Dia das Mulheres e Meninas na Ciência: desafios, projetos e caminhos de como entrar na área
Data é celebrada em 11 de fevereiro e foi estabelecida pela ONU em 2015 para promover o combate às desigualdades de gênero
Tecnologia e Ciência|Letícia Sepúlveda, do R7
Nesta sexta-feira (11) é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas da Ciência. A data foi estabelecida pela Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2015 com o objetivo de promover o combate às desigualdades de gênero e constitui uma oportunidade para a promoção do acesso à ciência.
No Brasil, meninas e mulheres ainda encontram muitas dificuldades para se tornarem cientistas. Além da falta de incentivo no âmbito educacional, elas ainda esbarram em questões estruturais que desestimulam sua entrada na carreira.
A professora Carolina Brito, do Instituto de Física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), conta que um grande desestímulo ocorreu antes de entrar na faculdade. “Um professor do departamento de astronomia disse que o curso era muito difícil e que eu deveria repensar a escolha".
“Depois, já na faculdade, ele se surpreendeu quando me reencontrou e soube que eu já iria para o segundo ano da faculdade. Isso me chocou, ele não sabia nada sobre mim a não ser o fato de eu ser mulher. Depois disso, não quis segui na área astronômica”, completa.
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Hoje a professora faz parte do projeto “Meninas na Ciência” da UFRGS, que existe desde 2013 com o objetivo principal de criar ações capazes de atrair meninas para as carreiras de Ciências Exatas e Tecnológicas.
De acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2019, entre 100 brasileiros com 25 à 34 anos, apenas 1 mulher era formada em áreas das ciências, tecnologia, engenharia e matemática.
A ciberexposição "Tecendo Redes" do projeto “Meninas na Ciência” aponta que uma das razões para que poucas mulheres busquem carreiras científicas se relaciona com os estereótipos de gênero, que criam a ideia de que existem “carreiras para mulheres e outras para homens”.
“A gente se deu conta que os estereótipos agem de forma muito forte, inclusive desde os brinquedos que se diferenciam entre meninos e meninas na infância. Muitos estudos mostram que as meninas perdem a autoestima ainda muito jovens”, aponta Brito.
Em quase 10 anos de existência, o projeto promove palestras em escolas, rodas de conversa e leva estudantes para conhecer a Universidade. Durante sua existência, a ação também se deparou com questões socioeconômicas.
“Mais de uma vez, em um grupo de 40 meninas, nenhuma delas conhecia alguém que tivesse chegado ao ensino superior. Existem muitas desigualdades, não podemos ser ingênuos e acreditar que todo mundo parte do mesmo ponto, e que se uma pessoa conseguiu, todas podem conseguir.”
A primeira em 55 anos
A professora Débora Peres Menezes, do Departamento de Física da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), se tornou em 2021 a primeira mulher eleita presidente da SBF (Sociedade Brasileira de Física), criada em 1966.
“Quando assumi o cargo, quis deixar o recado de que as mulheres podem ser físicas e podem também ter cargos de direção em sociedades científicas. Quando formamos a chapa, eu tive a preocupação de colocar mais mulheres e de deixar a equipe mais diversa", conta a professora.
"Também pretendemos que um percentual mínimo de mulheres seja chamado para os eventos da SBF, isso faz com que a gente dê visibilidade para muitas delas."
A especialista também conta que, durante a faculdade de física, era uma entre as poucas alunas na sala de aula e que enfrentou o machismo muitas vezes na profissão.
"Esse preconceito foi gritante na minha vida quando fui fazer doutorado na Inglaterra, na Universidade de Oxford. Houve um estranhamento por eu ser jovem e já ser casada. Os professores me perguntavam quantos filhos eu queria ter, parecia que eles não achavam possível eu conciliar minha vida familiar com a minha carreira", explica.
Atualmente, a professora perceber que mais meninas estão buscando cursos na área da ciência, mas ainda há muito a ser feito. "Falta estímulo e divulgação de como é a carreira científica, para que se sintam interessadas, por que capazes elas são."
Os caminhos da ciência
Apesar dos vários obstáculos, muitas mulheres e meninas seguem o sonho de se tornar cientistas. Para a professora Carolina Brito, a sororidade pode ser uma grande aliada. "Acho que as alunas podem encontrar outras meninas e formar grupos para discutir as questões de gênero e para estudarem juntas também."
Ela ainda ressalta os cursos fora do Brasil como ótimas oportunidades para abrir caminhos para a ciência. "Existem muitos institutos no mundo que oferecem bolsas integrais, isso pode ser encontrado por meio de professores e até mesmo pela internet."
"Além disso, as alunas podem se aproximar de professores e professoras que incentivam seus estudos. A questão da representatividade também é muito importante quando encontram professoras que se identificam", conclui.
A professora Débora Menezes procura promover a inclusão em um canal no YouTube chamado "Meninas na Ciência", que agora também tem uma conta no Tik Tok.
"A internet nos ajuda a encontrar uma maneira para que o recado chegue a muitas adolescentes. (...) também acho acho que é preciso continuar estudando, e as alunas podem procurar as universidades que oferecem apoio e professores que incentivam suas escolhas."
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