Influenciador conta que está 'ficando cego' depois de coçar o olho; entenda o caso
Juan Guedes foi diagnosticado com ceratocone e está com 5 graus de astigmatismo em um olho em decorrência da doença
Saúde|Yasmim Santos*, do R7
O influenciador Juan Guedes, de 24 anos, contou recentemente aos seus seguidores do TikTok que estava "ficando cego" depois de coçar excessivamente os olhos durante crises de rinite. Ele foi diagnosticado com ceratocone.
"Só coço quando estou com rinite. Eu sempre estou com rinite. Moral da história: com esse olho [esquerdo] enxergo 100%, com esse [direito], você e Brad Pitt são a mesma pessoa", descreveu.
De acordo com a SBOP (Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica), a doença ocorre em cerca de 1 em cada 2.000 pessoas na população em geral. Comumente ela é diagnosticada pela primeira vez em jovens na puberdade ou no fim da adolescência.
A condição, segundo o oftalmologista Luiz Brito, especialista em transplante de córnea do H. Olhos Paulista, da Rede Vision One, "é uma degeneração na córnea, que causa aumento da curvatura e afinamento da região. Esse afinamento e esse aumento de curvatura provocam distorções da imagem e, geralmente, geram miopia e alto grau de astigmatismo. Não quer dizer que todo paciente que esteja com alto grau de astigmatismo ou miopia tenha ceratocone".
No caso de Juan, no entanto, o aumento do grau do astigmatismo estava relacionado à doença.
"Meio grau de astigmatismo [no esquerdo], 5 graus de astigmatismo [no direito], tudo isso por coçar o olho", relatou o influenciador no vídeo.
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Brito explica que, de fato, coçar excessivamente os olhos pode causar ceratocone. Segundo a SBOP, a causa exata da doença é desconhecida e, provavelmente, multifatorial.
Portanto, há diversos fatores que podem desencadear a condição, como os genéticos — crianças que têm parente de primeiro grau diagnosticado com ceratocone — e comportamentais — dormir pressionando o olho.
O órgão afirma que "esfregar os olhos é um dos principais fatores comportamentais associados à doença."
Pacientes com atopia (asma e eczema) ou alergias oculares graves, com síndrome de Down, síndrome de Marfan e amaurose congênita de Leber, também podem ser mais afetados pela doença.
"Quem tem o fator genético pode desenvolver mais a doença porque já tem a parte genética, então, a chance de ele desenvolver é maior, mas há muitos pacientes que não têm o fator genético e têm ceratocone grave", diz Brito.
O principal sintoma da doença é a visão embaçada, mas Brito explica que ele também podem mudar de acordo com a progressão da condição em cada olho.
"Por exemplo, tem paciente que tem um olho muito bom e outro muito ruim. Tem paciente que, às vezes, tem sintoma de diplopia — [percepção de] duas imagens — quando um olho é muito diferente do outro. Mas os sintomas são visão embaçada que não melhora, sensibilidade à luz e halos de luz [contorno brilhante em objetos luminosos]", explica o oftalmologista.
A chance de ficar cego, como sugerido por Juan, é baixa. Brito afirma que há uma perda visual progressiva, mas que ela não é irreversível. A SBOP afirma que os sintomas "são progressivos por um período de cerca de 10 a 20 anos e depois estabilizam gradualmente".
Os casos em que os óculos não resolvem o problema e exigem, por exemplo, implante, lentes de contato rígidas ou transplante de córnea, são apenas aqueles que estão muito avançados.
Portanto, o cuidado e o acompanhamento especializado antes e após o diagnóstico de ceratocone é essencial. A doença é diagnosticada por meio de um exame oftalmológico completo e de uma topografia da córnea.
"Pacientes abaixo de 35 anos devem fazer acompanhamento pelo menos semestral com oftalmologista, de preferência especialista em córnea, por meio de exames de consultório e complementares, para medir a curvatura e a espessura da córnea", diz Brito.
Existem duas opções de tratamento para a doença: uma, para parar a ceratocone se ela estiver evoluindo, é o procedimento chamado crosslinking — usa radiação ultravioleta e colírio de vitamina B2 para enrijecer a córnea e tentar parar a progressão da doença.
A outra vertente de tratamento, para melhorar a visão, são os óculos. "É como se fosse uma escadinha: óculos, o segundo degrau são lentes de contato rígidas, o terceiro degrau é o implante de anel, que é um procedimento cirúrgico, e o último, transplante de córnea", exemplifica Brito.
A regra de ouro dada pelo oftalmologista é que "coçar o olho nunca é recomendável. Nunca". Ele aconselha a não ter esse hábito, já que ele pode causar a perda de visão grave.
Outra forma de aliviar a irritação na região é, por exemplo, fazer uma compressa de água gelada.
* Estagiária do R7, sob supervisão de Fernando Mellis
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