Rim de porco transplantado em humano funciona sem remédios pelo recorde de 32 dias
Avanço médico pioneiro representa um passo significativo em direção à disponibilidade sustentável de órgãos
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Cirurgiões do NYU Langone Health — um renomado sistema de saúde acadêmico em Nova York — alcançaram um marco inovador ao realizar com sucesso o transplante de um rim de porco geneticamente modificado para um homem de 57 anos com morte cerebral. O órgão foi capaz de substituir a função renal humana por um período recorde de 32 dias sem rejeição.
O resultado se tornou possível graças à remoção de um gene problemático e à incorporação cuidadosa da glândula timo do porco, um órgão importante do sistema imune que também foi transplantado, de forma a ajudar a evitar possíveis respostas imunológicas adversas no corpo humano receptor.
Isso foi feito como parte do procedimento de transplante para melhorar a compatibilidade e prevenir a rejeição do órgão transplantado.
O avanço médico pioneiro representa um passo significativo em direção à disponibilidade sustentável de órgãos para transplante.
O estudo faz parte de um projeto mais amplo aprovado por um conselho de ética de pesquisa e vem em resposta à escassez de órgãos disponíveis.
O procedimento, conduzido pelo médico Robert Montgomery, presidente do Departamento de Cirurgia e diretor do Instituto de Transplante do NYU Langone, ocorreu em 14 de julho e foi divulgado nesta quarta-feira (16).
Montgomery conduziu o primeiro transplante de rim de porco geneticamente modificado para um humano falecido em setembro de 2021, seguido por outro em novembro do mesmo ano.
Além disso, cirurgiões do Instituto de Transplante realizaram dois transplantes de coração de porco geneticamente modificado na metade de 2022.
"Este trabalho demonstra que um rim de porco, com apenas uma modificação genética e sem medicamentos nem dispositivos experimentais, pode substituir a função de um rim humano por pelo menos 32 dias sem ser rejeitado", comentou o médico que chefiou a equipe.
Segundo Montgomery foram reunidas "mais evidências para mostrar que, pelo menos nos rins, eliminar apenas o gene que desencadeia uma rejeição hiperaguda pode ser suficiente, junto com medicamentos imunossupressores clinicamente aprovados, para gerenciar com sucesso o transplante em um ser humano, para um desempenho ideal, potencialmente a longo prazo".
Por que transplantar em alguém considerado morto?
Os médicos transplantaram o rim de porco para um humano com morte cerebral como parte de uma pesquisa experimental e um estudo científico para avaliar a viabilidade e o desempenho do transplante de órgãos de porco geneticamente modificados em um ambiente humano.
Essa abordagem permite testar a compatibilidade, a função e a rejeição do órgão em um cenário controlado — uma vez que diversas funções do organismo continuam ativas quando há morte cerebral — antes de considerar a aplicação clínica em pacientes que realmente precisam de um rim.
Além disso, o uso de doadores com morte cerebral pode ser uma maneira de contornar os desafios éticos e de consentimento que surgiriam ao fazer um procedimento experimental em um paciente vivo que necessita de um transplante iminente.
A pesquisa e os resultados obtidos com esses procedimentos pioneiros podem informar futuros desenvolvimentos na área de transplantes e fornecer entendimentos sobre a possibilidade de usar órgãos de porco geneticamente modificados para tratar a escassez de órgãos para transplante.
O pesquisador afirma estar otimista para poder testar os órgãos de porcos em pessoas que realmente precisam deles.
"Achamos que usar um porco, já considerado seguro pela FDA [agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA], em combinação com o que encontramos em nossa pesquisa de xenotransplantes [de animais para humanos] até agora, nos aproxima da fase de ensaios clínicos [testes em humanos vivos que precisam de doação]. Sabemos que isso tem o potencial de salvar milhares de vidas, mas queremos garantir a máxima segurança e cuidado à medida que avançamos."
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