Pela primeira vez, cirurgiões realizam transplante com coração ainda batendo
Método inédito melhora o desempenho do órgão, facilita a recuperação do paciente e aumenta a possibilidade de doadores
Saúde|Do R7
Com uma técnica inovadora e em um procedimento pioneiro, cirurgiões da Escola de Medicina da Universidade de Stanford conseguiram transplantar um coração enquanto ele ainda batia.
"Isso pode ser revolucionário", comemora Joseph Woo, autor sênior do estudo, em comunicado.
• Compartilhe esta notícia no Whatsapp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
Em maioria, os doadores de coração são pessoas que tiveram morte encefálica (parada definitiva e irreversível do cérebro). Esses pacientes são mantidos, até o último minuto, em aparelhos de suporte à vida, o que facilita a estabilização do órgão – ele é retirado, transportado no gelo e transplantado.
Porém, com o aumento da procura pelos transplantes, o número desses doadores passou a ser insuficiente.
Pensando em resolver esse déficit de oferta e demanda, os especialistas procuraram formas de viabilizar o transplante de coração em pessoas que morreram por morte cardíaca (parada cardíaca) ou circulatória. Ou seja, nos casos em que o órgão já parou uma vez ou que o suporte à vida foi interrompido.
Porém, isso demandava uma nova abordagem, já que nos quadros citados acima o coração fica um tempo sem oxigênio (prejudica a capacidade de adaptação do órgão e diminui os resultados de sobrevida) e precisa ser parado duas vezes (uma na hora da morte e outra antes do transplante) – apesar de ser um processo padrão, aumenta as chances de rejeição.
"Parar o coração uma segunda vez, pouco antes do transplante, induz mais lesões [...] Então eu perguntei: 'Por que não podemos costurá-lo enquanto ainda está batendo?'", lembra Woo.
Para Aravind Krishnan, residente de cirurgia cardiotorácica e principal autor do artigo, concretizar a ideia exigiu "um pouco de ousadia – porque é uma coisa desafiadora e técnica de se fazer".
Mas, mesmo diante disso, a equipe atingiu o feito.
Com o auxílio de uma máquina de perfusão – conhecida como "coração em uma caixa", que bombeia o coração com sangue quente e oxigenado durante a transferência até o centro de transplante –, em outubro do ano passado, após quatro horas de cirurgia, Woo e a equipe conseguiram, pela primeira vez, costurar o coração no destinatário enquanto ele ainda batia.
"Estava batendo tão bem", lembrou Chawannuch Ruaengsri, professor assistente clínico de cirurgia cardiotorácica e membro da equipe cirúrgica.
O processo também contou com a ajuda de uma máquina de circulação extracorpórea que mantinha o paciente e o coração estabilizados (bombeava sangue e oxigênio para todo o corpo).
Esse foi o primeiro de seis procedimentos realizados pelos especialistas, incluindo uma criança.
Segundo os cirurgiões, além de aumentar o desempenho do coração, a adaptação dos pacientes ao órgão foi mais rápida e eles conseguiram deixar o hospital mais cedo que o usual.
"Manter o coração batendo realmente parece fazer diferença na força do coração com menos tempo gasto na máquina coração-pulmão", relata John MacArthur, professor assistente de cirurgia cardiotorácica.
Diante dos bons resultados, a equipe espera encontrar maneiras de nunca parar o coração para um transplante.
"Não vamos conseguir provar isso por muito tempo, mas os benefícios dessa técnica são inúmeros", finaliza Woo.
De estresse a travesseiro inadequado: conheça as causas das dores no corpo pela manhã