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Infecção pelo vírus da dengue pode proteger contra a zika

Pesquisa da Fiocruz sugere que um vírus pode provocar o surgimento de anticorpos contra o outro; a hipótese ainda precisa ser comprovada

Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7

Pessoas que tiveram dengue podem ser resistentes ao vírus Zika
Pessoas que tiveram dengue podem ser resistentes ao vírus Zika

O vírus da dengue pode proteger uma pessoa contra o vírus zika e vice-versa. A relação foi descoberta depois de uma pesquisa liderada pela Fiocruz em parceria com a Universidade Federal da Bahia.

A hipótese levou oito anos para ser desenvolvida. O trabalho começou a ser feito em 2009 com cerca de 3.300 moradores de Salvador que foram atendidos em uma unidade de pronto-atendimento da cidade e apresentavam sintomas relacionados à dengue, como febre alta e dores no corpo.

Até 2013, os participantes foram testados para o vírus da dengue. Em 2014, os vírus da zika e da chikungunya chegaram ao país, e os pacientes passaram a ser testados também para eles.

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O resultado mostra uma redução no número de casos de dengue depois da epidemia de zika que aconteceu em 2015 no Nordeste brasileiro.

De acordo com o estudo, entre 2009 e março 2015, 25% dos pacientes analisados foram diagnosticados com dengue. A partir de abril de 2015, início da epidemia de zika, até 2017, a frequência de dengue diminuiu para apenas 3%.


O pesquisador da Fiocruz e professor da UFBA, especialista em doenças infecciosas, Guilherme Ribeiro, explica que a partir da análise desses números e dos dados de cada paciente, foi possível desenvolver a hipótese: “A gente propõe que pode existir uma proteção cruzada, que quem teve zika tenha desenvolvido uma resposta imune contra o próprio vírus da zika e também contra o vírus da dengue”.

O esperado é que um paciente com zika desenvolva anticorpos contra a doença e, desta forma, não seja infectado pelo vírus zika novamente. O que os pesquisadores perceberam é que essas pessoas também podem ter desenvolvido anticorpos contra a dengue, já que o número de casos da doença diminuiu consideravelmente entre os pesquisados.


“Não é uma surpresa, afinal, são vírus muito semelhantes, com material genético muito próximos”, explica o professor Guilherme Ribeiro.

Um segundo estudo foi desenvolvido pela mesma equipe com a ajuda da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador. Nesta etapa, foram analisados todos os casos de dengue e zika registrados no município. Os resultados reforçaram a hipótese de proteção cruzada.

Outros estudos devem ser feitos

Estes estudos são apenas um primeiro passo. Eles ainda devem ser aprofundados pela própria Fiocruz e também por outras equipes de pesquisadores no mundo.

Para o pesquisador Guilherme Ribeiro, o ideal é que outros Estados do Brasil e outros países que também sofreram com a epidemia de zika, como a Colômbia e Porto Rico, desenvolvam estudos parecidos. Outra possibilidade, são estudos em laboratório com animais e com amostras de sangue humano para detectar a presença de anticorpos de zika e dengue e analisar como estes anticorpos reagem, se conseguem neutralizar os vírus.

Se a hipótese for confirmada, pode significar um avanço na forma como a dengue e a zika são tratadas. “Muda o paradigma, muda a forma de pensar essas doenças, inclusive na questão da eficácia e do uso de vacinas. Abre um novo campo no controle público dessas epidemias e nas ações de saúde pública voltadas para vigilância e controle”, defende Ribeiro.

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