Por que a covid pode matar mesmo após a alta hospitalar? Entenda
Cerca de 24% dos pacientes intubados morrem após seis meses e 40% voltam a ser internados no mesmo período, mostra estudo
Saúde|Hysa Conrado, do R7
Sequelas são a principal causa de morte por covid-19 após a alta hospitalar, segundo o infectologista Eduardo Alexandrino, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente do Departamento Científico de Infectologia da Associação Paulista de Medicina. Isso acontece porque, de acordo com o especialista, apesar de acometer principalmente os pulmões, a covid-19 é uma doença sistêmica, capaz de atingir vários órgãos ao mesmo tempo.
Dados preliminares divulgados pela Coalizão Covid-19 Brasil, um grupo formado por oito hospitais, entre eles a Beneficência Portuguesa e o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, além de institutos de pesquisa, mostram que cerca de 24% dos pacientes de covid-19 que precisaram receber ventilação mecânica morreram seis meses após a alta e 40% deles precisaram voltar a ser internados. Isso se refere a 1.006 pessoas, mais da metade homens com idade média de 52 anos, que ficaram hospitalizados por até 9 dias.
Com o sistema de saúde prestes a entrar em colapso com a falta de leitos de UTI em diversos estados, o país vive o pior momento da pandemia, chegando a registrar mais de 2 mil mortes em um dia, além de já ter ultrapassado a marca de 11 milhões de pessoas infectadas pelo coronavírus.
O infectologista explica que a morte após a alta é mais comum em idosos e pessoas com comorbidades, como hipertensão e doenças pulmonares. “Os pacientes que vão para a UTI e conseguem receber alta, vários deles evoluem com sequelas pulmonares pela destruição do pulmão pela covid, alguns têm alterações neurológicas mesmo nos casos moderados, além de complicações cardíacas e alteração da pressão arterial, às vezes eles também têm infecções secundárias e pneumonia”, afirma.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), pessoas infectadas pelo coronavírus podem apresentar até 55 tipos de sequelas mesmo após a cura. Diminuição da força muscular, atrofia dos músculos, fraqueza para andar, perda de memória, dificuldades de raciocínio, piora de doenças cardíacas e respiratórias são algumas das sequelas que podem persistir mesmo após a alta. Além disso, segundo o estudo da Coalizão Covid-19 Brasil, 22% dos pacientes desenvolveram ansiedade, 19% depressão e 11% tiveram estresse pós-traumático após a internação.
Por este motivo, segundo Alexandrino, o acompanhamento médico por pelo menos três meses após a alta é fundamental para que as mortes sejam evitadas. A assistência, que pode durar até um ano, envolve consultas periódicas com médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos, para que o paciente consiga retomar o máximo funcionamento do organismo.
Para o infectologista, se comparado a outros vírus, as particularidade do SARS-CoV-2 está em evoluir com sequelas crônicas. “A própria febre amarela pode causar mais mortes que o coronavírus, mas, no geral, o indivíduo consegue se recuperar sem tantas sequelas. Tem muitas doenças virais que evoluem de forma grave, mas a covid atinge pulmão, coração e sistema nervoso, por exemplo”, finaliza.