Hipertensão está descontrolada no Brasil, dizem especialistas
Nesta quinta-feira (26) celebra-se o Dia de Prevenção e Combate à Hipertensão, principal causa de doenças do coração, que mais matam no país
Saúde|Deborah Giannini, do R7
A hipertensão é a principal causa do infarto e de outras doenças do coração – as que mais matam no Brasil. Cerca de 300 milhões de pessoas morrem por ano dessas doenças.
A hipertensão é a causa de 60% dos infartos e 80% dos AVCs (acidente vascular cerebral), segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Além da hipertensão, os outros fatores de risco das cardiopatias são o colesterol alto e o diabetes. De acordo com a SBC, 94% das pessoas que sofrem de hipertensão não têm a doença controlada.
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“Essa é a situação mais grave que temos no Brasil. A hipertensão não está controlada”, afirma o cardiologista Celso Amodeo, da SBC. “Não podemos esquecer que a hipertensão, que é uma das principais causas da doença que mais mata no Brasil, tem tratamento”, completa.
Para a cardiologista Juliana Gil, do Serviço de Hipertensão Arterial do Centro de Cardiologia do hospital Sírio-Libanês, a grande dificuldade no controle da hipertensão é convencer o paciente a fazer o tratamento. “O paciente tem que se conscientizar de que é preciso tratar a hipertensão e tomar remédio”, afirma.
Considerada uma “doença silenciosa”, não costuma dar sintomas. Quando se manifestam, os mais comuns são dor de cabeça, sonolência e cansaço ao fazer atividade física. É considerada hipertensa uma pessoa com pressão arterial igual ou superior a 14 por 9 em repouso.
Consumo de sal e sedentarismo
O crescimento da doença no país está relacionado ao estilo de vida, com alto consumo de sódio e sedentarismo, segundo a cardiologista. Ela explica que o sal aumenta a retenção de água no corpo, gerando consequências na pressão arterial.
Já em relação sedentarismo a consequência mais preocupante é a obesidade. “A obesidade pode ser a ponta do iceberg. Ela ainda eleva a prevalência de outras doenças, como o colesterol alto e o diabetes”, diz.
O avanço da idade também eleva o risco de hipertensão. Na terceira idade, a doença pode ser desencadeada por enfermidades associadas, como insuficiência renal, diabetes e aterosclerose (placas de gordura nas artérias). Além disso, com a velhice há um aumento da rigidez das artérias, o que eleva a pressão dentro dos vasos sanguíneos, de acordo com Juliana.
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A médica ressalta que o diagnóstico da hipertensão não pode ser feito de maneira isolada – pressão medida uma única vez. É preciso que haja uma “curiosidade” do paciente em verificar sua pressão com certa frequência, para que seja possível uma análise mais precisa.
“Pode haver dois tipos de erro de diagnóstico: o fenômeno do ‘jaleco branco’, que é o paciente que fica com a pressão alta só quando vai ao médico, e a ‘pressão mascarada’, que é aquele que no consultório ela é baixa, mas longe dele, aumenta”.
Pico de pressão alta durante a madrugada não é mito. Eles podem ocorrer, mas estão relacionados a outros fenômenos – e não à pressão alta –, segundo a médica. “O esperado é que, ao dormir, diminua o estímulo do sistema nervoso simpático, e a pressão também diminua. Porém, há pessoas que não têm queda de pressão ao dormir, o que representa um risco cardiovascular aumentado. “É preciso investigar a causa, que pode ser, por exemplo, apneia de sono ou problema no coração”, diz.
Doenças renais x hipertensão
Já a relação entre pressão alta e formação de pedras no rim é um mito, segundo Gil. Ela explica que a hipertensão não está relacionada à formação de cálculos, mas umas das principais causas da hipertensão são as doenças renais. “Quando nos deparamos com um hipertenso no consultório, é preciso investigar doenças renais”. A doença renal aumenta a produção de substâncias que levam à hipertensão.
Pessoas com hipertensão na família têm 30% mais chance de desenvolver a doença, mas hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e prática de exercícios físicos, são capazes de reduzir a zero esse risco. “Apesar da propensão genética, existe a possiblidade de a pessoa não desenvolver a doença por meio de hábitos saudáveis”, diz.
A médica afirma que os aparelhos de controle de pressão comercializados em farmácias são confiáveis desde que sejam calibrados uma vez ao ano. E ela faz um alerta: “O ideal é não ficar medindo a pressão da família inteira com seu aparelho porque ele vai perdendo a calibragem, principalmente os de pulso”.
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