Saúde Terapia evita danos do vírus da zika ao cérebro de fetos de ratos

Terapia evita danos do vírus da zika ao cérebro de fetos de ratos

Trabalho é o primeiro passo para estender estudo a humanos; gestantes podem transmitir doença a bebês e causar microcefalia

  • Saúde | Fernando Mellis, do R7

Brasil teve explosão de nascimentos de bebês com microcefalia causada por vírus da zika entre 2015 e 2017

Brasil teve explosão de nascimentos de bebês com microcefalia causada por vírus da zika entre 2015 e 2017

Bobby Fabisak/JC Imagem/Estadão Conteúdo - 9.3.2016

Um estudo conduzido por pesquisadores chineses traz esperança para evitar uma doença que já atingiu milhares de bebês no Brasil: a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus da zika, que é transmitida aos fetos por gestantes picadas pelo mosquito Aedes aegypti

Cientistas das universidades de Nanjing e Ningxia obtiveram resultados animadores com uma terapia de silenciamento de genes que foi capaz de proteger contra a transmissão do zika de camundongos para seus fetos. O artigo foi publicado nesta quarta-feira (10) na revista científica Molecular Therapy.

Eles utilizaram uma tecnologia de nanopartículas chamada sEVs (small extracellular vesicles, ou pequenas vesículas extracelulares, em portugês) para administrar drogas que cruzam a placenta e a barreira hematoencefálica, responsável pelo controle de toda a troca de substâncias entre o sistema nervoso central e o sangue do feto.

Uma vez dentro do organismo, os sEVs expressavam a glicoproteína do vírus da raiva (RVG) em sua superfície, além de carregar um pequeno pedaço de material genético (RNA) específico para o vírus da zika.

Tratar infecções virais no cérebro de fetos é um desafio justamente porque a barreira hematoencefálica bloqueia os medicamentos. Além disso, as poucas drogas que têm como alvo específico o tecido cerebral são altamente tóxicas.

“Medicamentos antivirais seguros e eficazes que podem efetivamente atravessar a barreira hematoencefálica e a barreira placentária são urgentemente necessários, especialmente para prevenir a microcefalia", salienta o autor sênior do estudo, o pesquisador Zhiwei Wu, da Universidade de Nanjing, em comunicado.

Mas nos camundongos o grupo liderado por Wu conseguiu reduzir os danos neurológicos fetais, incluindo o encolhimento cerebral causado pelo vírus.

A microcefalia é justamente uma das complicações mais preocupantes da infecção pelo zika em gestantes.

A malformação consiste em um tamanho reduzido para a idade gestacional, acompanhado de alterações no sistema nervoso central.

Entre 8 de novembro de 2015 e 5 de outubro de 2019, o Ministério da Saúde confirmou 3.474 casos de microcefalia possivelmente associados à infecção pelo vírus da zika.

Wu considera a técnica vantajosa para evitar a microcefalia e até outras doenças.

“Nossos experimentos indicaram que a entrega [de medicamentos] direcionada por meio de sEVs modificados é uma alternativa promissora em relação aos métodos tradicionais de entrega, especialmente para o tratamento de infecções virais no cérebro."

As descobertas ecoam outro estudo recente que mostra que os sEVs modificados por RVG podem cruzar a barreira hematoencefálica em camundongos para tratar manifestações da doença de Parkinson.

Apesar de resultados promissores, ainda restam muitas dúvidas acerca desse tipo de terapia para o tratamento da zika em gestantes.

Por exemplo, os pesquisadores administraram o vírus e a primeira dose da terapia simultaneamente. Então, não está claro se o tratamento após um intervalo de tempo também seria eficaz.

“Uma injeção atrasada após a infecção viral pode fornecer mais confiança na capacidade de traduzir essa pesquisa em testes em humanos. No entanto, nosso estudo fornece uma prova de conceito para tal possibilidade", salienta o autor. 

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