Ozônio via retal contra covid: o que é a terapia sugerida por prefeito
Ozonioterapia é considerada prática complementar no Brasil; não há estudos que comprovam eficácia no tratamento da infecção pelo coronavírus
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Defendida pelo prefeito de Itajaí (SC) como algo que "ajuda muitíssimo" no tratamento da covid-19, a ozonioterapia já causou muitas discussões no Brasil nos últimos anos.
Atualmente, é classificada pelo Ministério da Saúde como um tratamento complementar e não possui eficácia comprovada contra a infecção pelo novo coronavírus.
A ozonioterapia faz parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares — definida em portaria de março de 2018 assinada pelo então ministro Ricardo Barros — juntamente com terapia de florais, aromaterapia, constelação familiar, hipnoterapia, imposição das mãos, entre outras.
A Comissão para Avaliação de Novos Procedimentos em Medicina do CFM (Conselho Federal de Medicina) estudou 26 mil trabalhos científicos sobre o tema e concluiu que “seriam necessários mais estudos com metodologia adequada e comparação da ozonioterapia a procedimentos placebos, assim como estudos comprovando as diversas doses e meios de aplicação de ozônio”.
O tratamento consiste na aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio no organismo por diversas vias, como endovenosa, intra-articular, local, intrervertebral, intraforaminal, intradiscal, epidural, intramuscular, intravesical e retal, esta última citada pelo prefeito Volnei Morastoni como possivelmente a que será utilizada nos pacientes de Itajaí.
As condições que poderiam ser tratadas com ozônio vão incluem diarreia, HIV, doenças autoimunes, câncer, acidente vascular cerebral, entre outras. E agora, também há os que defendam seu uso para a covid-19.
Alguns estudos científicos sugerem que a aplicação retal de ozônio tem capacidade de modular o sistema imunológico, o que, em tese, seria benéfico para evitar a hiperativação das defesas do organismo (tempestade de citocinas) que ocorre em alguns pacientes.
Entretanto, são poucas as pesquisas concluídas sobre o uso da terapia de oxigênio e ozônio contra a covid-19. Nenhuma delas, até agora, comprovou que a técnica é decisiva na cura dos pacientes.
A China foi o primeiro país do mundo a testar a ozonioterapia contra a covid-19. Em um estudo publicado em maio, no periódico científico Wiley, pesquisadores de Wuhan analisaram apenas dois pacientes internados com a doença.
Eles receberam, além do ozônio, antivirais, antibióticos, imunoglobulina, omeprazol e oxigênio suplementar.
A conclusão foi vaga e apresentou a ozonioterapia como "possibilidade", mas ressaltava que "nenhum agente terapêutico específico foi confirmado como sendo efetivo para covid-19.
Posteriormente, um grupo de pesquisadores da Espanha, Estados Unidos e Canadá analisou 18 pacientes internados na Policlínica do Hospital de Ibiza com pneumonia grave causada pela covid-19 que receberam a terapia com ozônio.
"A auto-hemoterapia ozonizada associou-se uma redução de 11 dias no tempo médio à melhora clínica em comparação com os cuidados clínicos usuais". A técnica consiste na retirada de sangue do próprio paciente, adição de oxigênio e ozônio e posterior reintrodução do sangue.
No entanto, a conclusão, publicada na plataforma medRxiv foi que os resultados "embora promissores, não provam o benefício da auto-hemoterapia ozonizada na pneumonia grave por covid-19".
"Este estudo de prova de conceito aponta para a necessidade de mais pesquisas, como um ensaio clínico randomizado multicêntrico, bem projetado e bem desenvolvido, para confirmar nossos achados", afirmaram os pesquisadores.