Pandemia agrava quadro de ansiedade em gestantes, diz estudo
Unifesp acompanhou 1.662 mulheres, a partir da 36ª semana de gravidez, e 23,4% apresentaram ansiedade grave ou moderada
Saúde|Carla Canteras, do R7
Os nove meses de gestação são marcados por mudanças profundas na vida das mulheres. Alterações do corpo, alta carga hormonal, expectativa da chegada do recém-nascido e como será o pós-parto podem causar a chamada ansiedade perinatal. A propagação do novo coronavírus trouxe mais um fator de preocupação às gestantes, como mostra pesquisa realizada pelo Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp).
O estudo foi feito entre os meses de junho e agosto de 2020, pico de infecção da primeira onda no país, com 1.662 pacientes, acima de 18 anos, a partir da 36ª semana de gestação. Foi constatado que quase 23,4% das entrevistadas apresentaram quadro de ansiedade grave ou moderado devido à pandemia.
De acordo Roseli Nomura, professora da EPM/Unifesp e coordenadora da pesquisa, a covid-19 foi apontada como principal motivo da ansiedade. “A ansiedade é um problema na gestação e com a pandemia aumentou. As pacientes apresentaram preocupação excessiva com o autocuidado para não se infectar, com a possibilidade de ter acompanhante na hora do parto e de receber visitas após o nascimento. Além de preocupação com os cuidados na amamentação para não transmitir a doença ao recém-nascido”, conta a médica.
As entrevistas foram feitas pessoalmente por médicos residentes em dez hospitais vinculados a universidades públicas federal ou estadual, em cinco regiões geográficas do Brasil: Norte (Manaus), Nordeste (Natal e Teresina), Sudeste (São Paulo, Campinas e Botucatu), Sul (Florianópolis e Porto Alegre) e Centro-Oeste (Campo Grande e Brasília).
“Normalmente, as pesquisas são feitas on-line. Neste estudo, o diferencial é que conseguimos que os médicos residentes, especialistas, aplicassem os questionários. Com isso, eles puderam já tirar dúvidas das gestantes e dar o suporte que elas precisavam”, explica Nomura. O estudo brasileiro foi publicado pela revista médica Clinical Medicine, do Reino Unido.
Roseli ressalta que o diagnóstico da ansiedade perinatal é importante para prevenir a depressão pós-parto. “As mulheres que apresentam quadros de ansiedade moderada ou grave antes do parto, apresentam maior possibilidade de depressão pós-parto. Nesse caso, os obstetras já sabem que o acompanhamento deve ser mais próximo.”
Combate da ansiedade
O Brasil está com números de mortes e infecções comparáveis aos meses em que o estudo foi feito. Há mais de 30 dias a média de morte no país é superior a mil pessoas. O que indica que a pandemia ainda será um fator agravante nas gestações.
A médica da Unifesp lembra que todos devem focar nas coisas boas da gestação. “A pandemia chegou às nossas vidas de uma forma muito abrupta e não tivemos tempo para nos preparar. A ansiedade vai estar mais presente, mas temos de focar nas coisas positivas. A gravidez é uma coisa muito boa, a vinda de uma criança sempre é boa. A ideia é se cuidar, tomar todas as medidas de prevenção e higienização e ser feliz no convívio com a sociedade”, diz Nomura.
As vacinas, mesmo que sem chegar a todos, também é um fator que contribui para acalmar as grávidas. “As vacinas são como uma luz no fim do túnel. É esperar que consigamos todos ser imunizados o mais rápido possível. Este ano, acredito que ainda teremos complicações, mas será com mais esperança que ano passado. Em 2022, espero que tudo esteja melhor”, prevê a médica da Escola Paulista de Medicina.