Número de médicas cresce, mas elas ainda ganham menos que médicos
Segundo estudo da USP, apenas 2% das mulheres estão na faixa salarial mais alta, em comparação a 13% dos homens; motivo é discriminação de gênero
Saúde|Deborah Giannini, do R7
Embora a medicina esteja se tornando cada vez mais feminina, o salário das mulheres ainda é inferior ao de homens que ocupam as mesmas posições. Isso é o que mostrou um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo publicado no periódico BMJ Open.
A pesquisa afirma que os fatores por trás das diferenças de renda são indeterminados e que podem depender apenas da discriminação de gênero.
"Os resultados mostraram que quando a variável 'tempo de prática' foi analisada, observou-se diferenças salariais em todas as categorias, indicando que a disparidade não é produzida ao longo da carreira médica. Portanto, acreditamos que o gênero pode explicar a disparidade salarial encontrada", afirma o estudo.
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A pesquisa foi realizada com 2.400 médicos em todo o país. Os dados foram coletados por meio de pesquisa por telefone. Foram mapeados salários e condições de trabalho, como local, carga horária e especialidade.
A conclusão foi que existe uma significativa diferença salarial por gênero no Brasil. A probabilidade de homens receberem a faixa salarial mensal mais alta é maior que a das mulheres em todas as variantes. Quase 80% das mulheres estão concentradas nas três categorias salariais mais baixas, enquanto 51% dos homens estão nas três categorias mais altas.
Entre os profissionais que trabalham de 20 e 40 horas por semana, apenas 2,7% das mulheres relataram receber cerca de US$ 10.762 por mês (cerca de R$ 42.780), em comparação com 13% dos homens.
A probabilidade de homens receberem o nível salarial mais alto - acima de US$ 10.762 - é de 17% e, de mulheres, de apenas 4%.
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A desigualdade salarial entre os sexos persistiu em relação à carga horária, atendimento em consultório e plantões.
Essas disparidades também foram relatadas em um estudo britânico que demonstrou que a renda das médicas representava apenas 89% da renda dos médicos. Da mesma forma, nos Estados Unidos, as mulheres recebem 83% da renda dos homens, trabalhando o mesmo número de horas por semana.
Homens ocupam cargos de liderança na medicina
A pesquisa da USP ressalta que, no Brasil, as mulheres geralmente concentram-se em especialidades como clínica geral, pediatria, medicina da família, ginecologia e obstetrícia, que pagam menos se comparadas, por exemplo, com especialidades cirúrgicas, que são em sua maioria ocupadas por homens. Pagamentos desiguais dentro de especialidades também foram relatados.
Eles também tendem a ser empregados assalariados e são menos propensos a possuirem consultórios. O estudo ainda aponta que homens tendem a ocupar posições de liderança com mais frequência do que as mulheres no meio médico.
O estudo afirma que "a situação das mulheres no universo do trabalho médico no Brasil é paradoxal". "O número de mulheres na profissão aumentou significativamente, mas as desigualdades em relação aos homens persistem".
Embora os homens ainda sejam maioria entre os médicos (54,4%), esse número vem caindo ao longo dos anos e as mulheres já são predominantes entre os profissionais mais jovens, sendo 57,4% no grupo até 29 anos e 53,7%, na faixa entre 30 e 34 anos, conforme dado da Demografia Médica 2018, realizada USP, com o apoio do CFM (Conselho Federal de Medicina).
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