Isolamento de cidade chinesa só atrasou avanço do coronavírus
Estudo científico comprova o que se viu nos últimos meses: quarentena virtual em Wuhan não foi capaz de evitar que vírus se propagasse para outros locais
Saúde|Fernando Mellis, do R7
O isolamento da cidade de Wuhan, na China, e outros municípios próximos na província de Hubei, como medida para tentar frear a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV2), apenas "atrasou modestamente a propagação da epidemia", concluiu um estudo publicado nesta sexta-feira (6) na revista científica Science.
Em 23 de janeiro, cerca de 30 milhões de moradores da província de Hubei (incluindo 11 milhões na capital, Wuhan) foram proibidos de viajar de carro, trem e avião. Estradas fechadas, voos cancelados, transporte urbano suspenso eram as apostas do governo local para evitar que o coronavírus se espalhasse pela China e pelo mundo.
O estudo — intitulado "O efeito das restrições de viagem na propagação do novo surto de coronavírus de 2019 (COVID-19)", assinado por oito pesquisadores, dos EUA, Itália e China — mostra que "no início da proibição de viagem de Wuhan, em 23 de janeiro de 2020, a maioria das cidades chinesas já havia recebido muitos viajantes infectados".
A equipe utilizou modelos estatísticos e epidemiológicos para dimensionar os efeitos das restrições impostas pela China.
"A quarentena de viagens em torno de Wuhan atrasou modestamente a propagação da epidemia para outras áreas da China continental. [...] O modelo indica que, embora a proibição de viajar em Wuhan tenha sido inicialmente eficaz na redução das importações de casos internacionais, o número de casos observados fora da China continental retomará seu crescimento após 2-3 semanas de casos originados em outros lugares", relataram os pesquisadores.
Estudos sugerem que o SARS-CoV2 começou a circular em Wuhan em meados de novembro, "com 40 casos causados por exposição zoonótica", ou seja, o coronavírus de um animal conseguiu infectar humanos.
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Maior número de casos
Nesta sexta-feira, o número de pessoas infectadas em todo o mundo chegou a 100 mil, sendo 80,5 mil na China continental.
No entanto, os modelos adotados no estudo divulgado hoje indicam que somente 24,4% dos casos de covid-19 foram identificados na China continental.
"Em outras palavras, os resultados da modelagem sugerem que na China continental apenas um em cada quatro casos é detectado e confirmado", ressalta o documento.
Internacionalmente, a detecção dos casos importados pode ser de apenas 40%, segundo o estudo.