Vacinas ajudam a prevenir uma série de doenças em idosos
FreepikQuando o assunto é calendário vacinal, automaticamente pensamos nos imunizantes oferecidos na infância — como se, depois dessa etapa da vida, só fosse necessário ficar de olho na aplicação anual da vacina contra a gripe e a Covid-19. A verdade é que existe um esquema de imunização específico para outras etapas da vida.
Quem passou dos 60 anos, por exemplo, tem vacinas importantes para tomar. Mas, segundo a médica Aline Tavares, da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria Gerontologia), muitas famílias não fazem ideia disso.
A percepção é compartilhada pelo médico Juarez Cunha, presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
“Culturalmente, a população tem a ideia de que as vacinas são só para crianças. Até porque é realmente uma fase em que elas são mais aplicadas. [..] Mas temos imunizantes para todas as faixas etárias. Infelizmente, se já vemos uma baixa cobertura vacinal na infância, em outras idades ela é menor ainda, sobretudo por causa de desconhecimento”, avalia.
Ainda de acordo com o médico, todas essas vacinas têm motivo para serem recomendadas além da infância.
Ou seja, dependendo do momento da vida, há risco especial de encarar determinadas doenças preveníveis por imunizantes.
Pneumocócicas (VPC13 e VPP23)
O esquema vacinal protege contra diversos tipos da bactéria Pneumococo, que, segundo informações da SBIm, é responsável por infecções nos pulmões e ouvidos e também por meningite.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a pneumonia pneumocócica é uma das principais causas de internações e morte entre indivíduos que passaram dos 60 anos.
Entre as vacinas indicadas estão a VPC13, que atua contra 13 sorotipos da bactéria, e a VPP23, que mira 23 sorotipos.
Enquanto a primeira proporciona uma proteção mais prolongada, a segunda precisaria de reforço. Por isso, para um maior benefício, o conselho é tomar ambas.
A SBIm indica começar com uma dose da VPC13. Depois de 6 a 12 meses, recomenda-se tomar uma dose da VPP23. Em cinco anos, deve-se buscar a segunda dose de VPP23.
Aline lembra que é comum observar uma maior incidência de doenças crônicas, como hipertensão, diabete e asma, na população idosa.
Ao contrair a pneumococo, esses quadros podem ficar descompensados. Mais um motivo para ir atrás desses imunizantes.
Onde encontrar: a VPC13 é oferecida gratuitamente pelo SUS. Já a VPP23 só é oferecida gratuitamente a idosos asilados ou que façam parte de grupos de risco. Ambas estão nas clínicas particulares.
A vacina Qdenga deve chegar às clínicas privadas entre a última semana de junho e a primeira de julho.
Herpes-zóster
O representante da SBIm informa que essa vacina é sugerida a partir dos 50 anos. Ela protege contra o herpes-zóster, quadro causado por uma reativação do vírus da catapora. “A maioria das pessoas teve catapora na infância e, depois disso, o vírus fica adormecido no sistema nervoso”, explica Cunha. Ele tende a voltar à ativa quando algo prejudica a imunidade do indivíduo — situação mais comum após os 60 anos.
Segundo a SBIm, depois dessa reativação, o vírus da catapora se desloca pelos nervos periféricos até alcançar a pele.
Daí porque o principal sintoma do herpes-zóster são erupções na pele em forma de vesículas. Essas lesões são conhecidas por provocar dor intensa. Em alguns casos, ela pode durar meses e se tornar crônica.
Onde encontrar: em clínicas privadas. Essa vacina não está disponível no SUS.
Tríplice bacteriana acelular (dTpa) / dupla adulto (dT)
São duas vacinas. A primeira protege contra difteria, tétano e coqueluche. A segunda foca a difteria e o tétano.
Para quem tem o esquema vacinal básico completo com a dT, oferecido na infância, a dTpa é indicada como reforço em adultos e idosos.
Segundo Cunha, se o idoso estiver com o esquema incompleto ou não souber do histórico, aí a indicação é a seguinte: uma dose de dTpa a qualquer momento e completar com duas doses de dT.
A médica da SBGG ressalta a relevância desses imunizantes para a população idosa.
“A gente vê muitos acidentes domésticos com materiais perfurocortantes, e eles podem estar enferrujados”, comenta, referindo-se ao risco de tétano.
Já a difteria, causada por bactéria que afeta as vias aéreas respiratórias, pode levar a complicações, como problemas neurológicos e cardiovasculares.
A coqueluche também é uma infecção respiratória.
“Mesmo que a pessoa tenha apresentado a doença na infância, precisa se vacinar a cada dez anos”, informa Aline.
Onde encontrar: a dT está disponível gratuitamente no SUS. Já a dTpa é encontrada em clínicas privadas.
Hepatite B
Desde 2013, é prescrita para todas as idades e deve ser aplicada em três doses.
De acordo com dados atuais apresentados pelo Ministério da Saúde, de 1 milhão de pessoas que devem viver com a doença viral no país, somente 264 mil (24%) foram diagnosticadas.
Entre as formas de transmissão da hepatite B estão: relações sexuais sem uso de camisinha com pessoas infectadas e compartilhamento de objetos perfurocortantes, como alicates de unha.
O grande perigo associado à doença é que ela pode atingir o fígado, resultando em cirrose e até câncer.
Onde encontrar: a vacina é oferecida pelo SUS.
As vacinas para situações especiais
As vacinas a seguir são indicadas em situações muito específicas, como em casos de viagem a locais de risco, surtos ou comportamentos de risco. O médico deve avaliar a necessidade de tomá-las:
• Hepatite A
• Febre amarela
• Meningocócicas conjugadas ACWY ou C
• Tríplice viral
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