"Vou amar minha filha do jeito que ela vier", diz grávida de bebê com microcefalia
Brasil vive surto da má-formação, que pode estar relacionada ao zika vírus
Saúde|Marcella Franco, do R7

Em meio aos quase 800 casos de microcefalia detectados recentemente no Brasil, existem duas mulheres que aguardam ansiosas para ver os desdobramentos que a doença terá dentro de suas casas. Gestantes, elas receberam, por volta do sexto mês de gravidez, a notícia de que seus filhos eram portadores da má-formação que faz com que a criança nasça com o crânio menor do que o padrão para seu sexo e idade. Ambas darão à luz no começo de dezembro. Ambas, também, tiveram zika vírus nas primeiras semanas de gestação.
Embora não tenha ainda havido uma confirmação de que as bolinhas vermelhas que, em maio, tomaram conta do corpo de Nadia Prichoan, 36 anos, fossem de fato por causa da doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti, os sintomas que a bancária relata correspondem exatamente àqueles clássicos do zika: manchas, coceira, estado febril.
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Moradora de Brasília, ela espera o primeiro filho, Rafael — a cesárea está marcada para o próximo dia 5. Segundo seu obstetra, o bebê deve nascer e ir direto para a UTI, a fim de que se investigue definitivamente o que levou à microcefalia.
Nadia descobriu, em 2008, que é portadora de espondilite anquilosante, uma espécie de reumatismo que, em épocas de crises, a deixa tão debilitada que até mesmo caminhar fica difícil. Por conta disso, ela e o marido Alex não pensavam em ter filhos. Uma cirurgia de vasectomia foi providenciada e, um mês depois da operação, Nadia descobriu a gravidez.
— O Rafael veio de teimoso mesmo (risos). Não tínhamos plano, justamente porque minha doença não tem cura. Achei que ele surgir deste modo foi uma experiência bem forte. Minha família está nos apoiando muito. Estamos aguardando-o com muito amor, preparados para enfrentar o que for.
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E o que pode vir a partir do nascimento de Rafael, seu desenvolvimento e qualidade de vida, nada disso pode ser estimado pelos médicos. Nadia conta que, em seu último exame, foi recomendado que o casal se preparasse “para o pior”.
Angústia semelhante vive Eliane*, 25 anos, moradora de Salvador, na Bahia, e que espera sua primeira filha. Para ela, o diagnóstico veio na 27ª semana de gestação.
Seu médico sugeriu que fosse feito o exame de amniocentese, quando, com a ajuda de uma agulha, é retirado um pouco de líquido amniótico para análise. No entanto, ela preferiu aguardar o nascimento da menina, para, então, pesquisar a causa da microcefalia.
— Tive zika vírus na sétima semana. Cheguei em casa me sentindo mal, com cansaço, dor nas articulações. Fiz a sorologia de dengue e nunca me deram o resultado, então acabei tomando apenas soro. Não havia a certeza, mas os médicos disseram que as manchinhas que eu tinha era um sintoma. Ainda acrescentaram que eu não deveria me preocupar, porque era algo normal, que ia embora mais rápido que a dengue.
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O parto de Eliane está marcado para o dia 15 de dezembro. A pedido do obstetra, será feita uma cesárea, já que a compressão causada em um parto normal poderia agravar ainda mais o quadro de microcefalia da criança.
— Quando descobri, caí no choro, meu marido tentou me acalmar. Fico muito insegura em relação ao amanhã. Não sei como vai ser a vida dela na escolinha, sua vida social, se ela vai se desenvolver normalmente ou ter limitações. Se vai falar e brincar. Os médicos não dão uma previsão de como vai ser, porque cada bebê reage de uma forma diferente. Algumas crianças, inclusive, estão indo a óbito assim que nascem. Estamos com tudo arrumado como se nada tivesse acontecido. Ela já é muito querida por toda a família, e eu vou amar minha filha do jeito que ela vier.
*A pedido da entrevistada, seu nome foi trocado, para preservar sua identidade















