Vacinação em adolescentes já pode ser feita no país? Entenda
Ministério da Saúde afirma que aplicação na faixa etária está em discussão na Câmara Técnica, mas gestores locais têm autonomia
Saúde|Carla Canteras, do R7
Adolescentes entre 12 e 14 anos começaram a ser vacinados contra a covid-19, nesta quarta-feira (16), em Betim, Minas Gerais. A cidade mineira é a primeira do Brasil a imunizar essa faixa etária, mesmo com a orientação do PNI (Plano Nacional de Imunizações) de aplicar as doses somente em pessoas acima dos 18 anos.
Para o infectologista e pediatra Renato Kfouri, da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a decisão de antecipar doses para essa faixa etária é errada, já que os riscos de desenvolver a forma grave da doença são menores. "É um equívoco você vacinar primeiro adolescente. Não se vacina nenhum adolescente até que o último adulto esteja vacinado. Não têm questões de risco para priorizar adolescentes", explica o médico.
A decisão vai contra também à indicação da OMS (Organização Mundial da Saúde). O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom sugeriu que os países doassem as doses de vacinas ao países mais pobres em vez de aplicar em crianças e adolescentes, neste momento.
A cientista-chefe da organização, Soumya Swaminathan afirmou, ainda no começo das imunizações no mundo, que as crianças correm um risco muito menor de contrair a forma grave da covid-19. E lembrou que não há doses suficientes disponíveis no mundo para proteger as pessoas que correm mais riscos. "Proteja primeiro as pessoas mais expostas, porque queremos reduzir as taxas de letalidade. Depois, gradualmente vai por faixas etárias até chegar às crianças", disse ela.
Kfouri também alerta para a falta de informações sobre a segurança dos imunizantes em crianças e adolescentes. "Os eventos adversos precisam ser mais bem estudados nessa faixa etária. Porque um efeito tolerável nos adultos, pode ser inaceitável em crianças a adolescentes. Os efeitos podem não alterar a relação risco-benefício para adultos, mas o mesmo efeito, a mesma vacina pode ter uma relação de risco-benefício afetada nas pessoas mais novas", ressalta o infectologista.
No dia 11 de junho, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a aplicação da vacina Pfizer em pessoas acima dos 12 anos, baseado nos resultados de estudos feitos pela farmacêutica fora do país.
Pela pesquisa, a eficácia do fármaco entre adolescentes de 12 a 15 anos é de 100%. O estudo clínico foi feito com 2.260 voluntários. Um grupo recebeu placebo e 18 pessoas foram infectadas. O outro recebeu o imunizante e ninguém ficou doente.
A liberação da agência e os resultados apresentados pelo laboratório não levaram o Ministério da Saúde a liberar a imunização para pessoas dessa idade. Em comunicado, a assessoria de imprensa da pasta respondeu:
"O Ministério da Saúde informa que a ampliação da vacinação para adolescentes a partir dos 12 anos, com o imunizante da Pfizer, está em discussão na Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis. A pasta reforça que, neste momento, a prioridade é vacinar todos os grupos prioritários estipulados pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19 e imunizar toda a população acima de 18 anos. A orientação é para que estados e municípios sigam o que é recomendado pelo Ministério da Saúde. No entanto, os gestores locais do SUS [Sistema Único de Saúde] têm autonomia para seguir com a própria estratégia de vacinação."
O prefeito de Betim, Vittorio Medioli relacionou a antecipação à volta as aulas. "Depois de iniciarmos a vacinação dos professores, damos mais um passo no planejamento de retomada às aulas. Já perdemos o ano letivo de 2020 e temos que fazer um esforço para recuperar e não perdemos ainda este ano. Poderemos avaliar as condições de retomar com as aulas (ensino semipresencial) em agosto", disse o gestor.
Na América Latina, o Uruguai já aplica vacinas em jovens e adolescentes e a previsão é começar no Chile, a partir da próxima segunda-feira (21). Além dos vizinhos do Brasil, nos Estados Unidos, em Israel e alguns países europeus começaram imunização da faixa etária. Mas vale lembrar que em todos esses lugares a vacinação está mais adiantada do que aqui.