Sair da obesidade com exercícios e dieta é possível, mas exige paciência
Endocrinologista afirma que cirurgia bariátrica é última opção; corpo pede 100 calorias a cada quilo perdido e exercício ajuda a inibir essa necessidade
Saúde|Giovanna Borielo, do R7*
O publicitário Matheus Meneghim, 22, estava entre os 11 milhões de jovens com obesidade no Brasil. Apesar dos riscos à saúde associados à condição, o que mais lhe afetava era a discriminação social, que lhe serviu de motivação para conseguir sair dessa estatística.
"Meus colegas me zoavam e uma menina me dispensou para dançar com ela em uma festa de debutante porque eu era gordo. Foi meu limite para decidir emagrecer”, conta.
Exercícios e reeducação alimentar funcionaram no caso de Meneghim, que hoje está dentro do IMC considerado saudável. "Não foi de um dia para o outro. Foram oito meses para perder 16 kg", afirma.
Ele explica que reduziu a quantidade de comida que ingeria diariamente, sem excluir tipos de alimentos, e incrementou os esportes - fazia natação, futebol e corrida.
A obesidade é uma doença crônica que afeta quase 20% dos brasileiros, de acordo com o Ministério da Saúde. "Houve uma explosão de obesidade no Brasil. Em 10 anos, a taxa de obesos cresceu 60% e a doença virou uma grande epidemia", afirma a endocrinologista Cíntia Cercatto, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
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Pessoas obesas são as que apresentam Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 30. O IMC é calculado pela altura multiplicada por ela mesma, dividindo o peso por esse resultado. IMC entre 18,5 e 24,9 é considerado saudável; entre 25 e 29,9 sobrepeso e, a partir de 30, obesidade. Esse é o padrão utilizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
A endocrinologista afirma que cálculo do IMC pode não ser suficiente para indicar uma pessoa obesa. "Os cálculos do IMC não são completos porque, em alguns casos, podem indicar obesidade, mas a pessoa tem pouca gordura e bastante massa magra [músculos]. O índice também varia conforme idade e sexo da pessoa", diz.
Ela recomenda que seja feita uma avaliação mais ampla que inclui exame de medidas de prega cutânea, exame de bioimpedância ou o exame de dessintometria.
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A American Medical Association declara a obesidade uma doença. Isso porque está associada a problemas cardiovasculares, aumento da glicemia, que causa diabetes, e a osteoratrose, que afeta os joelhos. Segundo a médica, a cada quilograma que a pessoa ganha, o joelho sente cinco vezes mais, sobrecarregando sua capacidade.
Entre outros problemas de saúde estão a apineia do sono, a alta relação com câncer de útero, fígado, pâncreas e intestino, e a atla relação com Alzheimer, segundo a endocrinologista. A obesidade também causa síndrome do ovário policístico, irregularidade menstrual e maior secreção de hormônios masculinos entre as mulheres.
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De acordo com a médica, o processo de emagrecimento começa com o reconhecimento do paciente de que a obesidade é uma doença, que ele não tem culpa disso e que deve procurar ajuda.
"Sempre fui uma criança gordinha, mas foi o médico que diagnosticou: você está obeso", relembra Meneghim. "É muito difícil, você fica ansioso com o resultado. Quando os resultados começaram a aparecer, a motivação foi maior ainda", afirma.
A endocrinologista ressalta que é importante não desistir. "O resultado pode demorar a aparecer ou pode parecer estagnar, mas é importante não desistir. Não precisa chegar ao peso ideal, pode ser o sobrepeso, mas só de emagrecer, a saúde já apresentará melhora", afirma.
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A médica lista que, ao perder 2,5% do peso, a fertilidade já melhora. Ao perder 5%, a glicemia apresenta redução, e a perda de 16% do peso reduz a mortalidade.
Ela explica que dietas altamente restritivas não são a solução. "O ideal é fugir dessas dietas e de cortar certos tipos de alimento, pois, nesses casos, haverá deficiência de vitaminas", afirma.
A melhor solução, segundo ela, é adaptar a dieta aos hábitos do paciente, sem nenhum radicalismo e com pequenas mudanças para ter uma vida saúdavel. "O paciente até pode comer um doce, tomar refrigerante ou alimentos processados, mas o consumo não esporádico tem de ser exceção, e não regra", diz.
Foi o que fez Meneghim. "Os finais de semana são os mais difíceis, porque sempre tem alguma festa e, se a gente fala toda vez que só um não vai fazer mal, chega uma hora que faz", conta.
A médica afirma que a cada quilo perdido, o corpo responde pedindo pelo menos 100 calorias. Para driblar essa resposta fisiológica, ela recomenda a prática de atividades físicas, que ajuda a inibir essa necessidade, começar a alimentação com salada, pois ela ajuda a iniciar o processo de saciedade, fazer pratos volumosos com alimentos pouco calóricos e evitar ingerir líquidos durante a refeição, pois ele faz a pessoa sentir fome novamente mais rápido por ajudar a acelerar a digestão.
Ela frisa que cirurgia bariátrica não deve ser a primeira opção. "Ela deve ser utilizada como recurso recomendado por médico após dietas, exercícios e remédios não terem apresentado resultado", finaliza.
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