Empreendedor cria serviço de hospedagem após sofrer racismo
Plataforma conecta turistas e anfitriões que buscam representatividade e ainda divulga roteiros pouco explorados da história negra no país
Tecnologia e Ciência|Pablo Marques, do R7
Experiências ruins ao abrir a casa para receber hóspedes do mundo todo levou o empresáio Carlos Humberto da Silva Filho a pensar em um negócio próprio, o Diaspora.Black.
Quando morava em Santa Teresa, bairro turístico do Rio de Janeiro, Carlos sabia que seus hóspedes fariam três perguntas: "Você é o Carlos?", "A casa é sua?" e "Qual a sua profissão?".
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Os questionamentos em tom de surpresa demonstravam o preconceito que as pessoas tinham ao se deparar com um anfitrião negro em um site de hospedagem compartilhada.
Acostumado com a casa cheia desde a infância, Carlos recebia todos com comidas típicas e boas sugestões de turismo pela cidade. Um dia, quando saiu para comprar coxinhas e tapiocas para presentear a pessoa com quem dividiria o apartamento por alguns dias, se deparou com um bilhete na porta: "não era exatamente o que eu esperava".
As situações constragedoras e a vontade de trabalhar com algo que acreditava serviram como motivação para criar um novo negócio. A plataforma de turismo é voltada para conectar hóspedes e anfitriões negros com a intenção de atender bem e sem preconceito.
"Eu não posso pagar por um serviço que me discrimina. A Diaspora.Black surge por essa necessidade de quase 110 milhões de brasileiros que não tem no turismo serviços e produtos de representatividade", afirma Carlos, após apresentar seu modelo de negócio no palco principal da 12ª edição da Campus Party.
O fundador e CEO da empresa defende o turismo como uma ponte de conhecimento e uma troca para a população negra. Além de ser uma plataforma de hospedagem, o serviço também oferece pacotes turísticos sobre a cultura.
"O legado da população negra para o Brasil está associado a arquitetura, gastronomia e música. Tudo isso tem muito a contribuir para o turismo e para a economia no país", diz.
O famoso bairro da Liberdade, em São Paulo, por exemplo, é conhecido por concentrar a população japonesa, mas também abriga a história dos negros no centro da capital paulista. O passeio "Caminhada São Paulo Negra" passa por locais históricos da resistência.
Carlos ressalta que o serviço não é exclusivo para negros. Qualquer pessoa pode se cadastrar para receber ou ser recebido em mais de 100 cidades, espalhadas por 18 países.
"A nossa plataforma convida pessoas que podem receber todos com qualidade. Nós entregamos a segurança que o cliente não passará por situações de constrangimento, racismo ou preconceito".
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