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Reduzir as proteínas da dieta pode ser opção para combater obesidade e diabetes, sugere estudo

Ensaio analisou 21 pacientes com síndrome metabólica e houve perda de peso e gordura, redução da pressão arterial, sem perda de massa magra

Saúde|Maria Fernanda Ziegler, Agência FAPESP

Carência de proteína leva a problemas graves, por isso dietas devem ser individuais e orientadas
Carência de proteína leva a problemas graves, por isso dietas devem ser individuais e orientadas

Reduzir o consumo de proteínas pode ajudar a controlar a síndrome metabólica e alguns de seus principais sintomas, como obesidade, diabetes e hipertensão. Foi o que mostrou um estudo feito por pesquisadores brasileiros e dinamarqueses com o objetivo de comparar os efeitos das dietas com restrição proteica e calórica em seres humanos. Os resultados foram publicados na revista Nutrients.

A síndrome metabólica é um conjunto de condições – entre elas hipertensão, nível elevado de açúcar no sangue, acúmulo de gordura em torno da cintura e colesterol alto – que aumenta o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes.

“O estudo mostrou que diminuir o consumo de proteínas para 0,8 grama [g] por quilo [kg] de peso corporal foi suficiente para atingir quase os mesmos resultados clínicos de uma dieta com restrição calórica, mas sem a necessidade de reduzir as calorias ingeridas. Os resultados sugerem a possibilidade de a restrição proteica ser um dos principais fatores que levam aos efeitos conhecidamente benéficos da restrição alimentar. Com isso, a dieta de restrição de proteínas pode ser uma estratégia nutricional mais atrativa e relativamente mais simples de ser seguida por indivíduos com síndrome metabólica”, afirma Rafael Ferraz-Bannitz , doutor pela FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e primeiro autor do artigo.

O estudo foi financiado pela FAPESP por meio da bolsa de doutorado de Ferraz-Bannitz e de um Projeto Temático coordenado pelo professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Marcelo Mori, cujo objetivo é mimetizar, por meio de diferentes estratégias, os efeitos da restrição calórica.


A investigação envolveu uma equipe multidisciplinar e internacional com cientistas da USP, da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Unicamp.

Dieta controlada

Durante 27 dias, os pesquisadores acompanharam 21 pacientes diagnosticados com síndrome metabólica. Os voluntários foram divididos em dois grupos e permaneceram por todo o período internados no Hospital das Clínicas da FMRP-USP, para que a dieta pudesse ser monitorada e seguida à risca.


A necessidade calórica diária de cada participante foi calculada com base no metabolismo basal (gasto de energia em repouso). Em um grupo, os pacientes receberam uma dieta individualizada com 25% menos calorias que o considerado ideal. Nesse caso, a escolha dos alimentos foi feita de acordo com o padrão recomendado para a população em geral (50% carboidrato, 20% proteína e 30% gordura).

No segundo grupo, o consumo calórico diário também foi calculado individualmente com base no metabolismo basal. E, embora o valor de calorias indicado para cada indivíduo fosse respeitado (nunca ultrapassado), a proporção de proteínas da dieta foi reduzida, ficando em torno de 10% (sendo 60% carboidrato e 30% gordura). Um dado importante é que não houve diferença no uso de sal. Em ambos os grupos, os pacientes consumiam 2 g de sal por dia.


O estudo mostrou que tanto a dieta de restrição calórica quanto a de restrição proteica promoveram perda de peso devido à redução da gordura corporal e, desse modo, melhoraram os sintomas da síndrome metabólica. Sabe-se que a redução da massa adiposa está associada à redução da glicemia, dos níveis lipídicos e da pressão arterial.

“Após 27 dias de monitoramento, os dois grupos tiveram resultados semelhantes: redução dos níveis glicêmicos, perda de peso, controle da pressão arterial e queda dos níveis de triglicérides e colesterol. Tanto a dieta de restrição calórica quanto a que reduziu o consumo de proteína melhoraram a sensibilidade à insulina após o tratamento. Os pacientes tiveram ainda diminuição da gordura corporal, especialmente na região da circunferência abdominal e de quadril, porém, sem redução da massa magra [músculos]”, afirma Maria Cristina Foss de Freitas , professora da FMRP-USP e coordenadora do estudo.

Os resultados confirmam pesquisas anteriores realizadas em camundongos. “Só que, desta vez, conseguimos fazer um estudo clínico randomizado e totalmente controlado durante 27 dias, com cardápio personalizado segundo as necessidades de cada paciente”, ressalta Foss de Freitas.

Desse modo foi possível mostrar, em humanos, que basta a manipulação de macronutrientes de uma dieta – proteína, gordura ou carboidrato – para se obter os efeitos benéficos de uma restrição alimentar. “Vimos que a restrição proteica é suficiente para reduzir a gordura corporal e manter a massa magra. Isso é muito importante, pois em muitas dietas restritivas a perda de peso está associada também à diminuição de massa muscular”, comenta Ferraz-Bannitz.

O estudo não descreveu os mecanismos moleculares que possam explicar os efeitos benéficos da dieta de restrição proteica, mas os pesquisadores supõem que o consumo mínimo de proteína promova uma alteração no metabolismo dos pacientes, ou uma melhora na capacidade energética do organismo em propiciar a queima de gordura como uma forma de produção de energia para as células.

“Temos apenas hipóteses ainda e uma delas seria a ativação de vias moleculares que interpretam a redução de aminoácidos essenciais como sendo um sinal de redução da ingestão alimentar, levando assim à produção de hormônios normalmente aumentados durante o jejum. Estudos em modelo animal já demonstraram que essas vias estão envolvidas tanto nos efeitos da dieta de restrição calórica quanto na de restrição proteica, fazendo com que haja perda de gordura nos dois casos”, conta Mori .

Mesmo com os resultados promissores é preciso atentar para o fato de o estudo ter contado com a utilização de dietas individualizadas. Mori ressalta ainda que a pesquisa foi realizada com uma população específica: pacientes com síndrome metabólica que apresentavam diabetes, obesidade, hipertensão e colesterol alto.

“No entanto, fica difícil não pensar em extrapolar esse resultado. Sabemos que uma dieta vegana tem se mostrado positiva para casos de síndrome metabólica e também já foi verificado que o excesso de ingestão proteica, como é o padrão ocidental, pode ser um problema. Por isso, é preciso avaliar caso a caso. Não se pode esquecer que a carência de proteína pode levar a problemas graves – algo que já foi bem descrito no caso de gestantes, por exemplo”, diz.

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