Impotência e falta de libido no tratamento de câncer de próstata podem ser revertidos
Na maioria dos casos recuperação é de um ano, beneficiada pelos avanços da medicina
Saúde|Eugenio Goussinsky, do R7
Nos últimos anos tem sido cada vez mais difícil se referir ao tratamento do câncer de próstata sem apontar para os avanços. No Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata, lembrado nessa terça-feira (17), especialistas ouvidos pelo R7 mostram que as sequelas do tratamento já não assustam tanto e, em geral, podem ser superadas. A principal delas é a impotência sexual. Segundo o coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), Lucas Nogueira, tudo deve ficar bem claro para o paciente antes da cirurgia.
— A maioria dos pacientes recupera (a potência) a partir do sexto mês. E esperamos até um ano essa recuperação progressiva. Entre 30% e 40% dos pacientes ficam impotentes como resultado final. Mas tem tratamento, os convencionais, voltados à impotência.
Os casos de impotência, em geral reversíveis, resultam do fato de que durante a cirurgia, principal forma de tratamento, alguns nervos são afetados, alterando a sensibilidade na região por um período médio de um ano. O grau de impotência, nesse caso, tem a ver com a idade do paciente, conforme disse o urologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Alex Meller.
— Na faixa etária entre 50 e 60 anos pode haver uma perda de potência entre 30% e 40%. Entre 60 e 70 anos aumenta para em torno de 50% e, nos pacientes acima dos 70 anos, pode-se dizer que em torno de 70% vão perder a potência.
Mas perder a potência não quer dizer que o paciente ficará, necessariamente, impotente para sempre. Aqueles que não conseguiram superar no prazo de um ano poderão passar por novos tratamentos, similares aos da impotência convencional, com medicamentos, injeções ou próteses, dependendo de cada caso. O importante, no entanto, é manter o ânimo em alta com as conquistas já obtidas, de acordo com Nogueira.
— Tenho um paciente que, com bom humor, me disse: "doutor, se eu ficar impotente tá bom demais, quer dizer que eu não morri da doença". O que ele (paciente) tem pensar inicialmente é o seguinte: ele tem um câncer e hoje operamos basicamente pacientes com câncer agressivo (cerca de 10%). Então, se ele não for operado, vai morrer por causa da doença. O primeiro resultado que procuramos no tratamento é oncológico, que é a cura do câncer. Depois buscamos a recuperação, principalmente da incontência urinária e da impotência.
Nogueira é otimista quando fala na evolução da medicina em relação à cirurgia da próstata. Quando realizada após um diagnóstico precoce, a chance de cura é de 96%. Ele garante que as sequelas são muito menores hoje do que no passado.
— Tanto a impotência quanto a incontinência (que atinge apenas cerca de 3% dos casos) têm diminuido muito por causa da melhora da técnica cirurgica. Há um conhecimento maior da anatomia, a cirurgia ficou mais limpa, antigamente havia muito sangramento e hoje não se sangra tanto.
Além disso, Nogueira destaca que a identificação por imagens, cada vez mais precisa, facilita a preservação de nervos na região.
— Hoje se opera com lupa, com laparoscopia, consegue se enxergar melhor e o treinamento médico, principalmente, evoluiu. A taxa de transfusão de sangue para uma cirurgia de próstata é mínima. Há 15, 20 anos, transfusão era praticamente rotina. E o grau de impotência era maior, já que não se conseguia identificar tão bem os nervos.
Meller destaca que a incontinência e a impotência são problemas decorrentes principalmente da cirurgia. Nos casos de outros tratamentos, como radioterapia, o risco de impotência existe, mas em menor grau.
Infertilidade não é impotência
Em relação à infertilidade, que necessariamente ocorrerá após a cirurgia, os especialistas deixam em aberta a possibilidade de o paciente depositar uma amostra do sêmen em um banco de esperma. Em geral, por se tratar de uma doença que afeta indivíduos com mais de 40 anos, ter filhos, no entanto, já não é a prioridade para eles.
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Infertilidade, porém, não significa impotência, conforme Meller faz questão de ressaltar. Ele afirma que questões psicológicas serão importantes para a recuperação da potência após a cirurgia da próstata. Segundo o médico, o fato de o homem enfrentar um câncer, independetemente de ser de próstata ou não, já pode afetar a libido dele, por causa da preocupação. No caso da próstata, porém, ele faz outra ressalva.
— Quando o homem retira a próstata, continua a ter os sintomas da ejaculação, o prazer. Ele está potente, mas não sai esperma, não tem líquido, mas tem ereção e orgasmo. Ele percebe o sexo de maneira diferente. Por isso que digo que o aspecto psicológico é importante para ele recuperar a potência.
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Radio e quimioterapia podem ser causas de infecções como a cistite actínica, devido à radiação na bexiga e no reto, e de sangramento pela urina. As fezes também podem aparecer com sangue, e eventuais dores ao evacuar podem surgir, assim como a estenose (diminuição do diâmetro) do reto, exigindo um laxante. No entanto, segundo, Nogueira, estes tipos de sequelas em geral ocorrem depois que o pior já passou. No caso, o próprio câncer.
— A cistite actínica também tem tratamento, vai causar urgência para urinar, o paciente poderá ter que tomar medicamento para segurar a bexiga, mas também se trata de uma sequela facilmente manejável.
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Atualmente, aqueles com histórico familiar, e indivíduos negros, devem fazer o diagnóstico da próstata entre 45 e 50 anos, conforme orientação da SBU. Já para os que não estão no grupo de risco, a indicação é de que os exames (PSA e toque retal) sejam feitos entre 50 e 55 anos, periodicamente. Por ser um tumor de evolução lenta, a recuperação também é longa, levando cerca de 15 anos até um diagnóstico de cura.
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