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Febre amarela: principal vítima é homem com idade média de 44 anos

Em menos de 50 dias, Hospital das Clínicas em São Paulo atendeu 103 casos da doença; a maioria dos pacientes é jovem, saudável e sem doença de base 

Saúde|Deborah Giannini, do R7

Febre e náusea são os sintomas mais frequentes
Febre e náusea são os sintomas mais frequentes

Homem saudável com média de 44 anos é a principal vítima da febre amarela, de acordo com dados do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Referência no tratamento da doença – o hospital foi o primeiro do mundo a realizar transplante de fígado para tratar hepatite fulminante causada pela febre amarela –, o local recebe os casos mais graves da doença no país.

Antes da atual epidemia da doença, não havia registro na literatura médica de casos de febre amarela em UTI, de acordo com Ho Teh Li, coordenadora da UTI de Infectologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

“Em menos de 50 dias, chegaram ao Hospital das Clínicas 103 casos de febre amarela e há apenas sete leitos na UTI. Desses, 70 foram confirmados febre amarela na forma grave. Tivemos 42 mortes, o que representa letalidade de 60%, e 20 altas”, afirma.


Sobre o perfil das vítimas de febre amarela, ela informa que 80% são homens, com idade média de 44 anos. “São em geral jovens saudáveis e sem doença de base. A comorbidade [doença relacionada] mais frequente foi hipertensão em um quarto dos pacientes. Além disso, hábito etílico estava presente em quase 40% dessa população”, completa.

Tratamento precoce salva vidas


Os sintomas da febre amarela geralmente se manifestam após cinco dias do contágio. De acordo com as estatísticas divulgadas pelo HC, 60% dos pacientes já chegaram com evolução de cinco dias de doença. Entre os sintomas mais frequentes estão 91% febre, 90% náusea, 71% mialgia (dor muscular), 70% cefaleia e 34% sangramento. “Quem está fazendo a triagem não pode esperar a icterícia [olhos e pele amarelos]”, orienta Ho.

A médica ressalta que a febre e a náusea são sintomas inespecíficos que podem indicar diversas doenças, e não apenas febre amarela, dificultando seu diagnóstico. Para que as pessoas infectadas consigam chegar precocemente ao HC, houve mudança no fluxograma da febre amarela, diagrama que descreve o procedimento ao ser adotado no atendimento do paciente com suspeita da doença.


“Quando conseguimos atender na fase inicial da doença, há mais chance de salvar vidas; 24% dos pacientes que chegaram ao HC morreram em menos de 24 horas. Isso nos faz pensar que os pacientes estão chegando ao HC muito tarde”, afirma Ho.

Os critérios para o paciente ser encaminhado ao HC, segundo o fluxograma, são TGO/TGP acima de 2.500 (que indicam alteração no fígado), alteração da função renal, alteração de coagulação, alteração do nível de consciência e qualquer fenômeno de sangramento. “Se a pessoa relatar que está dormindo mais que o habitual, isso já é considerado uma alteração do nível de consciência”, explica.

Transplantes para febre amarela

Luiz Augusto Carneiro, diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas de São Paulo, relembra do primeiro paciente que chegou com suspeita de febre amarela ao local, em janeiro do ano passado.

Tinha 23 anos e vivia em área endêmica da doença em Minas Gerais. Estava em estado grave, com insuficiência hepática. “O paciente foi listado para transplante, mas morreu em dois dias. A necropsia mostrou que ele tinha febre amarela”.

Levando em conta essa experiência, quando, em 30 de dezembro, a paciente Gabriela de Santos Silva, 27, chegou ao HC em estado grave da febre amarela, os médicos não pensaram duas vezes: foi encaminhada para transplante urgente do fígado.

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“Desde então tivemos 20 indicações para transplantes de fígado. Entre seis transplantados, três sobreviveram, o que significa um ganho de 50%. Entre os 14 que não foram transplantados, apenas um se recuperou. Os outros 13 morreram”, afirma.

O transplante de Gabriela foi bem-sucedido e considerado o primeiro do mundo em relação à febre amarela. “Hoje ela está bem, ainda com algum déficit motor, mas está bem, em casa”.

Carneiro ainda ressalta o uso que o HC vem fazendo de forma inédita do medicamento Sofosbuvir para Hepatite C para o tratamento de pacientes de febre amarela com quadro de insuficiência hepática. “Pedimos autorização para a Comissão de Ética para uso do remédio indicado para hepatite C em todos os pacientes com insuficiência hepática por causa da febre amarela”, diz.

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