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Mortes por insuficiência cardíaca estão aumentando; novos tratamentos podem ajudar

Taxas crescentes de distúrbios metabólicos, como obesidade, diabetes e hipertensão arterial, podem contribuir para aumento

Saúde| Nina Agrawal, do The New York Times

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Mortes por insuficiência cardíaca têm aumentado em todos os Estados Unidos desde 2012 Pixabay/Licença Gratuita

Ann Ramirez percebeu pela primeira vez que algo estava errado quando, aos 48 anos, começou a acordar no meio da noite sem fôlego. Parecia que estava debaixo d'água e que precisava esperar que uma onda passasse para voltar à tona e respirar. “Era muito assustador, porque eu não sabia quanto tempo aquela onda ia durar”, contou Ramirez, que agora tem 55 anos.

Durante meses, ela considerou que esse problema poderia ser um agravamento de sua asma, ansiedade em razão do diagnóstico recente de câncer de seu pai ou um sinal de menopausa iminente. Mas, quando finalmente fez um check-up, um médico constatou que Ramirez estava com insuficiência cardíaca. Seu quadro se agravou tanto que precisou de um transplante de coração.


A insuficiência cardíaca é uma doença que ocorre quando o coração não consegue bombear sangue e oxigênio suficientes para suprir as necessidades do corpo. As mortes decorrentes dela têm aumentado constantemente em todos os Estados Unidos desde 2012, revertendo a tendência anterior de queda. É provável que as taxas crescentes de distúrbios metabólicos, como a obesidade, a diabetes e a hipertensão arterial, estejam contribuindo para esse aumento.

Segundo os médicos, existem medicamentos para tratar um dos dois principais tipos de insuficiência cardíaca, mas que eles não são tão usados como deveriam. “Os tratamentos que foram comprovados em estudos clínicos não estão sendo prescritos a tempo”, disse Janet Wright, diretora da divisão de prevenção de doenças cardíacas e acidentes vasculares do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Mas a crescente compreensão da doença e de seus fatores de risco pode mudar esse cenário. Além disso, os novos medicamentos para tratar a outra forma de insuficiência cardíaca também podem transformar o prognóstico dos pacientes.


O que é a insuficiência cardíaca?

Existem dois tipos principais. O primeiro é o que Ramirez experimentou, conhecido como insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, em que o músculo cardíaco está enfraquecido e não consegue bombear sangue de maneira adequada. Na insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, por outro lado, o coração se contrai normalmente, mas o músculo está rígido e não consegue relaxar. As pessoas com qualquer um dos dois tipos costumam apresentar falta de ar, fadiga e inchaço nas pernas e nos pés. Podem ser hospitalizadas repetidamente e têm cerca de 50% de chance de viver cinco anos depois da primeira internação.

De acordo com Chiadi Ndumele, diretor do programa de prevenção de insuficiência cardíaca da Universidade Johns Hopkins, os estudos estimam que metade dos pacientes com insuficiência cardíaca tem o tipo com fração de ejeção preservada, e sua prevalência está aumentando à medida que crescem os casos de doenças crônicas que a desencadeiam.


Ann Ramirez, que sofria de uma doença cardíaca grave, teve de fazer transplante Jackie Russo/The New York Times

Qual é a causa?

A hipertensão arterial é uma das principais causas de insuficiência cardíaca, bem como as artérias bloqueadas. A pressão alta aumenta o esforço do coração, enquanto as artérias bloqueadas impedem que o músculo cardíaco receba o oxigênio necessário. Outros fatores de risco são semelhantes aos do ataque cardíaco e do acidente vascular cerebral, ou AVC, incluindo a obesidade, a diabetes e as doenças renais.

O consumo de álcool e de drogas, como a cocaína e as metanfetaminas, também pode ser tóxico para o coração e aumentar o risco de insuficiência cardíaca, informou Michelle Kittleson, professora de cardiologia do Instituto do Coração Smidt do Cedars-Sinai, em Los Angeles. Segundo Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade do Noroeste, há alguns fatores de risco adicionais específicos para as mulheres, incluindo a menopausa antes dos 45 anos e a hipertensão durante a gravidez.


O que está impulsionando o aumento das mortes por insuficiência cardíaca?

Os médicos disseram que uma maior conscientização e melhores diagnósticos de insuficiência cardíaca podem estar contribuindo para parte do aumento documentado das mortes. Também refletem, em parte, os avanços da medicina: as pessoas estão vivendo mais e sobrevivendo a infartos. A insuficiência cardíaca tende a se tornar mais comum com o envelhecimento, e um ataque cardíaco provoca danos no músculo do coração.

Mas a causa principal, de acordo com os médicos, é provavelmente o aumento dos fatores de risco metabólicos, como a obesidade e a diabetes – e em pacientes cada vez mais jovens. Em 2021, houve quase 48 mortes por insuficiência cardíaca para cada cem mil pessoas com idade entre 45 e 64 anos, contra 32 em 2012. As taxas de mortalidade entre os homens, as pessoas negras e os indivíduos que vivem em áreas rurais e nas regiões Sul e Centro-Oeste dos Estados Unidos também aumentaram acentuadamente.

Kittleson disse que algumas dessas tendências refletem a carga desproporcional da insuficiência cardíaca em populações vulneráveis. Os norte-americanos negros, por exemplo, têm maior probabilidade do que os brancos de desenvolver hipertensão arterial e complicações associadas a ela, como a doença renal avançada e a insuficiência cardíaca.

Quais são os tratamentos disponíveis?

Os tratamentos para a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida são “uma conquista” da medicina, afirmou Kittleson. Os cientistas descobriram vias biológicas envolvidas na doença, o que levou ao desenvolvimento de terapias que melhoram a qualidade de vida dos pacientes, prolongam sua sobrevida e reduzem as internações hospitalares. Esses tratamentos incluem medicamentos que diminuem a sobrecarga do coração, reduzem a pressão arterial, auxiliam o corpo a eliminar mais sódio e água e ajudam a controlar os níveis de glicose no sangue.

Mas Kittleson comentou que tentar tratar a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada tem sido “extremamente desafiador”. Os esforços para fazer os tratamentos que funcionaram claramente com a outra forma da doença muitas vezes falharam de maneira desastrosa com essa. Mas, nos últimos cinco anos, os cientistas demonstraram que os medicamentos chamados inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (SGLT2) podem reduzir a mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.

No ano passado, um grande ensaio clínico comprovou que um medicamento chamado finerenona pode reduzir as hospitalizações e mortes por insuficiência cardíaca. Além disso, estudos recentes mostraram que, em pacientes com obesidade e insuficiência cardíaca, os medicamentos para perda de peso semaglutida e tirzepatida podem reduzir as ocorrências de insuficiência cardíaca e aumentar a distância que essas pessoas conseguem caminhar.

As novas terapias têm potencial para transformar o tratamento da insuficiência cardíaca. Mas Khan disse que, por enquanto, esses medicamentos continuam “extremamente caros e inacessíveis para a maioria das pessoas”. Ainda não há versões genéricas que reduzam os custos, e conseguir a aprovação do convênio pode ser um desafio.

Quem enfrenta condições sociais que afetam sua saúde de maneira negativa – como a pobreza, a falta de acesso à educação, o desemprego e a insegurança alimentar – tem maior probabilidade de desenvolver obesidade e diabetes. De acordo com Ndumele, também apresenta maior risco de complicações dessas condições, como a insuficiência cardíaca, “em decorrência do diagnóstico tardio, do autocuidado inadequado e de um menor acesso ao sistema de saúde”. Além disso, é mais provável que não tenha um convênio abrangente que cubra os medicamentos que salvam vidas. “Fizemos avanços notáveis na maneira como podemos tratar a insuficiência cardíaca, mas agora vem a parte difícil: tornar o tratamento acessível, disponível e equitativo”, afirmou Khan.

c. 2025 The New York Times Company

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