Carta pública de Elon Musk e cientistas sobre pausa na inteligência artificial gera debate
Os signatários do documento acreditam ser necessário um intervalo de seis meses nas pesquisas e desenvolvimento da IA
Tecnologia e Ciência|Do R7
A carta pública assinada pelo bilionário Elon Musk e por centenas de especialistas para interromper o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) provocou um debate entre acadêmicos nas redes nesta quinta-feira (30).
Os vertiginosos avanços da IA levaram Musk, fundador da gigante dos carros elétricos Tesla e atual dono do Twitter, a assinar essa carta, diante do que ele chama de "dramática perturbação econômica e política (especialmente para a democracia) que a IA causará".
Apesar de a carta, publicada no site futureoflife.org, ter sido assinada por pensadores independentes, como o historiador Yuval Noah Hariri, ou o cofundador da Apple, Steve Wozniak, alguns acadêmicos protestam contra o que consideram uma má interpretação da discussão.
Timnit Gebru, uma pesquisadora especializada em ética da Inteligência Artificial, escreveu um artigo acadêmico que foi citado na carta e manifestou sua insatisfação com o uso que se fez do texto.
“Eles basicamente dizem o contrário do que dissemos e citamos em nosso artigo”, critica ela. A outra autora do artigo, Emily Bender, descreve a carta aberta como uma "confusão".
“Nos últimos meses, vimos laboratórios de IA se lançarem em uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar cérebros digitais cada vez mais poderosos que ninguém, nem mesmo seus criadores, pode entender, prever, ou controlar com segurança”, dizem Musk e os especialistas.
O diretor da Open AI, que projetou o ChatGPT, Sam Altman, admitiu que tem "um pouco de medo" de que seu algoritmo seja usado para "desinformação em larga escala, ou para ciberataques".
As acadêmicas Gebru e Bender afirmam, no entanto, que o perigo da IA é "a concentração de poder nas mãos de pessoas, a reprodução de sistemas de opressão, o dano ao ecossistema da informação".
Um dos signatários da carta aberta, Emad Mostaque, fundador da empresa britânica Stability AI, afirmou se retratar da demanda de uma moratória de seis meses: "Não acho que um hiato de seis meses seja a melhor ideia", disse ele no Twitter.
Sem contradições
O professor de psicologia Gary Marcus, signatário da carta, considera em uma contrarresposta que "os céticos devem emitir um alarme; não há contradição a esse respeito".
Embora gigantes da indústria como Google, Meta e Microsoft tenham passado anos pesquisando programas baseados em IA para acelerar tarefas como tradução, ou publicidade direcionada, foram os algoritmos de empresas como a OpenAI que causaram controvérsia.
Seu robô conversacional ChatGPT, capaz de realizar conversas complexas com humanos, acaba de ser atualizado com uma nova versão, GPT-4, ainda mais potente.
"Devemos permitir que as máquinas inundem nossos canais de informação com propaganda e mentiras? Devemos automatizar todos os trabalhos, incluindo os gratificantes? Devemos nos arriscar a perder o controle da nossa civilização? Essas decisões não devem ser delegadas a líderes tecnológicos não eleitos", dizem os signatários da carta.