No Brasil, 50% das mulheres descobrem lesões pré-câncer no útero em fase avançada, diz estudo
Fundação Câncer traçou um perfil epidemiológico dos tumores no colo do útero e constatou que pacientes chegam a esperar mais de 60 dias para começarem o tratamento
Saúde|Do R7
A Fundação Câncer desenvolveu uma pesquisa inédita mostrando que 50% dos casos de neoplasia do colo do útero — lesões pré-câncer causadas pelo HPV — são diagnosticados em fase avançada no Brasil.
De acordo com o documento, esse dado sugere falhas no diagnóstico precoce desse tipo de tumor, o que implica diretamente na maior mortalidade e na menor sobrevida de mulheres que apresentam essa doença.
Luiz Antonio Santini, ex-diretor do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e pesquisador associado ao Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), ressaltou: "O câncer do colo do útero tem ligação direta com o HPV. Vale ressaltar que não há correlação do câncer do colo do útero com o envelhecimento populacional, mas sim com a ausência de detecção precoce, diagnóstico e tratamento oportuno."
O levantamento analisou 174.952 mulheres, sendo 112.823 com câncer de colo de útero, e 62.129 mulheres com HPV e foram consideradas as bases de dados enviadas por mais de 300 hospitais para o Integrador de Registros Hospitalares de Câncer (iRHC), de 2005 até 2019.
O câncer no colo do útero é considerado um problema de saúde pública no Brasil e está entre as cinco enfermidades de maior incidência entre as brasileiras. É a quarta causa de morte por câncer em mulheres no país.
A mortalidade anual por câncer no colo do útero no Brasil é de aproximadamente 4,6 mulheres a cada 100.000. Em alguns países desenvolvidos, como Austrália e Nova Zelândia, não há registros de morte de mulheres por câncer de colo do útero. Em outros os números são bem menores, como nos Estados Unidos, em que o índice é 2,2 por 100.000.
O número alto de óbitos, mesmo em se tratando de um câncer com alta taxa de cura, se deve também à demora no tratamento. A pesquisa da Fundação Câncer revela que 65,8% das mulheres no Brasil demoram mais de 60 dias para começar o tratamento.
Os pesquisadores usaram esse intervalo entre o diagnóstico e o início do tratamento porque há uma lei de 2012 que determina que pacientes com câncer devem iniciar o tratamento em até 60 dias após a descoberta da doença.
Os dados são ainda mais alarmantes no Norte do país. A região apresenta a maior taxa de incidência desse tipo de tumor do Brasil: foram diagnosticados 76 novos casos a cada 100 mil mulheres.
Consequentemente, é também a maior taxa de mortalidade, sendo que o risco de morte é três vezes maior na região Norte, se comparada à região Sudeste, que apresenta o menor índice do país.
Diagnóstico e prevenção
A principal forma de prevenção do tumor de colo do útero é a vacina contra o HPV, disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) para meninas de 9 a 14 anos e meninos na faixa etária entre 11 e 14 anos.
O imunizante protege contra os tipos 16 e 18 do HPV, responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero, segundo o Inca.
“Quem é vacinado tem o risco praticamente próximo de zero de desenvolver câncer do colo do útero. Então a vacinação é fundamental e é uma campanha mundial, porque se todo mundo se vacinar será possível erradicar esse tipo câncer”, afirmou o ginecologista Alexandre Pupo, dos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein.
Outra forma de prevenção é fazer o Papanicolau, exame de rotina, anualmente, a partir do começo da vida sexual.
Conheça as 20 piores dores que o ser humano pode sentir