Icterícia neonatal: entenda o diagnóstico da filha de Viih Tube
Pequena Lua teve de passar por fototerapia logo após o nascimento para conter o quadro, que tende a ser simples mas pode evoluir para formas graves
Saúde|Yasmim Santos*, do R7
Na última quinta-feira (13), os influenciadores Viih Tube e Eliezer compartilharam os primeiros registros do nascimento da filha, Lua, primogênita do casal. Em meio às fotos, eles contaram um pouco sobre o diagnóstico que a pequena teve ao nascer: icterícia neonatal.
"Ela precisou de banho de luz por causa da icterícia. Meu coração doeu, porque não é fácil, mas conseguimos e tivemos alta depois", escreveu a mamãe de primeira viagem, nos stories do Instagram.
De acordo com a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), o quadro ocorre em aproximadamente 60% dos recém-nascidos e em 80% dos bebês prematuros tardios (34 a 36 semanas e 6 dias).
"Icterícia é o nome dado à cor amarelada da pele, devido ao acúmulo de bilirrubina no sangue. Normalmente, inicia-se no sentido craniocaudal (da cabeça para os pés)", explica a pediatra e pós-graduada em nutrologia pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) Amanda de Santana Ferreira.
A bilirrubina é uma substância produzida durante a filtragem dos glóbulos vermelhos e liberada na corrente sanguínea. Após exercer essa função, ela é transportada ao fígado para ser metabolizada e depois eliminada pela urina.
Na maioria dos casos, a icterícia fisiológica em bebês decorre da quantidade extra de glóbulos vermelhos que eles apresentam durante o nascimento. Esse número excedente é necessário no período gestacional para levar oxigênio à placenta.
Depois que o bebê nasce, as hemácias que não são mais necessárias são destruídas, gerando uma grande concentração de bilirrubina.
"Como seu fígado pode não estar totalmente desenvolvido para processar toda essa substância, mais bilirrubina que o normal permanecerá no corpo", explica a SBP.
Amanda acrescenta que o metabolismo corporal "ainda não está preparado para eliminar esse composto de maneira rápida". Portanto, a icterícia pode piorar por volta do terceiro ao quarto dia de vida, mas se normaliza até o trigésimo.
"Temos um gráfico que caracteriza por zonas essa icterícia. Zona 1 somente há acometimento da face; zona 2 é até, mais ou menos, a linha inframamilar; zona 3 até a região inguinal; zona 4 até os pés e a 5 acomete todo o corpo, principalmente a palma das mãos — esta [conta com] níveis muito altos de bilirrubina no sangue", exemplifica Giuliana Taveira, coordenadora do Núcleo de Pediatria da BP — a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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O tratamento varia de acordo com o grau e os fatores de risco da criança, mas, de forma geral, a intervenção em casos de icterícia fisiológica é simples.
"Ele [o tratamento] vai desde manter a hidratação do bebê pelo aleitamento materno ou mesmo por fórmula láctea, para conseguirmos fazer aumentar a excreção da bilirrubina, até efetuar o famoso banho de luz (fototerapia) [como ocorreu com Lua]", complementa Amanda.
A evolução fica clara logo após o tratamento, com a melhora da cor da pele e a diminuição do nível sérico de bilirrubina (na icterícia fica acima de 5 mg/dl).
Em casos mais graves, pode ser necessária a exsanguinotransfusão — o sangue do bebê é retirado e substituído pelo de um doador compatível.
"Se o bebê teve alta ictérico, porém sem indicação de tratamento (quadros leves ou de início após 48 horas de vida), os pais podem pressionar a pele do bebê com o dedo e observar a coloração da área; se estiver amarelada, devem procurar seu pediatra para avaliar o grau de acometimento", aconselha Amanda.
É importante ressaltar que o rosto é a última parte do corpo do bebê a perder a cor amarelada.
Aleitamento materno
Os bebês que recebem leite materno são mais propensos a desenvolver icterícia fisiológica, comparados aos que são alimentados por mamadeira, segundo a SBP.
A icterícia aparece, comumente, entre o segundo e o quarto dia de vida, atinge um pico entre o quarto e o quinto e desaparece na terceira semana. Porém, também pode continuar até os 2 ou 3 meses do bebê — nesse caso, é importante avaliar se a coloração não está relacionada a outras doenças.
O quadro acontece em bebês saudáveis, com boa sucção e ganho de peso adequado. Portanto, ainda não está claro o que desencadeia a icterícia. Duas possíveis explicações são que o leite materno pode ter a capacidade de aumentar a absorção de bilirrubina ou variações genéticas do recém-nascido.
Camila Bueno, médica pediatra neonatologista da BP – a Beneficência Portuguesa de São Paulo, acrescenta que ela também pode acontecer devido "à baixa ingestão de calorias ou desidratação".
Embora o leite materno possa ter relação, suspender temporariamente a amamentação não é recomendado, já que pode prejudicar o aleitamento exclusivo.
Vale ressaltar que a amamentação traz uma série de benefícios à criança. De acordo com o Ministério da Saúde, ela reduz o risco de diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia (aumento do colesterol) e obesidade na vida adulta. Além do mais, ajuda no desenvolvimento cognitivo, da face e da fala, por exemplo.
Desdobramentos graves da icterícia
Apesar de, na maioria das vezes, se tratar de icterícia fisiológica (mais simples), ela também pode ocorrer em razão de um processo patológico e alcançar concentrações extremamente altas de bilirrubina — antes das 24 horas de vida.
Entre esses processos, estão anormalidades hepáticas, biliares ou metabólicas, infecções, incompatibilidade sanguínea (mãe tipo O e bebê tipo A ou B, ou mãe RH negativo e bebê RH positivo), prematuridade e outros.
"Recém-nascidos com esses fatores podem desenvolver a icterícia precocemente (antes de 24 horas de vida) e, caso não seja tratada a tempo, esse pigmento amarelado pode impregnar o cérebro e trazer consequências ao desenvolvimento neurológico e psicomotor do bebê", alerta Amanda.
De acordo com Giuliana, o ser humano tem um barreira hematoencefálica responsável por impedir ou dificultar a passagem de substâncias do sangue para o sistema nervoso central.
Porém, quanto menor a faixa etária, mais essa estrutura é permeável à bilirrubina.
"Com níveis muito altos [de bilirrubina], a substância passa essa barreira e há risco de impregnação cerebral, ocorrendo a neurotoxicidade. Essa é a principal consequência da hiperbilirrubinemia neonatal, levando a uma encefalopatia aguda, que pode ser seguida por uma variedade de deficiências neurológicas, incluindo uma paralisia cerebral e déficit sensório e motor", alerta.
Há também a possibilidade de o bebê desenvolver um quadro de encefalopatia bilirrubínica aguda com letargia [profunda e prolongada inconsciência], hipotonia [diminuição do tônus muscular] e sucção débil nos primeiros dias de vida.
Essa condição pode ser reversível, se tratada de modo rápido e agressivo. No entanto, na maioria das vezes, ela evolui para kernicterus, uma forma crônica da doença, com sequelas neurológicas permanentes.
"Alguns casos podem gerar convulsões e até provocar a morte do bebê. Há ainda pacientes que enfrentam, como consequência do kernicterus, retardo mental, paralisia cerebral e perda de audição. Em casos mais brandos, podem ocorrer distúrbios de aprendizagem e problemas na coordenação motora", diz Camila.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Giovanna Borielo
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