Sintoma clássico da varíola do macaco, bolhas na pele têm padrão diferente no surto atual
Especialista da OMS afirma que, em muitos casos, lesões cutâneas têm ficado restritas à região genital dos pacientes
Saúde|Do R7
O atual surto de varíola do macaco, que atinge principalmente a Europa, veio acompanhado de uma aparente mudança no padrão do principal sintoma da doença: as erupções na pele. A constatação foi revelada pela secretária de varíola do Programa de Emergências Sanitárias da OMS (Organização Mundial da Saúde), Rosamund Lewis, em uma transmissão ao vivo na internet.
Ela comparou os casos recentes aos observados até então em alguns países da África onde a doença é endêmica.
"Temos a imagem do passado, mas temos [agora] uma proporção maior de casos em que as erupções cutâneas podem começar mais localmente e permanecer mais locais, possivelmente por causa da natureza do contato. Estamos vendo mais casos em que as erupções cutâneas começam na região genital – o que não é novo, sempre houve – e com mais frequência tendem a permanecer nela."
A natureza do contato mencionada pela especialista é sexual, tendo em vista que a maioria dos infectados pode ter contraído o vírus durante relações sexuais.
Todavia, outro participante da mesa de conversa, o conselheiro do Programa de HIV, Hepatite e ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) da OMS, Andy Seale, ressaltou que a varíola do macaco "pode ser transmitida por contato sexual, mas não é uma doença sexualmente transmissível".
"Muitas doenças podem se espalhar por contato sexual. Você pode ter uma tosse ou um resfriado por meio de contato sexual, mas isso não significa que sejam doenças sexualmente transmissíveis. Tipicamente, você precisa de uma troca de fluidos vaginais ou sêmen, que têm um elemento de contágio para transmitir a doença [quando é sexualmente transmissível]."
Sintomas
Após entrar no organismo, o vírus tem um período de incubação que varia entre cinco e 21 dias. Quando a doença se instala, surgem alguns sintomas semelhantes a outras infecções virais, explica Rosamund.
"Alguns dos sintomas iniciais tendem a ser febre, dor de cabeça, letargia, dor nas costas. Isso geralmente dura um dia ou dois, nós chamamos de período prodrômico, então as erupções cutâneas começam."
Primeiro surgem as máculas, que são manchas vermelhas lisas. Posteriormente, aparecem as pápulas, que são elevadas e doloridas.
Elas são seguidas de vesículas, bolhas preenchidas com um líquido claro. A fase seguinte é de pústulas, em que as lesões são preenchidas com pus.
Depois disso, as lesões se tornam crostas, secam e desaparecem.
O período em que as lesões cutâneas ficam no corpo varia entre duas e quatro semanas. O contato com essas feridas é uma das fontes de transmissão do vírus.
Por essa razão, o paciente deve ficar isolado, não compartilhar roupas, toalhas nem roupas de cama.
Segundo Rosamund, "a progressão clássica" das lesões na pele é na ordem: rosto, membros, palmas das mãos e solas dos pés e o resto do corpo.
O fato de muitos pacientes do surto atual terem lesões restritas às áreas genitais também é objeto de investigação.
Outro sintoma clássico da varíola do macaco são linfonodos inchados. Esses gânglios ficam maiores quando o corpo luta contra uma infecção e podem ser perceptíveis no pescoço, embaixo dos braços e na virilha, por exemplo.
Em pessoas jovens e saudáveis, a varíola do macaco costuma ser uma doença sem grandes riscos – não houve mortes neste surto fora da África.
Todavia, a taxa de mortalidade observada na África, em alguns casos, chega a 10%, sobretudo entre crianças pequenas.
A OMS trata a questão como "incomum", pela grande maioria dos pacientes não ter histórico de viagem ao continente africano nem contato próximo com pessoas que viajaram para regiões onde a doença é endêmica.
A transmissão da varíola do macaco entre humanos não costuma ser algo tão eficiente como tem se demonstrado, o que acendeu um sinal de alerta entre as autoridades sanitárias.
O sequenciamento genômico do vírus vai dizer nas próximas semanas se houve alguma mutação.
Por se tratar de um vírus de DNA – diferente do coronavírus causador da Covid-19 e do influenza, que são de RNA –, ele tende a ser mais estável, o que faz especialistas não acreditarem tanto nessa hipótese.