A carioca Patricia Manes estava com 36 anos quando deu à luz Débora, sua primeira filha. Duas décadas após o nascimento da menina, ela não poderia estar mais satisfeita com a decisão de ser mãe após os 35. — Foi a melhor opção que fiz na minha vida. Meu foco já não era mais minha profissão. Se tivesse sido mãe antes, estaria despreparada e ainda correndo atrás da consolidação da carreira. Formada em artes e psicologia, Patrícia é hoje professora do ensino fundamental aposentada. Ela explica que priorizou a própria independência antes de pensar em casamento e família. — Eu quis primeiro ser livre — em termos profissionais e financeiros. Tive um casamento aos 20 anos que não deu certo e foi após a segunda união, aos 33, que comecei a cogitar a maternidade. Eu trabalhei muito, tive bons empregos e só então me senti segura para começar a pensar por dois (por mim e pela minha filha). Enquanto estava grávida, a carioca conta ainda que passou por um susto no que diz respeito à saúde. É que, por sofrer com um prolapso da válvula mitral — sopro na válvula do coração que faz com que ela não consiga se fechar corretamente —, Patricia teve de ficar em repouso após um rompimento nos vasos sanguíneos da placenta aos quatro meses de gestação. A anomalia levou à pré-eclâmpsia, que é um processo de hipertensão desenvolvida durante a gravidez. Diante dos riscos, Débora acabou vindo ao mundo no oitavo mês de gestação. Para a professora aposentada, no entanto, o transtorno não foi nada diante da evolução proporcionada pela maternidade aos 36 anos: “Sinto que passei por dois processos de amadurecimento muito importantes ao mesmo tempo: o natural da idade, que vem para toda mulher após os 30 anos, e o da maternidade, que me trouxe uma visão diferente sobre a vida e me fez pensar mais no futuro”, completa.Só depois dos 40 Hoje no Brasil, cada vez mais mulheres seguem o exemplo de Patricia: o número de mães de primeira viagem na faixa etária dos 30 anos subiu 61,4% entre 1995 e 2015, mostram os dados do Ministério da Saúde. Chama atenção também o crescimento na quantidade de mulheres que se aventurou na maternidade somente após os 40: o aumento foi de 49,5% nos últimos vinte anos. Um dos casos é o de Malena Contrera, professora universitária de 52 anos que nem sonhava em engravidar até pouco depois dos 35. — Eu já tinha 37 anos quando comecei a pensar em ter filhos. Eu não tinha mais aquela preocupação tão grande em me estabelecer profissionalmente e também já tinha percebido que aquilo que a profissão traz não era tudo o que eu queria na vida. Faltava alguma coisa. Meu sentimento era de que só uma carreira de sucesso não me faria feliz. A partir de então, tentei engravidar muitas vezes e não consegui, por isso tive de recorrer à inseminação artificial. Fui mãe aos 42.Infertilidade aumenta após os 35 As dificuldades encontradas por Malena, segundo o ginecologista e obstetra Rodrigo da Rosa Filho, da SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana), são mais comuns do que se imagina. — O que acontece é que o índice de infertilidade começa a aumentar depois dos 35 anos. Nós consideramos infértil a mulher que tenta engravidar sem sucesso por, no mínimo, um ano. Entre as mulheres de 30 anos de idade, o índice de infertilidade é de 15%. Já entre as pacientes de 40 anos esse índice é de quase 50%. Segundo o médico, o processo acontece porque as mulheres nascem com um estoque de óvulos para toda a sua vida fértil. Com o passar do tempo, entretanto, essa reserva é comprometida em termos de quantidade e qualidade. “Um óvulo de 40 anos tem mais alterações genéticas decorrentes da idade — muitas vezes, ele não consegue gerar um embrião. Quando consegue, o índice de aborto também é maior. Há dificuldades para engravidar e para manter a gravidez”, diz Rosa.Você sabe o que é hidrossalpinge? Conheça a doença que impediu Karina Bacci de engravidar naturalmente O ginecologista ressalta que, quando a gravidez não ocorre de forma natural, a medicina oferece recursos como inseminação artificial e fertilização in vitro — no primeiro caso, o sêmen é depositado pelo médico diretamente na camada uterina da mulher quando ocorre a ovulação; no segundo, a fecundação é feita em laboratório. Apenas um especialista em reprodução assistida pode apontar o melhor método para cada casal.Pré-natal adequado Seja a gravidez natural ou assistida, os cuidados com a saúde devem ser redobrados nas gestações após os 40: nessa faixa etária, a chances do aparecimento de complicações como pré-eclâmpsia, diabetes e hipertensão gestacionais são dobradas em relação aos 30 anos, de acordo com Rodrigo Rosa: “Os riscos são aumentados, mas vale lembrar que a gestação saudável é perfeitamente possível em qualquer idade”, diz. O mais importante é realizar o acompanhamento médico e manter hábitos saudáveis desde as primeiras semanas de gravidez. — Toda mulher que pensa em engravidar deve aderir a uma dieta equilibrada e evitar hábitos nocivos como tabagismo e o excesso de álcool. Fora isso, o acompanhamento médico personalizado e atencioso desde o início da gestação permite o diagnóstico precoce de pré-eclâmpsia, diabetes e hipertensão gestacionais. Essa detecção precoce diminui os riscos de saúde tanto para a mãe quanto para o bebê, além de evitar um parto prematuro. Dez anos após ter dado à luz, Malena Contrera afirma não ter do que reclamar — pelo menos no que diz respeito à saúde na gestação. — Minha gravidez foi supertranquila e me fez muito bem, eu trabalhei até o oitavo mês. Após o nascimento da minha filha, eu admito que deveria ter tomado mais cuidados no sentido de entrar em uma dieta mais rígida e em um processo de emagrecimento, porque eu já tinha um pequeno sobrepeso antes de engravidar. O saldo, de qualquer forma, é pra lá de positivo: "Depois de ter minha filha, eu abri mão da carreira como foco principal e deixei a maternidade em primeiro plano. Fez bem para a minha cabeça e para a minha saúde mental, no sentido de que eu passei a olhar a vida com outros olhos e perceber outros valores. Eu sinto que coloquei as coisas no seu devido lugar", conclui a professora universitária. 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