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Linhas da psicologia analisam mente humana de forma diferente

Psicólogo explica que todas as teorias são aptas para tratar qualquer transtorno ou distúrbio utilizando caminhos e ferramentas distintos

Saúde|Aline Chalet, do R7*

Psicanálise: Psicólogo sem contato visual com paciente
Psicanálise: Psicólogo sem contato visual com paciente Psicanálise: Psicólogo sem contato visual com paciente

Historicamente, a psicologia pertencia a uma área da filosofia — a epistemologia, ramo de estudos da natureza, origem e limitações do conhecimento. Com o passar dos anos, transformou-se em uma disciplina científica distinta, com diversos ramos de pesquisas importantes. Entre elas, a experimental, biológica, cognitiva, do desenvolvimento, personalidade e a social. A ciência também agrega subáreas de aplicação, como a clínica, organizacional, escolar, da saúde, entre outras.

O que muitas pessoas confundem, entretanto, são as diferentes abordagens de um tratamento terapêutico. São os métodos ou estratégias específicas, utilizados para atingir um objetivo ou propósito, visando as necessidades do paciente. Esses instrumentos de trabalho, chamados corriqueiramente de "linhas", entendem os comportamentos e subjetividades de formas diferentes — embora tenham todos uma mesma finalidade, em consultório. “Cada uma das abordagens trabalha ferramentas e caminhos distintos para um mesmo objetivo, que é acolher o paciente”, afirma o psicólogo Yuri Busin (CRP-06/107708), diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME).

Segundo ele, todas as abordagens são capazes de tratar qualquer distúrbio ou transtorno e a escolha por uma abordagem ou prática psicológica deve ser feita com base na preferência do paciente. Busin recomenda marcar uma consulta inicial para tirar as dúvidas, uma vez que as decisões dependem exclusivamente da experiência pessoal que cada paciente terá ao vivenciar seu processo de psicoterapia.

O profissional alerta, ainda, que é importante procurar sempre um psicólogo ou um psicoterapeuta que seja ativo no Conselho Regional que normatiza e fiscaliza os profissionais da área. “Muitas pessoas não sabem a diferença e se confundem na procura de um profissional da saúde mental. Terapeutas, apenas, não se formaram em um curso de Psicologia e não respondem a um conselho que determina um código de ética, que padroniza práticas de atendimento, entre outras questões importantes que, acima de tudo, preservem e guardem o paciente que o busca o serviço”, afirma.

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O curso de graduação em Psicologia — que envolve cinco anos de formação e centenas de horas de estágios e experiências práticas de atendimento —, é o único que pode preparar este profissional. Para além dos estudos aprofundados das abordagens clínicas, o psicólogo graduado também passa por aulas de anatomia, estudo do cérebro, observações in loco dos mais diferentes ambientes, psicopatologia, entre outras disciplinas específicas. Para Busin, além da confusão e da falta de informação sobre o que é a psicoterapia, também não há uma regulamentação adequada - tanto para os atuais coaches, como para os chamados terapeutas alternativos.

O psicólogo explica que todas as abordagens tentam, de alguma forma, entender por que agimos de determinadas maneiras, para quê agimos assim e, principalmente, como podemos solucionar estas questões por meio de longas conversas e intervenções. Cada uma delas tem um enfoque único — todos eficientes, à sua maneira e forma de trabalhar.

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Ele lembra que a psicologia não é uma ciência exata e que não existem fórmulas mágicas ou mesmo rápidas para responder às perguntas de cada paciente. “O trabalho do psicólogo, muitas vezes, é o de um artesão. E nossas teorias são as ferramentas”, afirma.

Psicanálise - O inconsciente e suas interpretações

Traumas de infância são investigados na psicanálise
Traumas de infância são investigados na psicanálise Traumas de infância são investigados na psicanálise

A abordagem clínica mais popular do mundo foi fundada pelo médico Sigmund Freud, no início do século 20. Este campo de aplicação e pesquisa baseia-se no conceito de que a atividade mental é inconsciente e que o desafio de entender os sujeitos requer a interpretação do significados de seus comportamentos, sejam eles evidentes ou manifestos.

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O foco está na influência dessas forças inconscientes, como impulsos reprimidos, conflitos internos (sejam eles atuais ou passados) e também traumas de infância sobre a vida mental e o ajustamento do indivíduo.

Entre os métodos específicos utilizados para atingir este objetivo, estão a chamada livre associação, a análise dos sonhos, das resistências e defesas, bem como a elaboração dos sentimentos revelados em sessão.

Psicologia Analítica - Equilíbrio e criatividade

Discípulo de Freud, o também médico Carl Gustav Jung expandiu sua teoria e criou conceitos novos, ganhando assim uma "escola" de pensamento única. Para ele, a chamada "psique" é interpretada principalmente em termos de valores filosóficos, imagens e símbolos, que impulsionam o sujeito para a autorrealização.

Ego, inconsciente pessoal e coletivo, arquétipos e polaridades dinâmicas são alguns dos fatores que constituem os fundamentos herdados da personalidade e da vida intelectual do indivíduo e seus valores. E estes necessitam ser equilibrados para uma vida mais saudável.

Jung também incluiu, ao longo de sua vida e estudos, formas artísticas como forma de projeção do inconsciente. Para ele, a música e a arte poderiam ser auxiliares nas formas de manifestação do corpo e da mente. Atividades com argila, desenho, pintura e até uma caixa de areia podem ser elementos utilizados em determinados tratamentos - especialmente com crianças e pacientes psiquiátricos. No Brasil, o maior ícone da psicologia analítica em toda a história foi a psiquiatra Nise da Silveira, aluna do próprio Jung.

Busin explica que a abordagem teórica junguiana também aborda o inconsciente, como na psicanálise, embora seja mais simbólica. Aqui, de acordo com o profissional, o foco está em entender o que fazemos e para que/quem.

Behaviorismo - Ciência, objetividade e observação

A abordagem formulada por John Watson, em 1913, é baseada no estudo de fatos objetivos e observáveis, e não em processos subjetivos ou qualitativos, como sentimentos, motivos e consciência.

Como ciência naturalista, o behaviorismo pretende avaliar os eventos de forma quantitativa, por meio de técnicas como o estímulo-resposta, efeitos de condicionamento, processos fisiológicos e investigações por meio de experimentos comprovados.

Para estes profissionais, a mente não pode ser um tópico adequado para estudo científico por ter características subjetivas e não verificáveis de modo independente. Por isso, sua ênfase é na atividade dos sujeitos como uma função adaptativa - que requer treino e rigor, em condições controladas.

Terapia cognitivo-comportamental - Pensamento, emoção e comportamento

A popular TCC é uma forma de psicoterapia que integra teorias de cognição e aprendizagem com técnicas específicas - e mais objetivas. Ela pressupõe que variáveis cognitivas, comportamentais e emocionais estão funcionalmente inter-relacionadas.

O tratamento objetiva identificar e modificar processos de pensamento considerados desadaptativos e comportamentos "problemáticos" por meio de uma reestruturação cognitiva para obter mudanças que sejam significativas para o cliente.

Busin explica que as intervenções, sejam curtas ou mais expressivas, são importantes para o desenvolvimento deste trabalho conjunto. “É uma conversa e o profissional tem liberdade de propor coisas para o paciente, não escolher o que fazer. Nenhuma abordagem terapêutica é capaz de tomar decisões pela pessoa, mas sim, propor tarefas, atividades e reflexões”, explica.

Psicodrama - Você é o seu próprio palco

Técnica de psicoterapia onde os pacientes adquirem novos "insights" e alteram padrões de comportamento indesejados por meio da interpretação de papéis ou incidentes. O cliente é o protagonista da situação, onde apresenta seus problemas emocionais e relacionamentos interpessoais.

Por meio deste desempenho de papéis, em uma dinâmica similar ao teatro, o paciente pode se permitir enxergar a situação de outros ângulos, bem como se colocar no lugar do outro (personagem). Entre as técnicas utilizadas, também estão a interpretação dos sonhos e dramatizações hipnóticas.

Para além das mais conhecidas, descritas acima, outras técnicas de psicoterapia podem ser aplicadas, de acordo com as necessidades de cada paciente. A terapia sistêmica, ou familiar, por exemplo, focaliza o aperfeiçoamento das relações inter-familiares e padrões comportamentais da unidade como um todo.

A fenomenologia, também bastante aplicada na psicologia clínica, tem como preocupação fundamental a natureza da experiência consciente imediata. Fundada por Edmund Husserl, entre os anos de 1910 e 1920, a corrente de pensamento acredita que eventos mentais devem ser estudados e descritos em seus próprios termos, e não em sua relação com episódios passados ou o mundo exterior. A intencionalidade e a existência são seus principais objetos de observação.

Dela também deriva a Gestalt, também conhecida como terapia humanista, que acredita no desenvolvimento individual de cada ser humano e em sua capacidade de desenvolver o próprio potencial para resolver questões e incômodos mais pontuais.

Grande parte dos profissionais da Psicologia são ortodoxos em relação à abordagem que escolheram seguir para acolher aos pacientes e suas angústias. Outros são mais flexíveis e integrativos, por acreditarem que a técnica não depende de sua escolha, mas da adaptação do paciente. O mais importante, de toda forma, é encontrar um profissional com o qual você se identifique e consiga transferir suas melhores experiências, aconselha o profissional.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Fernando Mellis.

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