Fungo do uísque deixa condado sob crosta escura após expansão de destilaria famosa
O micro-organismo se alimenta dos vapores de álcool que saem dos barris da fabricante de bebidas Jack Daniel's, em Lincoln, no Tennessee (EUA)
Tecnologia e Ciência|Do R7
Um espectro ronda o condado de Lincoln, no Tennessee (EUA), e não se trata de nenhuma ideologia, mas sim de um fungo. Há meses, moradores locais têm reclamado de uma fuligem grossa, escura e pilosa sobre casas, móveis, carros, placas de trânsito e árvores. Obra do micro-organismo conhecido como Baudoinia compniacensis, que se alimenta dos vapores de álcool expelidos pelos barris usados para envelhecer o famoso uísque Jack Daniel's.
De acordo com o jornal New York Times, a famosa fabricante de bebidas construiu seis novos armazéns na região — e um sétimo têm previsão de entrar no ciclo produtivo em breve. Em novembro, uma representante da empresa, identificada como Donna Willis, informou às autoridades do condado que um total de 14 armazéns geraria 1 milhão de dólares anuais (o equivalente a R$ 5.244.600, na cotação atual) aos cofres públicos, por meio do pagamento de impostos prediais.
Falta combinar com a população, que está extremamente insatisfeita com a expansão da marca. Afinal, mais produção, mais fungos. A moradora Christi Long, por exemplo, conseguiu impedir, na Justiça, a construção de um novo armázem próximo à casa onde vive, com medo de que a área fique "preta como carvão". "É simplesmente nojento", reportou ela ao NY Times.
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A ideia é que a fabricante obtenha as licenças necessária para operar, além de instalar filtros que impeçam a proliferação fúngica. No entanto, Melvin Keebler, gerente geral da Jack Daniel's, garantiu em um comunicado à imprensa que a empresa "cumpre todos os regulamentos locais, estaduais e federais relativos ao projeto, construção e licenciamento de barris [o mesmo que armazéns]".
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Numa reunião em novembro com representantes do condado, a fabricante também apresentou estudos que mostram que o fungo em questão não é prejudicial à saúde humana nem capaz de causar danos ao equipamento público. "Pode ser um incômodo?", questionou Donna Willis. "Sim, claro, e pode ser facilmente remediado, lavando-o", pontuou. Ela também diz que a instalação de filtros de ar pode interferir no sabor do uísque.
Segundo o NY Times, a ligação entre o Baudoinia compniacensis e a produção alcoólica tem sido observada desde a década de 1870, quando o diretor da Associação dos Destiladores Franceses, Antonin Baudoin, jogou luz sobre o que classificou como "praga de fuligem", que escurecia as paredes das destilarias em Cognac, na França.
James A. Scott, professor da Universidade de Toronto, estuda essa espécie de fungo desde 2001. Ele também afirma não conhecer nenhum efeito nocivo provocado pelo micro-organismo em humanos. Mas disse que ele pode, sim, destruir propriedades, pelo fato de se agarrar a quase qualquer superfície: "O fungo é bastante destrutivo, e a única maneira de detê-lo é desligar o fornecimento de álcool", escreveu o especialista num email ao jornal.
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