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Obstrução intestinal de Bolsonaro é diferente de prisão de ventre

Quadro do presidente não é causado por fezes ressecadas, mas por estreitamento do caminho que elas fazem

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Presidente está internado em São Paulo sem previsão de alta
Presidente está internado em São Paulo sem previsão de alta

A notícia de que o presidente Jair Bolsonaro está sendo submetido a um "tratamento clínico conservador" e não precisaria de cirurgia em um primeiro momento virou tema de discussões nas redes sociais, com sugestões de que o problema dele seria, na verdade, fezes presas.

Embora possa parecer algo factível para alguns, o gastrocirurgião e endoscopista Eduardo Grecco, do Instituto Endovita, em São Paulo, esclarece que são condições diferentes.

"Suboclusão é o trajeto, o intestino que está tendo uma obstrução parcial. Constipação não tem nada a ver com o trajeto, com o intestino, diretamente. Tem a ver com as fezes, e a eliminação das fezes", explica.

Ele salienta ainda que "a constipação é quando a pessoa tem fezes formadas, mas que ficam mais endurecidas, e aí ela demora, dois, três dias para evacuar".


"Na prisão de ventre, a pessoa fica com os gases parados. É uma situação em conjunto, mas por uma questão alimentar. Quando você dá um laxante para a pessoa, ela evacua e melhora. O quadro de suboclusão dele [Bolsonaro] é diferente."

A obstrução do intestino do presidente pode ter sido causada por duas razões, aponta o especialista.


A primeira delas é a formação de aderências na parede do intestino, algo comum em pessoas que já tenham passado por cirurgia no órgão, como é o caso dele.

Trata-se de uma junção das paredes do intestino em um processo de cicatrização, levando a um estreitamento.


A segunda causa possível é uma hérnia. Em abril, Bolsonaro chegou a dizer para apoiadores que precisaria fazer uma cirurgia ainda neste ano, justamente, para a correção de uma hérnia.

"Eu tenho uma tela aqui na frente, está saindo o bucho pelo lado, então tem que botar uma tela do lado", afirmou.

Essas alterações, de aderência ou de hérnia, podem causar no intestino o que os médicos chamam de angulação.

A equipe médica do presidente não informou detalhes sobre o que provocou a suboclusão intestinal, mas optou por um tratamento inicial sem intervenção cirúrgica.

Isto significa o uso de alguns medicamentos, como anti-inflamatórios, antibióticos e remédios que estimulam o esvaziamento do intestino, mas não laxantes, explica Grecco.

"[Agora, é] Repouso do órgão total, [tem que] ficar em jejum, é passada uma sonda para ajudar a desobstruir, para aliviar o sistema. [Também há] Medicações, anti-inflamatórios, deve entrar com antibiótico, para melhorar esse processo todo e observar a evolução dentro de 12 a 24 horas."

Ao reintroduzir a alimentação, os médicos vão ver se o intestino voltou ao normal. Caso o presidente volte a sentir desconforto, a única opção será a cirurgia.

Bolsonaro começou ter soluço, segundo ele, 24 horas por dia nas últimas duas semanas. Na opinião de Grecco, é possível que esse sintoma tenha relação com a obstrução parcial do intestino.

Uma vez que a comida não consegue descer completamente através do intestino delgado, há acúmulo de líquido e acidez no estômago, o que causa o refluxo. Um dos sinais do refluxo gastroesofágico é o soluço, por vezes parecido com arrotos. 

Cirurgia

Se a equipe optar pela cirurgia, seja uma hérnia ou aderência, o procedimento é feito por videolaparoscopia, que consiste em pequenos cortes na barriga e uso de câmera e pinças.

"Precisa ver se houve herniação, que é a saída de um pedaço para outro, uma espécie de torção intestinal. Aí é só destorcer isso. Mas pode ser alguma área que realmente está obstruída, que houve alguma aderência. Neste caso, tira aquele pedacinho que está com problema e junta de novo", explica o gastrocirurgião. 

O especialista acrescenta que o prognóstico para esse tipo de caso costuma ser "muito bom", tendo em vista que o paciente tem tempo para o preparo cirúrgico, com o esvaziamento do intestino.

O presidente continua internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, sem previsão de alta.

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