Menos de 50% das crianças com 2 anos têm vacinação completa nas capitais do Centro-Oeste
Campo Grande apresenta apenas 40% de vacinação completa em crianças aos 24 meses, segundo pesquisa feita por universidades
Saúde|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília
Um estudo realizado pelas universidades federais do Centro-Oeste revelou que a vacinação infantil está abaixo da meta em todas as capitais da região — Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Brasília (DF). Em média, apenas sete em cada dez crianças completaram o esquema vacinal recomendado até os 12 meses de vida.
Esse índice cai ainda mais aos 24 meses, com apenas cinco em cada dez crianças em dia com vacinas como BCG, tríplice viral e hepatite B.
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Campo Grande apresentou o menor índice entre as capitais: aos 2 anos, apenas quatro em cada dez crianças estão totalmente imunizadas. Nenhuma das capitais conseguiu atingir a meta de cobertura imposta pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), que é de 90%.
Entre setembro de 2020 e março de 2022, pesquisadores da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), UFG (Universidade Federal de Goiás), UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e UnB (Universidade de Brasília) analisaram a vacinação de 5.715 crianças nascidas em 2017 e 2018.
A coleta de dados foi realizada com base em questionários e nas cadernetas de vacinação das crianças. Fatores socioeconômicos, como renda familiar e escolaridade dos responsáveis, também foram analisados para entender possíveis influências na cobertura vacinal.
Salário maior, menor cobertura vacinal
A cobertura vacinal diminui à medida que a renda familiar aumenta. A exceção foi Cuiabá, onde a cobertura vacinal entre crianças de famílias com renda superior a R$ 8 mil e com maior escolaridade foi a melhor entre as capitais, atingindo 55%.
Em Brasília, apenas 28% das crianças de famílias com melhores condições financeiras completaram o esquema vacinal. Em Campo Grande, esse índice foi de 25%.
Para a professora da Faculdade de Enfermagem da UFMT e coordenadora do estudo, Jaqueline Costa Lima, isso demonstra que a região Centro-Oeste não segue ações direcionadas pelo Ministério da Saúde.
Segundo ela, as diferenças entre classes sociais abrem novas discussões sobre hesitação vacinal e acesso à informação.
“Entre as famílias de maior renda, o abandono da vacinação pode ocorrer por hesitação ou até mesmo por orientações equivocadas de profissionais de saúde, enquanto entre as famílias de menor renda o motivo é, muitas vezes, a falta de acesso e conhecimento”, explica Costa Lima.
Os pesquisadores alertam que a baixa cobertura vacinal, especialmente nas faixas etárias mais jovens, aumenta o risco de reintrodução de doenças já controladas, como o sarampo, comprometendo avanços sanitários obtidos nas últimas décadas.
“Esses dados podem subsidiar políticas públicas que considerem as desigualdades sociais e as vacinas com menor cobertura, especialmente até os 24 meses”, afirma Lima.
O R7 entrou em contato com o Ministério da Saúde questionando sobre os baixos índices de cobertura vacinal infantil nas capitais da região Centro-Oeste, e a pasta respondeu que está comprometida com “a recuperação das coberturas vacinais e o combate à desinformação sobre vacinas”. O ministério destacou que “o maior desafio na proteção da população continua a ser os ataques sistemáticos de desinformação que colocam em dúvida a segurança e eficácia das vacinas, com foco especial na vacinação de crianças”.
“Entre os avanços alcançados no período, destaca-se a reversão da tendência de queda na vacinação: em 2023, 13 das 16 principais vacinas do Calendário Nacional de Vacinação registraram crescimento em comparação a 2022. Além disso, o Brasil foi reconhecido em um relatório da UNICEF/OMS, que apontou que o país saiu da lista dos 20 com mais crianças não vacinadas no mundo; em 2021, ocupava o 7º lugar”, disse o ministério.
Leia a íntegra da resposta do Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde está comprometido com a recuperação das coberturas vacinais e o combate à desinformação sobre vacinas. Entre os avanços alcançados no período, destaca-se a reversão da tendência de queda na vacinação: em 2023, 13 das 16 principais vacinas do Calendário Nacional de Vacinação registraram crescimento em comparação a 2022. Além disso, o Brasil foi reconhecido em um relatório da UNICEF/OMS, que apontou que o país saiu da lista dos 20 com mais crianças não vacinadas no mundo; em 2021, ocupava o 7º lugar.
O maior desafio na proteção da população continua a ser os ataques sistemáticos de desinformação que colocam em dúvida a segurança e eficácia das vacinas, com foco especial na vacinação de crianças.
A estratégia de vacinação atual do Ministério da Saúde é baseada em evidências científicas, discutida com especialistas e segue as diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Desde que assumiu, a gestão do Ministério da Saúde priorizou a recuperação da confiança da população na vacinação para que o Brasil volte a ser uma referência internacional, após a acentuada queda vacinal no último governo.
Entre as medidas, destacam-se o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, que mobiliza toda a sociedade; a realização de campanhas publicitárias; a adoção de uma estratégia de microplanejamento, com ações adaptadas à realidade local; e o combate à desinformação por meio do programa Saúde com Ciência. Também são promovidas ações específicas, como a vacinação nas escolas, que facilitam o acesso de crianças e adolescentes aos imunizantes.