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O que falta para as vacinas anti-Covid fazerem parte do calendário anual de imunizações

Para médico que integra Câmara Técnica que auxilia o Ministério da Saúde, há incertezas acerca da necessidade de novas doses

Saúde|Fernando Mellis, do R7

SP anunciou aplicação de 4ª dose em idosos acima de 80 anos, mesmo sem recomendação do ministério
SP anunciou aplicação de 4ª dose em idosos acima de 80 anos, mesmo sem recomendação do ministério

Passados mais de dois anos desde o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, muitas pessoas já receberam e outras estão prestes a receber a quarta dose de um imunizante. Com a doença caminhando para ser reclassificada de pandêmica para endêmica, será que já se pode esperar que a vacina anti-Covid passe a ser anual?

Para o infectologista Renato Kfouri, membro da diretoria da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e da Câmara Técnica do PNI (Programa Nacional de Imunizações), uma série de razões ainda impedem que o Ministério da Saúde faça com a vacina anti-Covid o que ocorre com a da gripe, por exemplo.

"Não há clareza ainda em periodicidade e configuração da vacina, também não há clareza na nomenclatura. Hoje a gente chama de terceira dose, quarta dose... porque não se sabe com que frequência vai ter que fazer. Se soubesse, seria fácil, como a gente faz com a gripe."

O especialista ressalta o fato de não haver, inclusive, um consenso sobre a necessidade de uma quarta dose, que atualmente é recomendada pelo Ministério da Saúde apenas para indivíduos imunossuprimidos.


Mesmo assim, o estado de São Paulo anunciou o início da aplicação da quarta dose em idosos acima de 80 anos, o que, segundo Kfouri, não tem respaldo do Câmara Técnica do PNI.

"A gente vem acompanhando no Ministério da Saúde – semanalmente nas nossas reuniões da Câmara Técnica – como é que se comporta o risco de hospitalização em quem recebeu as vacinas. Até agora, não há nenhuma evidência de que há uma perda de proteção para quem tomou três doses. O Ministério da Saúde não entende que este seja o momento de se fazer isso [aplicar quarta dose]."


Além da ausência de informações que sustentem a aplicação de um segundo reforço, será preciso no futuro, se for necessário, estabelecer quais vacinas e quais atualizações integrariam uma imunização anual contra a Covid-19.

A farmacêutica Pfizer, por exemplo, trabalha em uma versão de sua vacina de RNA mensageiro adaptada contra a variante Ômicron do coronavírus.


Isto ocorre porque as vacinas em uso atualmente perderam a capacidade de evitar a infecção pela cepa, embora ainda tenham alta taxa de proteção contra hospitalizações e mortes.

Todos os imunizantes foram feitos a partir do vírus original detectado em Wuhan, na China, no fim de 2019. Desde então, cinco variantes com maior capacidade de transmissão surgiram, sendo a Ômicron a mais recente. 

Nesta semana, o diretor-executivo da Pfizer, Albert Bourla, admitiu em entrevista à emissora de TV estadunidense CBS que uma quarta dose pode ser necessária.

"Neste momento, do jeito que vimos, é necessária uma quarta dose agora. A proteção que você está recebendo da terceira [dose] é boa o suficiente, na verdade muito boa para hospitalizações e mortes. Não é tão boa contra infecções", disse o executivo ao programa Face the Nation, no domingo (13).

Na terça-feira (15), a Pfizer entrou com pedido nos órgãos reguladores dos EUA para autorizar a quarta dose em idosos. Na quinta-feira (17), foi a vez da Moderna pedir a liberação de um segundo reforço, mas para todos os adultos. 

Estudos conduzidos pelo CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) mostram a proteção contra internação conferida pelo reforço com vacinas da Pfizer ou da Moderna se manteve em 91% nos dois primeiros meses após a terceira injeção. Porém, caiu para 78% quatro meses depois da aplicação.

A eficácia para evitar casos ambulatoriais sintomáticos foi de 87% para 66% no mesmo intervalo de tempo.

O principal assessor da Casa Branca para o enfrentamento à Covid-19, o imunologista Anthony Fauci, manifestou preocupação acerca da perda da imunidade após seis meses, conforme relato que consta na revista Time.

“Não sabemos quando você chega a seis meses, sete meses ou oito meses após a terceira dose, se estes 78% vão cair para 60%, 50% ou 40%. [...] Por esta razão, você ouvirá uma séria consideração por dar uma quarta dose aos idosos e àqueles com certas condições de saúde subjacentes. O que podemos estar vendo em um futuro razoável é que os indivíduos apenas com base na idade, e talvez em algumas condições de saúde subjacentes ainda a serem determinadas, recebam um reforço imediato”.

Em São Paulo, os idosos serão justamente o alvo desta primeira fase de aplicação da quarta dose. Mas Kfouri lembra que o governo paulista contrariou uma orientação do Ministério da Saúde e utilizou a também a CoronaVac na terceira dose deste grupo, o que ele classifica como "um equívoco".

"Quando os dados apontavam claramente que o reforço com Pfizer ou AstraZeneca eram superiores aos reforços com CoronaVac, São Paulo, também contrariando toda a orientação do ministério, a meu ver, fez um equívoco recomendando terceira dose de reforço com CoronaVac. Tem muitos idosos que receberam duas doses de CoronaVac e mais um reforço de CoronaVac, que realmente a resposta é muito ruim [neste grupo etário]."

Na avaliação dele, a possibilidade de receber uma quarta dose de Pfizer, por exemplo, pode aumentar de maneira significativa a proteção dessas pessoas que receberam três doses de de CoronaVac.

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