Meninos presos em caverna poderão ter fobias no futuro, diz psiquiatra
Doze garotos aguardam resgate em caverna na Tailândia; especialista afirma que medo da morte deve gerar ansiedade mesmo após resolução do caso
Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7
A situação pela qual 12 garotos e seu treinador de futebol estão passando há 9 dias, presos em uma caverna na Tailândia, deve resultar em sequelas psicológicas no futuro mesmo após um bem-sucedido resgate.
“Trata-se de uma situação aterradora de morte próxima”, explica o psiquiatra Francisco Assumpção, coordenador do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Segundo ele, os garotos podem sofrer estresse pós-traumático, desenvolvendo fobias de espaços restritos ou escuro.
Assumpção considera “quase impossível" não desenvolverem quadros depressivo-ansiosos com revivescência do fato vivido.
"O medo presente deve ser muito grande. Terão que ter acompanhamento psicoterapêutico para lhes dar suporte e ajudá-los a enfrentar a ansiedade, que vai continuar”, diz.
O psiquiatra acredita que, neste momento, o mais importante é ajudá-los a manter a calma. "A situação é muito estressante e de risco, eles estão praticamente sozinhos. O treinador pode ajudar, mas não muito porque ele também é jovem, também deve estar com medo e se sentindo responsável. Não dá pra se dizer que ele está bem para ajudar".
O drama começou no dia 23 de junho, quando eles entraram na caverna, não se sabe por qual motivo. Devido à chuva, a água subiu e bloqueou a saída. Eles foram encontrados nesta segunda-feira (2) depois de passarem 9 dias sem comida.
O resgate ainda não foi feito. De acordo com autoridades locais, a água tomou conta da caverna e, para sair, os meninos precisam aprender a mergulhar em ainda assim, seria arriscado porque o caminho de volta passa por lugares estreitos, sem visibilidade. Um mergulhador inexperiente poderia entrar em pânico e colocar os outros em apuros.
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Apesar de terem recebido alimentos e remédios, as condições físicas e psicológicas são frágeis.
De acordo com a pediatra Nathalia Altieri da Cunha, da Sociedade Brasileira de Pediatria, a água da chuva pode ter ajudado os meninos a sobreviver até a chegada do resgate.
Isso porque o organismo pode resistir a um período sem comida, mas não sem água.
“Claro que a água suja pode estar contaminada e trazer doenças, mas em uma situação extrema como essa, o risco de não beber é muito maior. A água pode ter salvado a vida deles”.
A médica explica que nestes períodos sem alimento, para se manter, o corpo começa a consumir a gordura armazenada e a massa muscular.
Existem ainda dois fatores preocupantes. O primeiro é a hipotermia, quando o ambiente está muito frio e faz com que a temperatura corporal fique abaixo dos 35 graus. Isso prejudica a circulação sanguínea e o funcionamento dos órgãos, podendo levar à morte.
A pediatra explica que o fato de eles estarem juntos pode ajudar a evitar o problema “Agrupados, eles conseguem produzir calor para evitar a queda de temperatura”.
O outro fator é a falta de vitamina D. Já são mais de dez dias em um lugar escuro, sem a luz do sol. A dificuldade de resgate pode fazer com que eles tenham de ficar até mais quatro meses no local.
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A falta de vitamina D. Nathalia Altieri da Cunha explica que este problema pode ser evitado.
“Caso eles precisem ficar lá por mais tempo, é importante que recebam suplementação de vitamina D, a valta desta vitamina no organismo pode prejudicar os ossos e causar atrasos no desenvolvimento”.
Resgate de meninos em caverna na Tailândia emociona pais e equipe: