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Pacientes e familiares têm longo desafio na manutenção da saúde mental

Bem-estar emocional das pessoas se agravou durante a pandemia, e a associação entre pacientes e familiares é fundamental 

Saúde|Da Agência Brasil

Dia Mundial da Saúde Mental chama atenção para crise global causada pela pandemia
Dia Mundial da Saúde Mental chama atenção para crise global causada pela pandemia Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nesta segunda-feira (10), é comemorado o Dia Mundial da Saúde Mental. Nestes tempos de quase pós-pandemia de Covid-19, a doença continua a afetar a saúde mental de um grande número de pessoas em todo o mundo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a pandemia criou uma crise global para a saúde mental, alimentando casos de estresse em curto e longo prazo e minando o bem-estar emocional de milhares de pessoas.

Nesse contexto, de acordo com especialistas, a manifestação dos efeitos da doença pode se tornar permanente, tanto para pacientes e suas famílias quanto para profissionais da área da saúde.

Para o especialista em terceira idade e saúde mental Davi Fiuza Diniz, o papel das associações de pacientes e familiares nesse processo de reabilitação é muito importante. Ele cita o trabalho da ADSM (Associação em Defesa da Saúde Mental), uma ONG (organização não governamental) cearense que busca dar apoio aos pacientes por meio de terapias de grupo e de atendimento com familiares e cuidadores, e de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais de saúde e de outras áreas.

Diniz, que trabalha na ADSM, afirmou que muitos dos problemas mentais dos assistidos pela associação se agravaram durante a pandemia. Ele mesmo sentiu essa dificuldade, por ter na família duas pessoas com transtornos mentais. “Eu sei o que é essa dor”, afirmou. Hoje, seus parentes estão estabilizados, depois de terem participado de terapias de grupo na ONG.


“A gente busca mostrar para pessoas e familiares que tenham alguém na família com problema emocional que, quando saírem do psiquiatra ou do psicólogo, eles têm suporte. Existe toda uma conduta para dar equilíbrio emocional. A associação tem vários serviços com essa finalidade: dar suporte para as pessoas que apresentam algum problema e, também, para os familiares que estão acompanhando, porque eles também precisam de apoio”, disse Diniz.

Agravamento

Em entrevista à Agência Brasil, o psiquiatra e membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) Luiz Carlos Coronel afirmou que a pandemia desencadeou algo que estava latente ou agravou o que já existia. No caso do Brasil, segundo ele, ocorreram as duas coisas, mas tornaram-se mais graves, especialmente, as grandes necessidades de saúde mental da população que já existiam.


Coronel lembrou que o país, de acordo com a pesquisa Vigitel 2021 do Ministério da Saúde, é o campeão na América Latina de casos de depressão, distúrbio que acomete 11,3% da população. “É campeão de transtornos de ansiedade e por aí vai”, disse. Segundo o especialista, isso ficou agravado pela pandemia, pelas restrições e por tudo o que acompanhou o processo epidêmico de ameaça à vida.

Em função da restrição de circulação, aumentaram também as patologias ligadas ao consumo de substâncias psicoativas. “O pessoal passou a usar mais álcool e outras drogas, e isso ocasionou também um agravamento das situações conflitivas. Então, aumentou muito o número de violência doméstica, devido à restrição de circular, de conviver com outras pessoas.”


O médico ressaltou que, como resultado de tudo isso, estão os efeitos da infecção pela Covid-19 que ainda vão se manifestando ao longo do tempo, inclusive formas que não são graves, mas moderadas, e que apresentam manifestações cerebrais, clínicas. “Essas viroses têm essas capacidades que a gente não conhece bem. São os efeitos a longo prazo.” Outro fator é que o Brasil cresceu muito nos últimos 30 a 40 anos em termos populacionais, e a estrutura de atendimento e assistência à saúde não acompanhou esse crescimento, afirmou o psiquiatra. “A rede de atendimento à saúde continua precária, apesar dos esforços do Ministério da Saúde. E da saúde mental é mais precária ainda”, complementou.

Covid longa

Luiz Carlos Coronel avaliou que a pandemia deixou uma “Covid longa”. Ou seja, seus efeitos ainda estão sendo sentidos e vão continuar aparecendo por um extenso período. “Indefinido tempo ainda. Nenhum pesquisador tem ideia de quanto vai durar a produção desses efeitos secundários da doença, principalmente afetando a saúde mental da pessoa.”

"Todo mundo ficou restrito, ficou com menos recursos de convivência, acarretando grandes índices de depressão, de ansiedade, de uso e abuso de substâncias psicoativas e de drogas. Tudo isso ficou aumentado”, disse.

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