Resistência a vacinas provoca surto de sarampo na Europa
Movimentos antivacina contribuem para a volta desta e de outras doenças
Saúde|Eugenio Goussinsky, do R7
O aumento drástico dos casos de sarampo na Europa tem causado preocupação no ECDC (Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças) e na OMS (Organização Mundial de Saúde). Os números mostram o recrudescimento desta doença no continente. A maioria dos novos casos de sarampo foi confirmada em sete países, entre eles alguns dos mais desenvolvidos: França, Alemanha, Itália, Suíça, Polônia, Romênia e Ucrânia.
Na Romênia, desde 2016, os casos ultrapassam o número de 3,4 mil. Segundo a OMS, cerca de 95% da população não foi imunizada com a segunda dose da vacina contra sarampo, nestes sete países.
O infectologista Marco Aurélio Safadi, diretor da pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, aponta ainda que outras enfermidades, como rubéola, têm reaparecido nestes países em função da falta de vacinação. E os movimentos antivacinas, espalhados pelo mundo inteiro, têm contribuído para esse retrocesso.
— As vacinas são órfãs do seu próprio sucesso. A gente é de uma geração na qual essas doenças tinham um impacto e uma carga muito grande de sofrimento, hospitalizações e mortes. Com o controle por meio das vacinas, as gerações mais jovens se esqueceram da importância disso, e então alguns se apegam em detalhes pequenos e muitas vezes estilumados por motivações escusas por trás disso.
Por motivações escusas pode-se entender o interesse de escritórios de advocacia que buscam processar laboratórios. Isso foi constatado após falso estudo de 1998 ser comprovadamente desmascarado. Na ocasião, se descobriu que algumas crianças foram previamente escolhidas como voluntárias. O objetivo da ação era dar a informação mentirosa de que a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) havia sido causa de autismo nas crianças.
Safadi destaca que o ato de não vacinar não pode ficar restrito à família. Alguém não imunizado pode até não contrair a doença, mas colabora para a sua propagação, já que, quanto menos imunizações em uma comunidade, mais propensa à doença ela está.
— O fato de alguém não vacinar o próprio filho pode não provocar a doença nele. Nada acontece neste caso, mas quando muitos fazem isso a gente corre um risco muito grande, como ocorre atualmente na Europa.
Na Itália, 1,6 mil pessoas tiveram sarampo em 2017. Destas, 88% não tinham tomado nenhuma dose da vacina, de acordo com o ECDC.
Benefícios incontestáveis
Também a distorção de informações, causada por exemplos isolados, é prejudicial, na avaliação do especialista. O argumento dos grupos contrários à vacinação é baseado na teoria de que a imunização traria efeitos colaterais e causaria outras mazelas. Safadi contesta tal afirmação. E a considera perigosa.
— A importância científica e a segurança das vacinas são inequívocas, pautadas em evidências de vacinas que estão aí há décadas. Evidentemente, como qualquer imunobiológico, como aspirina por exemplo, existem eventos adversos, mas pontuais.
Grupos contrários à vacinação avançam no país e preocupam Ministério da Saúde
O médico reafirma que campanhas de vacinação foram fundamentais para o desenvolvimento das sociedades no mundo todo.
— O balanço é fartamente positivo para o benefício das vacinas. Pegar um caso adverso para justificar uma intervenção que previne milhares de mortes e milhões de hospitalizações obviamente é um erro.