Quais as diferenças entre gripe e a doença causada pelo coronavírus
As duas infecções podem ter febre, coriza, tosse, dor de garanta e outros sintomas; mas para a influenza, há vacina e tratamento específico
Saúde|Aline Chalet, do R7*
Os sintomas da covid-19 (provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV2) e da gripe (causada pelo vírus influenza) podem ser exatamente os mesmos.
Além da febre, as duas infecções têm como característica sintomas respiratórios, incluindo, tosse, espirros, dor de garganta e coriza, que podem evoluir com o passar dos dias para quadros mais graves, como pneumonia.
Uma diferença importante entre a influenza e o coronavírus, é que a complicação mais comum da gripe é a pneumonia bacteriana (tratada com antibióticos). No caso do coronavírus SARS-CoV2, as complicações mais frequentes são a insuficiência respiratória e pneumonia viral.
“O vírus [da gripe] também pode causar lesão pulmonar diretamente, mas o mais comum é que ela predispõe o paciente a uma pneumonia bacteriana quando ele está melhorando da gripe”, explica o pneumologista André Nathan, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, acrescenta que o mecanismo da lesão pulmonar também pode ser diferente, mas que o tratamento vai ser o mesmo, independente disto.
“Pode ser uma pneumonia necrotizante, o bloqueio de alguma enzima ou outra coisa. Mas a estratégia vai ser a mesma: antibiótico para possíveis complicações bacterianas e intubação.”
O médico explica que, clinicamente (sem que se tenha realizado exame específico), gripe e covid-19 se diferenciam de resfriados comuns por terem febre e o risco de complicações pulmonares.
Os resfriados comuns, provocados por vírus como adenovírus, parainfluenza e outros tipos de coronavírus, causam uma inflamação mais focada no nariz e garganta.
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Nathan explica que a gravidade é muito individual. “Algumas pessoas podem ter quadros graves de gripe, outras podem ter casos mais leves. Com o coronavírus, é mesma coisa.”
Outra diferença apontada pelos médicos são os grupos de risco das doenças. A gripe, além de idosos, inclui grávidas, puérperas, crianças e pessoas imunossuprimidas. Em ambos os casos, pacientes com doenças cardíacas, diabetes e hipertensão também são considerados grupos de risco.
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Gripe tem remédio específico
Suleiman aponta como uma diferença importante o fato de que para gripe existe tratamento específico e vacina. “Nesse momento a covid-19 é mais grave porque não tem remédio, vacina, e temos um surto em todos os lugares do planeta.”
Os médicos alertam que pessoas com sintomas respiratórios só devem buscar o sistema de saúde em casos de alerta que são caracterizados pela febre por mais de 48 horas ou falta de ar.
“Se você for sem necessidade e estiver com coronavírus, vai transmitir para todos no pronto-socorro. Se não estiver, pode se contaminar”, afirma Nathan.
“Ir ao médico com sintomas leves é falta de cidadania. Os hospitais precisam estar disponíveis para atender os casos mais graves. Não se sabe se a taxa de letalidade se dá porque os pacientes idosos morrem por conta das doenças concomitantes ou porque os idosos não recebem atenção adequada devido a um sistema hipertrofiado”, acrescenta Suleiman.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, também pediu à população para que evite procurar hospitais sem que haja necessidade.
"O que a gente entende é que as pessoas que estiverem doentes irem em hospitais vão terminar se encontrando com outras pessoas, que estão doentes, imunodeprimidas por outras razões, e a possibilidade da transmissão se eleva muito. Além disso, tem toda a questão das equipes de saúde, que quanto menor a exposição com pacientes doentes, melhor."
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O pneumologista afirma que a preocupação com o coronavírus pode levar a uma diminuição nos casos de gripe, uma vez que a forma de transmissão e prevenção são as mesmas: lavar as mãos, não manter contato com pessoas com sintomas respiratórios e, se apresentar os sintomas, evitar aglomerações.
O Ministério da Saúde ressalta que não há necessidade e nem há recursos disponíveis para testar todos os casos de pessoas com síndrome gripal para saber se é influenza ou coronavírus.
O principal critério, nos próximos meses, será a gravidade do caso. Se o paciente estiver internado com SRAG (síndrome respiratória aguda grave), será recolhida uma amostra para estudar qual é o tipo de vírus.