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Médico francês defensor da cloroquina é proibido de exercer a profissão por dois anos

Didier Raoult promoveu o medicamento durante a pandemia de Covid-19, mesmo sem evidência científica de eficácia contra a doença

Saúde|Do R7

Médico já havia sofrido outras sanções antes desta Chinese Business Club/Wikimedia Commons

O microbiologista francês Didier Raoult, conhecido por sua defesa polêmica da cloroquina/hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19, foi proibido de exercer a medicina por dois anos, a partir de 1º de fevereiro de 2024. A decisão foi tomada pela câmara disciplinar nacional e representa uma sanção mais severa do que a reprimenda aplicada em 2021, informa o jornal Le Parisian.

O caso de Raoult ganhou grande repercussão durante a pandemia, quando ele contrariou a comunidade científica ao promover o uso de um medicamento sem comprovação suficiente de eficácia. O nome dele, inclusive, foi usado amplamente por defensores do chamado “kit Covid” aqui no Brasil.

A principal acusação contra o ex-diretor do IHU (Instituto Hospitalar Universitário) de Marselha foi a promoção da hidroxicloroquina, um tratamento que, segundo a câmara disciplinar, não contava com dados científicos robustos para ser recomendado.

Raoult foi criticado por ter agido sem prudência em suas declarações públicas, incentivando o uso de uma terapia que não havia sido suficientemente testada, o que contraria os princípios do código de saúde pública francês.


Além disso, Raoult realizou um estudo clínico com cerca de 30 mil pacientes sem a devida autorização das autoridades sanitárias, o que foi classificado como um “ensaio clínico selvagem” por seus críticos. Embora o microbiologista tenha evitado tratar pacientes com fatores de risco elevados, ele foi duramente condenado por desrespeitar as normas legais para a realização de pesquisas biomédicas.

O código de saúde pública francês exige que qualquer pesquisa desse tipo siga estritamente as regulamentações em vigor. Raoult, que se aposentou em 2022 e deixou todas as suas funções no IHU, também foi punido por violar o código de confraternidade médica.


Durante a pandemia, ele fez declarações ofensivas contra outros profissionais de saúde, acusando, por exemplo, um colega de realizar ensaios que teriam causado a morte de crianças. Esse tipo de comportamento foi considerado inaceitável pelos reguladores, que afirmaram que Raoult ultrapassou os limites da liberdade de expressão.

Crítico das políticas de vacinação em massa e dos confinamentos impostos pelo governo durante a pandemia, Raoult se tornou uma figura polarizadora na França. Embora rejeitado por grande parte da comunidade científica, ele conquistou o apoio de grupos que questionavam a gestão da crise sanitária. Sua postura pública, contudo, foi considerada prejudicial às medidas de saúde pública, segundo o relatório da câmara disciplinar.


A decisão contra Raoult tem um caráter majoritariamente simbólico, já que ele não exerce mais a medicina. No entanto, ela levanta questões sobre a ética e a responsabilidade de médicos em posições de influência. A investigação judicial contra ele por suspeitas de ensaios clínicos não autorizados continua em andamento.

Estudos científicos robustos e ensaios clínicos randomizados demostraram que a hidroxicloroquina é ineficaz no tratamento da Covid-19. Uma revisão abrangente de 12 ensaios clínicos, envolvendo 8.569 pacientes, concluiu que o uso do medicamento não reduziu a mortalidade nem melhorou os resultados clínicos, como a necessidade de ventilação mecânica ou a eliminação do vírus.

Além disso, o remédio foi associado a um risco elevado de eventos adversos, incluindo problemas cardíacos graves, como o prolongamento do intervalo QT, o que pode levar a arritmias fatais. Portanto, os benefícios da hidroxicloroquina são, na melhor das hipóteses, inexistentes para a maioria dos pacientes com Covid-19, enquanto os riscos são consideráveis​.

As principais agências de saúde, como a FDA (Estados Unidos) e a OMS (Organização Mundial da Saúde), revogaram autorizações de uso emergencial da hidroxicloroquina para a Covid-19 devido à falta de eficácia comprovada e aos riscos associados. Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e outras entidades médicas também reforçaram que a hidroxicloroquina deve ser evitada fora de ambientes hospitalares ou ensaios clínicos, especialmente devido aos potenciais efeitos colaterais.

No Brasil, a defesa da hidroxicloroquina ganhou enfoque político, ao ser defendida pelo então presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. O Ministério da Saúde chegou a incluir no SUS o chamado tratamento precoce, que incluía também o antibiótico azitromicina, o antiparasitário ivermectina, entre outros fármacos, nenhum deles eficaz contra a infecção pelo coronavírus.

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