"Médicos fantasmas", o lado obscuro da cirurgia estética sul-coreana
Saúde|Do R7
Atahualpa Amerise. Seul, 1 jun (EFE).- Cirurgiões plásticos com pouca experiência, e algumas vezes sem especialização, estão causando graves danos a pacientes nas salas de cirurgia da Coreia do Sul: são os conhecidos como "médicos fantasmas", que substituem clandestinamente os profissionais qualificados. Park H.I., um estudante de 26 anos de Cheonan, ao sul de Seul, pagou 12 milhões de wons (quase R$ 34 milhões) para afiar sua mandíbula com uma dupla cirurgia maxilofacial em 2012, mas seu aspecto piorou, além de ter ficado com edemas e paralisia parcial. "Fui ao doutor Sang porque era muito prestigiado. Estranhei que me mandassem para a sala de cirurgia em apenas uma semana, mas ele mesmo confirmou que se encarregaria da operação e me explicou o processo", contou Park à Agência Efe. A Coreia do Sul é um dos líderes mundiais em cirurgia plástica, com mais de quatro mil clínicas, 250 mil operações estéticas ao ano e o maior percentual de intervenções per capita do mundo, 13 para cada mil habitantes, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Estética e Plástica (ISAPS). Assim, os cirurgiões de mais renome não são capazes de cobrir a forte demanda, e parte dos clientes acabam nas mãos dos "médicos fantasmas". Park, que tinha escutado rumores sobre este fenômeno, escondeu no bolso de seu pijama um gravador ligado minutos antes de ser sedado pela anestesista. O que escutou assim que recuperou a consciência o deixou "aterrorizado", confessou. "Quando dormi chegou outro cirurgião que não era o doutor Sang e, enquanto me operava, seus ajudantes se dedicaram a tocar meu corpo e fazer brincadeiras sobre minha extrema magreza", revelou este jovem de 1,80 metro e apenas 57 quilos. Entrar na sala de cirurgia foi "a pior decisão da minha vida, já que era bonito apesar de algumas imperfeições", lamentou Park, que agora sofre edemas faciais com frequência, não sente parte de seu queixo e seu nariz está mais plano, "tudo ao contrário do que me prometeram", protestou. Após aparecer estes efeitos colaterias, ele denunciou a clínica, e o julgamento ainda está em curso, embora neste tipo de caso "a vítima sempre tenda a perder", explicou à Efe o representante legal da Organização de Alianças de Pacientes de Coreia (KAPO), An Gi-jong. "Quando o paciente entra com um processo geralmente a clínica contra-ataca e processa por difamação, o que acaba exigindo dos pacientes muito tempo e dinheiro para continuar com a ação. A maioria se dá por vencida", disse An. Além disso, embora no caso de Park a presença de um "médico fantasma" tenha ficado registrada em seu gravador, a maioria dos pacientes não possui provas conclusivas e as clínicas sempre negam o uso ilícito de segundos cirurgiões. É por este isto, explicou o advogado, que se desconhece o número de intervenções de "médicos fantasmas" no país, embora as reivindicações de pacientes por erros em cirurgia estética tenham crescido progressivamente, de 3.740 casos em 2012 para 4.806 em 2013 e chegando a 5.005 ano passado, segundo o Centro de Consultas da Coreia do Sul. Uma das organizações mais beligerantes contra esta prática ilegal é a Associação de Cirurgiões Plásticos de Coreia, presidida pelo médico veterano Kim Sung-woong, que explicou à Efe os perigos que acarreta. Kim destaca em primeiro lugar que "em cirurgia plástica é fundamental que o cirurgião conheça o cliente pessoalmente e estude seu caso", o que não ocorre com os "médicos fantasmas" já que seu primeiro contato com o paciente é na sala de cirurgia. Além disso, denunciou "que substituem clandestinamente os cirurgiões principais, e muitas vezes não possuem experiência, em alguns casos nem sequer título". O médico contou o caso de uma jovem de 19 anos que ano passado teve morte cerebral após uma aparentemente simples operação de pálpebras e nariz que teria sido realizada por um "médico fantasma". "Esta prática ilegal transforma as salas de cirurgia em salas de vivissecção. Põem a vida do paciente em perigo", sentenciou. EFE aaf/cd/rsd (foto)