Quase 50 mil grávidas e puérperas receberam AstraZeneca no país
Segundo o LocalizaSUS, plataforma do Ministério da Saúde, vacina continuou a ser aplicada no grupo após suspensão da Anvisa
Saúde|Carla Canteras, do R7
Quase 50 mil grávidas e puérperas receberam a vacina AstraZeneca contra a covid-19 no país, de acordo com o LocalizaSUS, plataforma do Ministério da Saúde que centraliza informações dos fármacos aplicados em todos os munícipios brasileiros.
Mesmo com a recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no dia 10 de maio, e orientação do Ministério da Saúde, no dia 11, de não vacinar com o imunizante grávidas e puérperas, que são mulheres que tiveram filhos há até 60 dias, as doses seguiram sendo aplicadas no Brasil.
O LocalizaSUS mostra que na última segunda-feira (5) 51 gestantes e 54 puérperas ainda receberam o imunizante produzido desenvolvido pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e produzido no Braisl pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A ginecologista Cecília Maria Roteli Martins, da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) e consultora do Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid da AMB (Associação Médica Brasileira), ressalta a informação pode estar relacionado a erros de registro, relacionados à atraso no registro e aplicação inadvertida.
"A AstraZeneca é a mais aplicada no Brasil. Quando uma mulher procura o posto e não tem conhecimento da gestação, ela eventualmente pode receber a vacina, que é a aplicação inadvertida. Isso vai acontecer o tempo todo. Nunca houve uma quantidade de imunização como estamos vendo, então erros eventuais de registro podem acontecer", afirma a médica.
O R7 solicitou um posicionamento do Ministério da Saúde, mas até a publicação desta matéria não havia enviado resposta.
A AstraZeneca deixou de ser indicada para esse público após uma mulher grávida, que morava no Rio de Janeiro, morrer em decorrência de trombocitopenia (doença que se caracteriza por baixas contagens de plaquetas) associada ao imunizante.
"Quem, eventualmente, recebeu a vacina, há a grande chance de não acontecer nada, já que efeito de trombocitopenia é muito, muito raro", tranquiliza Cecília Martins.
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A última atualização sistema do Ministério da Saúde mostra que 361.109 gestantes foram vacinadas no país. Destas, 31.699 receberam a AstraZeneca, 31.453 foram de primeira dose e 246 segunda dose, que também seguiram sendo aplicadas após a suspensão feita pelo Ministério da Saúde.
A maior quantidade de mulheres imunizadas com o fármaco foi registrada entre os dias 3 e 11 de maio, a partir daí as aplicações diminuíram, mas não pararam.
As mulheres que foram vacinadas antes da determinação da Anvisa podem tomar a segunda dose com a Pfizer ou esperar 45 dias após o parto para receber a segunda dose da AstraZeneca, conforme orientação do ministério.
Puerpério
No caso de púerperas, o Brasil imunizou 115.791 mulheres, sendo 17.879 com a vacina da Fiocruz, 17.702 com a primeira dose e 177 com a segunda dose. Como no caso das grávidas, as puérperas seguiram sendo vacinadas mesmo após a orientação do Ministério.
A médica ressalta que mulheres a partir de 42 dias após o parto podem receber a AstraZeneca. "Se a mulher estiver no puerpério tardio, que é depois dos 42 dias, o imunizante não tem contraindicação", explica.
Na segunda-feira (5), a Anvisa propôs a suspensão da AstraZeneca e da Janssen para esses grupos -ambas as vacinas usam vetor adenovírus -, recomendando que esse público receba doses da Pfizer ou CoronaVac.
Rio de Janeiro e Ceará optaram por terminar a vacinação das grávidas com aplicação de uma segunda dose da Pfizer.
A obstetra reafirma a confiança no PNI (Programa Nacional de Imunizações) e recomenda que gestantes e puérperas não devem abrir mão da vacinação completa, com as duas doses recomendadas.
“Tenho a maior confiança no PNI, que é muito sério, são pessoas altamente qualificadas e as salas de vacinação no Brasil são orgulho para nós. Tem que ir tomar a vacina, vacina boa é a que está no braço. A recomendada é a CoronaVac e, preferencialmente, a Pfizer, porque já há estudos que garantem a segurança nesse público", completa Cecília Martins.