Resumindo a Notícia
- Japão, com mais de 44 milhões de idosos, tem rede de acolhimento para a terceira idade
- Bairros do país contam com equipes multiprofissionais
- Acompanhantes de idosos também existem em grande número no país
- Em regiões com inverno rigoroso, clínica móvel faz o atendimento domiciliar de idosos
Pessoas idosas no Japão têm assistência governamental e das comunidades
FreepikDiante do aumento do número de idosos em todo o mundo, previsto pela ONU (Organização das Nações Unidas) no levantamento World Population Prospects 2022, o Brasil deve desde já se preparar corretamente para essa realidade. Um bom exemplo a ser seguido e que pode servir de inspiração é o Japão.
O país asiático conta com 44,4 milhões (35,3%) de pessoas idosas, de acordo com estimativas da ONU, e consegue dar o respaldo necessário a essa parcela da população que já tem 60 anos ou mais.
"É incrível os serviços que eles têm; por exemplo, a prefeitura tem um galpão enorme com tudo de que a família pode precisar para cuidar do idoso, tem casas adaptadas. Coisas que você vai comprar — cadeira de rodas, andador, roupas adaptadas, sapatos —, está tudo em exposição para ver de que a família necessita ou o próprio idoso vai escolher o que ele quer", conta a professora de gerontologia da USP (Universidade de São Paulo) Rosa Chubaci, que tem um convênio com o país.
Os bairros são adaptados para que seja criada uma rede de apoio ao idoso, visto que a média de filhos na região é baixa, de 1,3 por mulher, e exige um planejamento assertivo de assistência.
"Uma política pública que eles desenvolveram em todo o Japão é que cada bairro tem uma central, com uma equipe multiprofissional. Eles têm mapeado no bairro quantos idosos existem, onde eles moram, quais as condições de saúde, quais as condições sociais e econômicas, e essa central meio que se responsabiliza por aquele idoso", relata Rosa.
Isso significa que, em caso de intercorrências, como um mal-estar, a pessoa idosa liga para a central e recebe atendimento residencial imediato. As helpers, como são chamados os acompanhantes de idosos, também existem em grande número no país.
O governo age em colaboração com as comunidades, que contam com uma estrutura de voluntários aposentados para dar respaldo aos idosos do entorno.
"Os aposentados que são ativos apadrinham [os idosos]. Por exemplo, minha tia, [que mora] no Japão, apadrinha 50 idosos do bairro dela; então, na semana, ela sabe direitinho qual idoso que está com alguma dor de garganta [por exemplo], porque a pessoa liga para ela e diz ‘ai, eu tô com dor de garganta. Você pode me acompanhar ao médico?’", descreve a professora.
Após a ligação, o voluntário faz a mediação do atendimento com o query manager, termo usado para definir o gestor de cuidado, função exercida pelo gerontólogo no Brasil, e leva aquele idoso até o atendimento.
Um projeto que o Brasil tem em comum com o país é o investimento em CDIs (Centros Dia Para Idosos), uma instituição que atende, de forma especializada, idosos e pessoas com deficiência com algum grau de dependência de cuidados.
Esses centros estão previstos na legislação nacional, mais precisamente na Lei n° 10.741, de 1º de outubro de 2002, conhecida como Política Nacional do Idoso. O Estatuto do Idoso também prevê na Lei nº 10.741 a criação de CDIs.
O Japão, que conta com população de 125,7 milhões, segundo estimativa recente do Banco Mundial, tem esses centros espalhados em todo o país.
"No Japão existem 40 mil Centros Dia, porque é uma maneira de manter aquele idoso na sua casa e cuidá-lo durante o dia, e também retardar a ida dessa pessoa para uma instituição de longa permanência", informa Rosa.
Aqui no Brasil, o estado de São Paulo, que tem 46,6 milhões de residentes, dispõe de 25 Centros Dia.
Conforme ressalta Rosa, apenas "em São Paulo precisaria haver uns 5.000 para poder atender a toda a população. Existem vários particulares, mas não são todos os que conseguem pagar".
A tecnologia também faz parte das estratégias. A cidade japonesa de Ina, localizada na província de Nagano, por exemplo, digitalizou o processo de atendimento da população idosa. A região faz uso de drones para efetuar entregas a essas pessoas e disponibiliza cuidados médicos a distância para aqueles que vivem em zonas isoladas.
Nos chamados Alpes Japoneses, região afetada por invernos rigorosos, uma clínica móvel faz o atendimento domiciliar de idosos.
Algumas cidades, como Minamisoma, também contam com centros de testes para robôs especializados em fornecer tarefas essenciais nas mais variadas condições — no ar, debaixo d’água e no solo, por exemplo.
Para Rosa, o país tem uma mentalidade que deve se tornar realidade no Brasil: "Não adianta só acrescentar os anos à vida, mas sim vida aos anos. Nós precisamos viver bem, envelhecer bem".
*Estagiária do R7, sob supervisão de Fernando Mellis.
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