O café, um dos maiores fenômenos culturais e de consumo do mundo, vive um dilema constante nas manchetes: hora é tido como um poderoso protetor do coração e do fígado, hora como causador de ansiedade e aumento da pressão.
Mas, afinal, onde está a verdade sobre o líquido que vai muito além da simples cafeína? O cardiologista Gustavo Lenci Marques, professor de Medicina da PUCPR, detalha os complexos efeitos da bebida no organismo, alertando que ela não deve ser tratada nem como herói, nem como vilão.
Ação Multifacetada: O café contém centenas de compostos, como antioxidantes e substâncias que alteram o colesterol, o que significa que seus efeitos vão além do efeito de “despertar”.
Coração Ambíguo: No curto prazo, a cafeína pode subir a pressão arterial, mas a tolerância geralmente se desenvolve com o uso regular. Por outro lado, polifenóis parecem oferecer proteção cardiovascular. Uma ressalva importante é o modo de preparo: cafés sem filtro (como o de prensa francesa) contêm substâncias que podem aumentar o colesterol.
Aliado do Fígado? Estudos mostram que o café pode reduzir o risco de fibrose e cirrose, possivelmente devido a efeitos sobre a inflamação e o metabolismo das gorduras. O médico ressalta, contudo, que não há clareza se o benefício vem da cafeína, dos polifenóis ou de outros fatores.
Efeito no Cérebro: Há relações em pesquisas entre o café e menor risco de Parkinson e depressão, mas os dados não são definitivos. O certo é que o consumo em excesso ou fora de hora prejudica o sono, aumenta a ansiedade e pode gerar uma leve dependência.
Gestação Pede Cautela: A cafeína atravessa a placenta e o feto a metaboliza lentamente. Altas doses podem elevar o risco de baixo peso ao nascer e perda gestacional. Por isso, organismos internacionais limitam o consumo gestacional a, no máximo, o equivalente a duas xícaras por dia.
Metabolismo Individual: A forma como o café é processado varia muito de pessoa para pessoa, influenciada por genética, medicamentos e até tabagismo. É por isso que “alguns tomam café à noite e dormem tranquilos, enquanto outros ficam em claro com uma única xícara pela manhã”, conclui Marques.
O ponto de equilíbrio, segundo o cardiologista, é não usar o café como justificativa para exageros ou como “receita natural” para combater doenças. É, antes de tudo, um prazer que deve ser apreciado com consciência.
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