além da carência de campanhas, na opinião de Maria Angélica, o brasileiro não tem hábito de doar, pois “o País nunca passou por períodos de grande necessidade de transfusões, como guerras ou desastres naturais, que deixam muitos feridos graves”.

— No caso de um grande acidente é que pesaria de verdade o fato de trabalharmos com os estoques baixos e, às vezes, em nível crítico. Se acontecesse um grande acidente no metrô de São Paulo, por exemplo, que envolveria muita gente com traumas grandes, todos os grandes hospitais da cidade teriam que trabalhar em conjunto para atender e suprir os estoques, teria que mobilizar todo mundo ao redor.

O coordenador-geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, João Baccara, concorda que é preciso tornar a doação um hábito do brasileiro e ressalta que o número de doações já vem aumentando nos últimos anos.

— O número de coletas de bolsas cresceu 4,5% em 2014, em comparação com 2013. É habitual as pessoas doarem sangue quando conhecem alguém que necessita de transfusão sanguínea, mas é necessário expandir essa compreensão e doar sangue de forma regular, independente de existirem pessoas conhecidas precisando de sangue no momento ou não.

Uma doação, quatro vidas

Como a medicina ainda não conseguiu desenvolver um método de produzir sangue artificialmente, todos os pacientes que precisam de transfusões de sangue para sobreviver a tratamentos médicos ou acidentes têm que contar com a boa vontade dos doadores voluntários. Pouca gente sabe, mas com uma única doação é possível ajudar a salvar até quatro vidas.

Isso é possível porque cada doador enche uma bolsa de cerca de 450 ml do que é chamado de “sangue total”. Esse sangue pode ser processado e dividido em quatro concentrados, explica a hematologista e hemoterapeuta, Renata Paula Panzani de Moraes Barros.

— Pessoas que estejam passando por quimioterapia, por exemplo, precisam receber concentrado de hemácias. Pacientes com dengue hemorrágica, às vezes, precisam receber concentrado de plaquetas. Já o concentrado de plasma fresco congelado e o de crioprecipitado podem ser usados no tratamento de alcoólatras que têm problemas de fígado.

Além disso, quanto mais alto for o número de doações, mais pacientes que têm necessidades especiais poderão ser atendidos.

— Alguns pacientes precisam de tipos de sangue muito específicos, que vão além do tipo sanguíneo e do fator Rh. Aumentando o número de doações, também se aumenta a probabilidade de que esses tipos mais raros de sangue cheguem aos bancos.

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