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Insegurança alimentar aumenta fatores de risco para covid-19

Alimentos com baixa qualidade nutricional costumam ser mais baratos, mas contribuem para obesidade e outras comorbidades

Saúde|Hysa Conrado, do R7

Na cidade de São Paulo, o custo estimado da cesta básica é de R$ 639,47, segundo o Dieese
Na cidade de São Paulo, o custo estimado da cesta básica é de R$ 639,47, segundo o Dieese

O agravamento da pandemia no Brasil não se reflete apenas no sistema de saúde, mas chega também à mesa dos brasileiros: atualmente, cerca de 27 milhões vivem na pobreza, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas. Neste cenário, a insegurança alimentar se torna mais um agravante no que diz respeito à covid-19.

Isso porque, segundo explica Raquel Canuto, professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alimentos de baixa qualidade nutricional são mais baratos e acabam se tornando mais frequentes na alimentação, o que aumenta as chances de uma pessoa se tornar obesa, fator de risco para que a covid-19 se desenvolva de forma grave.

“No Brasil acontece um fenômeno que chamamos de transição nutricional, quando as pessoas em maior vulnerabilidade acabam tendo uma alimentação muito menos saudável, com mais ultraprocessados e carnes gordurosas, o que facilita problemas como diabetes e hipertensão, também fatores de risco para a covid severa”, avalia Raquel.

A especialista ressalta que não há um estudo que mostre uma relação entre estar desnutrido e ter uma chance maior de desenvolver a doença de forma mais grave. “O agravamento da covid está muito associado à obesidade e a doenças crônicas”, afirma.


Um estudo do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), dos Estados Unidos, mostrou que o sobrepeso e a obesidade foram fatores de risco para 79% dos pacientes com covid-19 que precisaram ser intubados ou receberem tratamento nas UTIs no país.

Segundo o gastrocirurgião e endoscopista Eduardo Grecco, o excesso de peso dificulta a resposta imunológica do organismo.


“O coronavírus provoca uma tempestade de citocina e de enzimas agressivas ao organismo, levando a um quadro de inflamação. O organismo do obeso e da pessoa com sobrepeso já é inflamado, então o vírus encontra um ambiente melhor para se alastrar”, explica.

Vulnerabilidade social facilita a disseminação do coronavírus

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A desigualdade social dificulta não só o acesso à comida, como também que as pessoas cumpram com o isolamento social, uma das principais medidas que ajudam a prevenir o contágio e a disseminação do novo coronavírus.


“A pior manifestação da pobreza é a fome. Querer que todo mundo fique em casa é quase impossível numa situação dessas, porque as pessoas precisam sair para trabalhar, para buscar o que comer”, avalia Raquel Canuto.

A especialista destaca, ainda, que um dos reflexos dessa desigualdade está nos números que revelam uma maior letalidade da covid-19 entre pessoas negras no Brasil.

Só em 2020, o Estado de São Paulo registrou 25% de mortes a mais entre negros. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre as pessoas abaixo da linha da pobreza, 70% são de cor preta ou parda. 

“Depois da recuperação da covid, vamos ter uma piora desse quadro de vulnerabilidade social porque muitas pessoas que sobrevivem à doença ficam com sequelas, e às vezes ficam impossibilitadas de trabalhar”, avalia Raquel.

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