Facebook segue exemplo do Google e investe em negócios promissores para se manter na ponta
Aplicativos, drones e realidade virtual: especialistas comentam "impérios" das duas gigantes
Tecnologia e Ciência|Tiago Alcantara, do R7
O começo de 2014 tem sido bastante agitado na sede do Facebook, em Menlo Park, Califórnia (EUA): a companhia dona da rede social mais acessada no mundo gastou bilhões de dólares nas aquisições do mensageiro WhatsApp e da Oculus VR – empresa de realidade aumentada dona do Oculus Rift.
Agora, a companhia de Mark Zuckerberg tem planos ousados para aumentar a sua já gigante base de usuários. A rede social deve investir em uma frota de drones movidos por energia solar para conectar os dois terços do mundo que não tem acesso à internet. Em compras anteriores, a empresa já havia desembolsado US$ 1 bilhão para comprar o Instagram em 2012.
Construindo os negócios do futuro
Nessa expansão, o Facebook deve entrar em rota de colisão com outro gigante da internet, o Google. Falando em aquisições e expansão de portfólio, o Google também conta com centros de pesquisa avançados, responsável por produtos que parecem ter saído da ficção científica, como o Google Glass e até um carro que se dirige sozinho.
Aliás, a gigante das buscas já está na frente da rede social quando a ideia é “sair do mundo virtual”. A tentativa de lançamento de um Facebook Phone, em parceria com a HTC não deu muito certo. Por outro lado, o Google já teve sucesso no lançamento de produtos de sua linha Nexus, além de oferecer um serviço de banda larga nos Estados Unidos – sem falar no Android, que é o sistema operacional de grande parte dos smartphones atualmente. Outro produto da companhia, o Glass é aguardado ansiosamente pelos entusiastas de tecnologia.
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Dez invenções do Google que mudaram o mundo
Com tantas fusões e aquisições das duas companhias fica cada vez mais difícil acessar a internet sem passar por nenhuma solução de Facebook ou Google. De acordo com o analista do grupo Gartner Brian Blau, a estratégia de fusão com outras empresas poupa um bom tempo de gigantes tecnológicas em pesquisas de áreas que não estão exatamente ligadas aos negócios de Google e Facebook. Blau ainda explica que a Oculus era um "bom alvo" no mercado de tecnologia.
— Para ser honesto, é difícil justificar [a compra] . É bem possível que o Facebook queira a Oculus como um investimento em um uma área que tem potencial no futuro. A realidade virtual já está por aí há um bom tempo, mas não tem sido muito bem-sucedida. É por isso que a Oculus se destaca, porque ela pode ter sucesso em um mercado sem uma grande oferta de produtos. Além disso, ela é interessante por ser uma empresa independente. O que é bastante atrativo para os desenvolvedores de jogos. Não tenho certeza sobre os planos do Facebook para a Oculus, como vão tentar monetizar o produto. E isso faz com que eu acredite que mesmo o Facebook ainda não sabe o que fazer com essa aquisição.
Um "filhote" de Google
Quanto maior o Facebook ficar, como empresa, maiores serão seus planos para o futuro - e boa parte deles dizem respeito a alcançar mais consumidores de formas diferentes, além de criar novos negócios e mercados para o futuro. Entretanto, Blau é categórico ao afirmar que, apesar dos novos investimentos do Facebook em áreas não relacionadas com seu principal produto, a rede social ainda está distante de "duelar" com o Google em número de empregados, áreas de pesquisa e até mesmo receita.
O buscador, por exemplo, comprou empresas de mapas há vários anos e usou essa tecnologia para mapear negócios, criar o Street View e, atualmente, complementou essa ação comprando o aplicativo Waze. Sem falar do fato de que todas essas informações devem ser incorporadas ao banco de dados do carro que se dirige sozinho que ainda está sendo desenvolvido pela empresa.
— O Facebook vai chegar lá um dia, mas o Google já está nesse patamar hoje. De fato, virtualmente, todos na internet usam o Google. É muito popular em todo mundo, com a ferramenta de busca e com o Android. Então, eles se conectam com muito mais pessoas e estão em um momento mais maduro do que companhias menores. Quando você olha para as inovações deles e atividades, eles vão conseguir ir ainda mais longe no futuro. O Google comprou várias outras companhias para melhorar seus produtos ou por seus talentos. E acredito que eles vão continuar a fazer isso. Companhias como o Google se movem em uma direção horizontal, o que significa que eles vão inventar ou adquirir novas tecnologias, que complementem o seu negócio principal. E nesse caso, o negócio principal do Google é informação.
Mesmo ainda não estando no "patamar Google", o Facebook tem um caminho promissor pela frente. E isso pode até mesmo ajudar o desenvolvimento do mercado de realidade aumentada e impulsionar a indústria dos games para um novo nível. Palavras de Nolan Bushnell, um dos empresários que já revolucionou essa mesma indústria ao criar a Atari, nos anos 70 do século passado.
— O lado positivo é que o Facebook deve injetar um bom dinheiro em pesquisas nessa área. Além disso, fazer parte de uma grande companhia pode ajudar a negociar com outras grandes empresas. Coisa que uma startup não teria acesso.
Além de investir nos mercados do futuro, trazer a inovação para dentro de casa é uma ótima estratégia para não ficar para trás. O professor de Mídias Sociais da Panteion University e criador do aplicativo Taxibeat, Nikos Drandakis, aponta que as compras do Facebook podem fazer com que a companhia se mantenha como uma empresa de ponta por mais tempo.
— Acho que os rapazes do Facebook são bastante inteligentes. Eles não sofrem do dilema da inovação. Eles não deixam que a inovação os atropele. Eles estão comprando “as novas grandes coisas”, compraram o Instagram, WhatsApp e agora a Oculus VR. Eles são espertos, sabem o que vem a seguir e estão prontos para gastar bilhões e comprar as novas tendências.
E a tal dominação mundial?
Com a expansão cada vez mais horizontal de grandes empresas de tecnologia, fica a dúvida: será que Facebook e Google tem mesmo potencial para dominar o mundo? O grego Nikos Drandakis comenta que essa pergunta não é nova.
— Talvez, você nunca sabe. Estou nesse negócio de internet desde 1996 e já existia essa mesma discussão. Só que, naquela época, diziam que o Yahoo ia conquistar todo o mundo. Diziam a mesma coisa sobre Yahoo e sobre o MySpace, que também era bem grande na época. Agora dizemos a mesma coisa sobre o Facebook, mesmo que ele seja bem maior do que os outros. Mas, ainda sim, há o Twitter. Então, as pessoas têm alternativas.
Então, temos que ter mais medo do Google? A resposta de Brian Blau é a seguinte:
— Sim, claro! Nós temos que estar bastante preocupados com os nossos provedores de tecnologia. Eles têm mais informações sobre nós do que queremos que eles saibam e têm mais controle sobre nossos dados do que gostaríamos de dar a eles. Google, Facebook, Microsoft, Yahoo, Amazon e a lista vai longe... E só podemos ter esperança de que elas estejam respeitando nossa privacidade e, no futuro, esperamos que elas invistam em mais tecnologia que nos permita conseguir mais valor dos dados que estamos dando a eles.