Problema no coração de Mick Jagger está ligado ao envelhecimento
Líder dos Rolling Stones de 75 anos será operado nesta semana devido à calcificação em válvula; cirurgia oferece alta em 2 dias e baixo risco de morte
Saúde|Deborah Giannini, do R7
O problema no coração do cantor Mick Jagger, 75, está ligado ao envelhecimento. A estenose aórtica, endurecimento de uma válvula do coração, que o levará a uma cirurgia esta semana, é comum após os 75 anos, de acordo com o cardiologista Diego Gaia, chefe da disciplina de cirurgia cardiovascular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ele explica que cerca de 4% da população acima dessa idade tem a doença, o que equivale a 300 mil pessoas no Brasil. A estenose afeta igualmente homens e mulheres, mas, segundo ele, é mais vista em mulheres, já que são mais longevas.
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“A aórtica é a válvula de saída do coração. Ela funciona como uma porta que precisa abrir para o sangue sair e fechar para o sangue não voltar ao coração. Com o problema, ela fica como uma porta emperrada, começa a apresentar dificuldade para abrir. Ao longo dos anos, chega um ponto em que ela não abre mais, fica com fresta pequena, e coração tem que fazer muita força para bombear o sangue”, explica o médico, que também é coordenador do setor de cirurgia minimamente invasiva e válvulas transcateter da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo.
A notícia de que o líder dos Rolling Stones passará por uma cirurgia para a troca da válvula foi divulgada logo após a banda britânica anunciar o adiamento da turnê pela América do Norte, que começaria no dia 20.
Doença pode causar morte súbita
Segundo o cardiologista, trata-se de uma doença grave. “Quando o indivíduo não opera, o risco de morrer disso é muito grande. Metade das pessoas que não operam morrem dentro de um ano”, diz.
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A estenose aórtica provoca morte por insuficiência cardíaca ou por desencadeamento de arritmia cardíaca. “Normalmente é morte súbita”, completa.
O problema não costuma produzir sintomas. Quando aparecessem, são dor no peito, falta de ar e cansaço. É detectado durante check up por meio do exame de ecocardiograma.
O médico explica que, até alguns anos atrás, a única opção para tratar a estenose aórtica era a cirurgia aberta, na qual era preciso abrir o peito e parar o coração para realizar a troca da válvula. Mas, atualmente, a técnica adotada é o TAVI (implante percutâneo valvar aórtico), realizado sem a necessidade de corte e interrupção do coração.
Em vez da troca da válvula, uma nova válvula é colocada dentro daquela que está calcificada por meio de um cateter, do tamanho de uma caneta, introduzido pela artéria da perna, assim como no cateterismo cardíaco.
Segundo Gaia, a válvula é feita de dois materiais: liga metálica e folheto de pericárdio bovino, um tecido biológico.
“É um procedimento mais simples do que a cirurgia convencional e de menor risco. Enquanto na cirurgia aberta o paciente fica internado uma semana e volta às atividades habituais em até dois meses, neste procedimento, ele tem alta em 48 horas e volta às atividades em uma semana. Ele sai do hospital andando, sem nenhuma cicatriz”, afirma.
Técnica oferece menos risco que cirurgia aberta
A técnica foi desenvolvida para atender a pacientes que não podiam fazer a cirurgia convencional. O primeiro procedimento no mundo foi realizado em 2002, na França. No Brasil, teve início cinco anos depois, pela Escola Paulista de Medicina, segundo o cardiologista.
“É relativamente nova. Hoje, o TAVI é a opção tanto para indivíduos com risco para cirurgia aberta quanto para aqueles com menor risco, pois estudos demonstraram que é mais segura nos dois casos”.
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Um dos fatores que tornam os riscos de morte do TAVI menores que o da cirurgia aberta é a possiblidade de não utilizar anestesia geral, e sim apenas anestesia local, na perna, além de sedativo. “No TAVI, existem as duas possibilidades: uso de anestesia geral ou local, dependendo do paciente”, afirma.
Procedimento não é oferecido pelo SUS
O TAVI não é a cirurgia cardíaca mais comum – a mais comum é ponte de safena, segundo Gaia. Mas ele está se tornando cada vez mais frequente.
“A grande limitação no momento é que essa prótese é cerca de cinco vezes mais cara do que a utilizada na cirurgia convencional”, diz.
“Nos países em que há mais acesso a recursos, por exemplo, na Alemanha, mais da metade de válvulas no coração são feitas por cateterismo. No Brasil, seria somente em torno de 3%, está restrito aos grandes centros”, completa.
O TAVI custa em média R$ 80 mil e ainda não é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O cardiologista ressalta que não há como prevenir o problema. “Não há nada que possa ser feito para impedir a calcificação da válvula do coração. Nenhum remédio consegue dissolvê-la ou revertê-la. Só a cirurgia é capaz de tratar o problema”, diz.
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